quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Entre o quê?


O resultado da orientação do Orçamento será passar da recessão à depressão e multiplicar o desemprego e a penúria. Ele não inverte o caminho da recessão, é a antecâmara do desastre grego.

Octávio Teixeira

Afinal, Portugal não é a Grécia. É o Chile. De há 30 anos. Não vamos apenas recuar no rendimento per capita, mas também na História, na integração europeia e, seguramente, na qualidade da democracia. Em prol de quê? - Em prol de uma fé. E a troco de quê? - A troco de uma mão cheia de nada.

Pedro Lains

Entretanto, também no Negócios, Helena Garrido contrasta com o realismo destes distintos economistas ao alinhar com o governo na ideia de que os ajustamentos patrocinados pelo FMI têm sido em geral bem sucedidos. Que estudos suportam esta tese bizarra? Falar do exemplo de Portugal nos anos setenta e oitenta não vale por causa de uma palavra: escudo. Se quer um exemplo mais aproximado que olhe para Sul, para a Argentina.

Garrido alinha ainda na conversa da flexibilidade, nome de código para maior facilidade em gerar e transferir custos sociais por parte de patrões medíocres para os trabalhadores e para o conjunto da comunidade, e na conversa da confiança dos investidores estrangeiros, o outro nome para a pilhagem de recursos nacionais em sectores estratégicos e que, também por isso, conferem poder.

A flexibilidade e esta confiança não criam um único posto de trabalho, claro. Pelo contrário, aprofundam a recessão e ajudam a acelerar a destruição de emprego através da maior facilidade em despedir e em baixar salários, com a correspondente acentuação da quebra de procura e do aumento do número de famílias e empresas insolventes, o que trava o investimento, e através da aquisição de activos a baixo preço, o que, para além de significar apenas transferências de direitos de propriedade, só incentiva as famosas reestruturações e mais despedimentos. De resto, numa economia em colapso, induzido por uma austeridade entusiástica, a confiança não passa de uma palavra vazia. É a dinâmica da procura que define o essencial da disposição para investir na criação de nova capacidade para produzir e o crédito não flui entre ruinas.

E a Irlanda, supostamente a iniciar um círculo virtuoso? Bom, a Irlanda registou precisamente a maior quebra do produto a nível mundial até há pouco, um brutal aumento do desemprego, que mais do que duplicou, ultrapassando 14%, e uma continuada transferência de rendimentos para o exterior. Um milagre da flexibilidade.

6 comentários:

  1. Lá teremos que fazer umas romarias até Santa Comba, com uma vela na mão à procura de inspiração para a solução da dívida.

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  2. Finalmente o Prof disse qualquer coisa de jeito.Os sacrifícios se realmente são imprescindíveis, têm que ser extensíveis a todos os contribuintes.
    Não faz sentido uns contribuírem e outros ficarem de fora e se esse for o caminho tomado vamos ver a dimensão do protesto...

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  3. És um grande mentiroso!

    "a Irlanda registou precisamente a maior quebra do produto a nível mundial"

    Se o mundo fosse constituido pelos países que aí tens, até poderia ter começado este comentário doutra maneira. Não te estás a esquecer de uma série de países da Europa de Leste pois não? Ou das Caraíbas pois não?

    E já agora a Irlanda já está com crescimento positivo tanto no PIB como no PNB.

    Estuda primeiro os números primeiro, só depois vem para aqui para tocares na tua corneta vermelha!

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  4. E quais são as alternativas da "esquerda" quando não temos financiamento ?

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  5. PP, se calhar as alternativas da esquerda passam por fazer aqueles com rendimentos ACIMA de 6.000€ pagarem mais impostos que em 2010, por exemplo.

    E deixar de fazer ainda mais auto-estradas desnecessárias, e renegociar os contratos odiosos de exploraçäo.

    Vidas!

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  6. à atenção do cavalheiro que gosta de mandar postas de pescada e chamar mentiroso aos outros sob a capa do anonimato:

    1) Quando se diz que a Irlanda registou a maior quebra do produto a nível mundial até há pouco, isso não implica que se trate da maior quebra do produto em todo o mundo em todos os tempos, mas sim a maior quebra do produto a nível mundial no período em questão - leia-se, o pior desempenho de todas as economias do mundo no período em causa.

    2) Quando diz que tanto o PIB como o PNB já estão a crescer, presumivelmente com base nestes dados

    http://www.finfacts.ie/irishfinancenews/

    /article_1023175.shtml

    , esquece-se de referir que o que os dados mostram é um crescimento trimestral de 1% face ao período anterior, em que se registara uma contracção de 3%. Ou seja, uma débil inversão depois de uma quebra muito maior. Aliás, quando somamos os valores das variações entre 2010 Q1 e 2011 Q2, o resultado dá próximo de +1%. E como estava a economia irlandesa no no início desse período, ou seja, em 2010? Bem, como se vê aqui

    http://www.cso.ie/statistics/nationalingp.htm

    ...estava com um PNB inferior em 21.5% ao que registava em 2007. Portanto, temos um ligeiríssimo ajustamento positivo de 1% no período de um ano, que se segue a uma quebra de 21% em quatro anos. Belo milagre, não haja dúvida.

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