Na sua comunicação ao país, Passos Coelho não concretizou, de forma detalhada, os números que sustentam o desvio nas contas públicas, a partir do qual alavancou o reforço criminoso das medidas de austeridade para 2012. Tal não o impediu, contudo, de ser lesto na atribuição de culpas, responsabilizando o anterior governo pela derrapagem da execução orçamental nos primeiros seis meses do ano.
Mas o João Galamba já fez as contas (clicar na imagem para ampliar). O desvio não é de 3 mil milhões de euros (como referiu o primeiro-ministro), mas sim de 1,6 mil milhões de euros, valor que é composto pelos 600 milhões do buraco da Madeira, 600 milhões de receitas não fiscais (cuja colecta poderá ainda verificar-se em 2011), equivalendo os restantes 400 milhões a dotação provisional (isto é, a um valor que está cabimentado para fazer face a despesas imprevistas ou receitas não colectadas). E Bruxelas acaba igualmente de desmentir Passos Coelho, ao esclarecer que o desvio verificado se deve à «dívida oculta da Madeira» e ao «arrefecimento da economia europeia», recomendando aliás ao governo uma «austeridade inteligente», que não prejudique o crescimento.
Sobre isto, três notas: a) O insistente mantra da direita sobre a ineficiência e a indolência do Estado, que subjaz à tese da suposta derrapagem orçamental no primeiro semestre, não colhe; b) O violento reforço das medidas de austeridade para 2012 não tem, à luz dos dados, qualquer justificação. É pura violência gratuita e irresponsável; c) Submisso e inconsciente, o governo revela-se mais troikista que a troika (ao ponto de a própria Comissão Europeia sentir necessidade de alertar para os riscos de uma austeridade sanguinária, feita à bruta).
Grande post, simples e eficaz!
ResponderEliminarGrande parte de nós sabia muito bem que esta gente não estava preparada ( ao contrário do que faziam crer ) para assumir o governo, mas infelizmente a maioria embandeirou em arco e agora?!
ResponderEliminarLevamos com eles até ao caos ou temos força suficiente para mudar de rumo?!
boas notícias para os sádicos e para os masoquistas, agora que uns e outros sabem que o sacrifício é pelo puro prazer da dor.
ResponderEliminarBem demonstrada a pantomina e a habilidade do governo de Passos Coelho.
ResponderEliminarAdivinhava-se. A história começa com um “desvio colossal”, passa pela “surpresa” do buraco da Madeira (passado despercebido a toda a gente e à “competente” Troika!), aterra finalmente num previsível “afinal a recessão é mais de 2%”.
O sonho do Estado mínimo está em marcha (mínimo, mas sempre a cobrar impostos, claro). A oportunidade para rebentar de vez com o serviço público, em vez de melhorar a sua qualidade e eficiência, surgiu. A política da escravidão – aumento das horas de trabalho, corte de subsídios de férias – faz a alegria do patronato. Os cães já começaram a salivar.
Esse João Galamba é cá uma autoridade...
ResponderEliminarAliás veja-se:
ResponderEliminarhttp://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentid=3D7F61C0-D394-487D-B9AE-44C05EF30E30&channelid=00000181-0000-0000-0000-000000000181