domingo, 9 de outubro de 2011

Quem paga é quem manda?

Razões para querer renegociar com os credores, incluindo o FMI, a UE e o BCE, não faltam, a começar pelo facto de as condições do empréstimo estarem a aprofundar uma recessão ao fundo da qual só se vê a insolvência e o declínio.

Os banqueiros portugueses também querem renegociar com os credores, mas o que os preocupa não é tanto o mal que as condições dos credores nos fazem, mas o incomodo que uma dessas condições lhes provoca.

Os banqueiros não querem capitalizar os bancos com os 13 mil milhões do empréstimo da troika. Não o querem aparentemente por duas razões: 1) Porque o aumento do capital obrigaria a dividir os dividendos por mais acções e eles accionistas passariam a receber uma quota parte menor; 2) Porque o Estado passaria a poder meter o bedelho nos seus negócios.

Na realidade parece-me haver uma terceira razão mais importante: 3) porque receiam perder o controlo accionista aquando de uma futura reprivatização da parte adquirida pelo Estado.

Receiam e receiam com fundamento. Na realidade, o ministério das finanças trocou a doutrina cavaquista da preservação dos centros de decisão nacionais por uma tese cosmopolita de abertura ao exterior dos sectores anteriormente abrigados de tentativas externas de tomada de controlo. O ministério das finanças, transformado em agência do BCE, comprou desta forma uma guerra com os “donos de Portugal” cujas consequências foi ingenuamente incapaz de antecipar.

A “guerra” está em curso. O Presidente Cavaco Silva e o omnipresente Director Europeu do FMI, António Borges, vieram em defesa da banca. O que pensa o CDS? Sobreviverá o Ministro das Finanças?

Na realidade, para o português que não é dono de bancos esta guerra importa pouco. Importa sim que existam bancos que financiem a economia em vez de andar a distribuir dividendos quando na realidade já teriam falido se não fosse o apoio do Estado e do BCE. Para que isto possa acontecer é bem provável que tenham de ser recapitalizados com o dinheiro de todos nós. No entanto, essa operação, não pode ser mais uma dádiva a ricos nem mais um prémio a infractores. Só não o será se significar o controlo público da actividade bancária, o que na realidade constitui o reconhecimento formal de uma realidade: a natureza inevitavelmente pública da actividade bancária.

Quem “paga é quem manda” já ouvir dizer e nenhum banqueiro desmentiu. Pois bem, quem paga no caso de uma recapitalização dos bancos somos nós, não é a troika.

3 comentários:

  1. Pagamos, mandamos: um bom slogan para o 15 de Outubro.

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  2. O roubo dos sagrados patriotas portugueses!

    Burguesia portuguesa paga impostos na Holanda, onde têm as sedes...

    O economista Eugénio Rosa lembra que quase todos os maiores grupos cotados na Bolsa de Lisboa criaram empresas na Holanda, Luxemburgo e em paraísos fiscais "que utilizam para reduzir o volume de impostos pagos em Portugal". "Um exemplo: quando a Sonae lançou a OPA sobre a PT fê-lo a partir de uma empresa que possui na Holanda para não pagar imposto de selo em Portugal".


    Um comentário muito correcto

    A maçada, meu caro, é assistir ao discurso pseudo-patriota de Cavaco, Belmiro ou o Alexandre Soares (do Pingo-Doce) a pedir aos portugueses para gastarem os seus tostões a comprar produtos nacionais enquanto vemos estes patriotas de pacotilha a porem os seus milhões em bom recato, seja através do expediente de deslocarem as sedes para a Holanda ou outros paraísos fiscais, seja pelo depósito directo de muitos milhões em contas caladas na Suíça. Fenómeno idêntico se passou na Grécia e esse foi o golpe último e fatal na economia e finanças da Grécia; Aqui vamos pelo mesmo caminho. Renovo o apelo de outro comentário: Publiquem os nomes dessas empresas.

    http://economia.publico.pt/Noticia/holanda-recebeu-mais-de-80-do-investimento-directo-de-portugal-1515627


    Metam inho entre as pernas, a viola no saco

    resignem-se

    desistam

    denunciem os pretos, os árabes os ciganos como os culpados...

    Denunciem os trabalhadores que comem bifes a mais ,

    que têm escola em demasia

    que têm cuidados de saúde em demasia e
    por causa dessas mordomias é que Portugal está a um passo da falência

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  3. Bem observado! Quem paga é quem manda e mais nada.

    Os bancos querem aparecer perante a opinião pública como os “sacrificados”, que, segundo eles, queriam apenas receber o seu - as dívidas contraídas pelas empresas públicas. Assim, já não precisavam de recorrer ao fundo dos 13 mil milhões, com todas as “dificuldades” daí decorrentes. Que empresas públicas e em que condições foram gerados tais empréstimos é assunto que nos levaria longe. Esmiuçar os acordos das PPPs seria um bom começo. Quem não o quer?

    Enfim, é evidente que só nos querem dar a missa a metade. Foram e são salvos pelo Estado, como é dito no postal; é também o Estado que garante a almofada de 100 000 € a cada depositante (bem, a não ser que haja um “terramoto”, de muito pouco valerá tamanha resma de notas).

    Por fim, é curioso que Cavaco e Borges se mostrem tão “nacionais” e protectores nesta coisa da banca.

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