No futuro, os historiadores serão por certo severos em relação ao papel desempenhado pela Economia nos acontecimentos que estamos a viver.
Refiro-me não à Economia no seu melhor, plural e aberta ao debate e à reflexão crítica, mas à Economia monolítica que se separou da ética e da política para se transformar numa “ciência dos meios” ao serviço de finalidades que são tomadas como inevitáveis e, por isso, não são discutidas. Refiro-me à Economia que para ser “ciência” se tornou afinal uma aritmética desumana, cujos teoremas tendem a favorecer invariavelmente políticas convenientes a minorias privilegiadas.
Os historiadores analisarão em detalhe esta estranha “ciência”. Olharão para a inverosímil “teoria dos mercados eficientes” nascida em Chicago nos anos 60 do século passado para servir de fundamento à Nova Arquitectura Financeira – desregulada e tóxica - que levou o mundo à beira do abismo; deter-se-ão nas utopias do fim da história e da geografia e na liberdade dos capitais sem contrapartida na liberdade das pessoas; espantar-se-ão com a insistência nas terapias de austeridade como solução em contextos recessivos e verificarão que essas terapias aprofundaram a crise no preciso momento em que ela dava sinais de abrandamento. Falarão, em suma, da estranha sobrevivência de teorias estranhas, contra todas as evidências, e da responsabilidade das ideias preconceituosas na produção de acontecimentos adversos.
Se tivermos sorte, os historiadores do futuro reservarão uma nota de pé de página para os economistas e outros cientistas sociais que antes e depois destes acontecimentos exprimiram a sua divergência com esta Economia e que procuraram, muitas vezes sem sucesso, preservar o pluralismo e as condições de debate quer na academia quer no espaço público; que defenderam e praticaram uma ciência económica aberta tanto à consideração das finalidades e valores que vale a pena prosseguir quanto à descoberta dos melhores meios para os realizar.
Excerto da intervenção do José Maria Castro Caldas na abertura da Conferência Economia com Futuro. Foi publicada, em versão alargada, no Le Monde diplomatique - edição portuguesa deste mês.
Fala ,Fala,Fala difícil,colocando o diálogo imperceptível para a maioria,que não é letrada!A questão é,para manter a economia de esquerda e o trabalho organizado ,quantos milhões tem custado? Onde é que a Europa e os países industrializados encontravam mais valia para manter o nível de vida,trabalhando pouco e ganhando muito em relação aos países asiáticos? América do sul etc?
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