domingo, 16 de outubro de 2011

E agora?

O ajustamento tem de ser feito à custa do emagrecimento do Estado e não à custa dos contribuintes e dos funcionários públicos (...) E se, mesmo assim, todas estas estratégias não chegarem, há sempre a possibilidade de termos de reestruturar as nossas dívidas.

Álvaro Santos Pereira debatia assim em Março deste ano no Negócios, apresentando as bondades da austeridade idealizada como romance de cordel. Acho que posso repetir o que afirmei nesse frente a frente:

A austeridade já não é a conta gotas. A torneira abriu-se e a história repete-se. Os economistas pré-keynesianos ganharam politicamente em toda a linha. O refúgio na retórica vaga da "gordura do Estado" é uma fuga à ética da responsabilidade. É evidente que nenhum espírito isento discordará do combate ao desperdício, aos grupos económicos que parasitam o Estado e fogem às suas responsabilidades fiscais ou ao cancro da economia informal. No entanto, as politicas de austeridade exigidas pelos "mercados" e pelas "estúpidas" regras dos pactos europeus implicam em todo o lado fazer cortes abruptos, injustos socialmente e contraproducentes economicamente.

Por que é que a lógica intrínseca e as consequências inevitáveis das políticas de austeridade não são enunciadas? Estamos já em plena política à FMI, mesmo que sem uma das variáveis, a desvalorização cambial, que tornou no passado estas políticas menos destrutivas. Neste contexto, vários estudos, incluindo do próprio FMI, reconhecem que a austeridade é sempre recessiva. Os cortes nas despesas sociais e nos serviços públicos, os cortes salariais na função pública e o aumento do desemprego, que se segue à compressão da procura, aumentam o medo na economia, levando à aceitação de cortes salariais no sector privado e, com as alterações regressivas da legislação laboral associadas, a uma diminuição do poder da esmagadora maioria dos trabalhadores. Esta é a inconfessada economia política da austeridade.

2 comentários:

  1. «Os economistas pré-keynesianos ganharam politicamente em toda a linha»


    Santa ingenuidade!


    "O aumento do poder dos banqueiros internacionais tem sido de tal ordem que já não podem ser considerados, quanto à sua actividade profissional, cidadãos nacionais de nenhum país, com direito a negociar exclusivamente sob a supervisão desses governos.

    Eles são na realidade cidadãos do mundo, com interesses globais e, como tal, devem ser obrigados a aceitar qualquer forma de controlo supranacional. "

    - George Pattullo, no Saturday Evening Post.

    ("The Dearborn Independent", de 9 de Julho de 1921)

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  2. Músculo do Estado: SNS, Educaçäo pública, Seg. Social, Fisco.

    Gordura do Estado: PPPs, benesses e mordomias a detentores de cargos públicos, benesses e mordomias a gestores de empresas públicas, reformas milionárias aos anteriores, perdöes fiscais.

    Por enquanto só vi cortar no músculo e deixar a gordura!!!!!

    E agora? Por enquanto, manifestar-se nas ruas, sempre que possível. E nas próximas eleiçöes votar nos anti-austeritários. Porque a alternativa (revoluçäo à francesa) näo agradará nada aos ricos...

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