sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Seguro social-democrata?

Descobri, o que me animou, que a aberrante proposta franco-alemã de constitucionalizar limites arbitrários para as finanças públicas nacionais, que só iria ampliar as crises, terá obrigatoriamente de ser referendada na Irlanda, aliás um exemplo já aqui invocado para assinalar a inanidade de tais moralismos. De facto, a incensada e muito liberal Irlanda tinha uma dívida pública de 25% do PIB, em 2007, e viu-a mais do que triplicar nos últimos anos, enquanto que na Espanha, pouco mais do que 30%, mais do que duplicou. São os ciclos do capitalismo. Por muito que tentem que o moralismo das finanças públicas faça parte do senso comum, é bem possível que os efeitos políticos da austeridade imposta pelos credores europeus o superem e que o povo irlandês dê mais uma lição de democracia.

Entretanto, espero que o secretário-geral do PS, bem aconselhado, por exemplo, pelos economistas social-democratas do seu partido, rejeite participar em qualquer mudança constitucional deste teor no nosso país, mudança destinada a eternizar a lógica da troika com que toda a esquerda, e alguma direita, terá de romper mais cedo do que tarde. Que Luís Amado tenha aderido aos dogmas ordoliberais alemães não me surpreende porque se trata precisamente do tipo de dirigente dirigido que levou a social-democracia à crise em que está hoje, à sua colonização pela direita, tudo em nome de um projecto europeu minado pela hegemonia de tais ideias. Agora querem inscrever estas ideias na nossa ordem constitucional, como se tal inscrição não fosse uma rematada distopia.

A rejeição da constitucionalização das ideias da direita franco-alemã e, por exemplo, a recusa de uma regressiva desvalorização fiscal serão então dois bons indicadores, digamos, da capacidade de evolução do PS, da sua capacidade para superar a hegemonia liberal e recuperar um perfil social-democrata. Pena que a indicação dada no orçamento rectificativo não tenha sido a melhor.

5 comentários:

  1. João, não está a ser otimista? Quem são os economistas sociais-democratas do PS? João Cravinho, talvez Paulo Pedroso (que não é propriamente economista), nem sequer Ferro Rodrigues, de quem eu esperava alguma memória de outros tempos.

    Outros, que não são "radicais", como José Reis ou João Ferreira do Amaral, não os conto como PS.

    E o problema é que não vamos lá sem o PS (mas não só, claro)! Mas que PS?

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  2. Caro JVC,
    É o meu optimismo da vontade. Estou a pensar em gente mais nova que começa a ter alguma visibilidade. Vamos ver que PS pode emergir, mas sem dúvida, a ruptura ou não com a troika, a prazo, é um elemento importante para responder às suas perguntas.

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  3. Querer limitar a dívida pública é uma vergonha. Portugal devia desde já aumentar a sua (se necessário exponencialmente) para investir no TGV, aumentar salários aos funcionários públicos, ... Só assim sairemos da crise rumo a um futuro glorioso de social-democracia!

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  4. Bom, o problema é que ninguém parece perceber que o problema não está na dívida, como o comentário pretensamente jocoso do António Carlos mostra.
    O problema está em ter-se economias muito diferentes com a mesma moeda.
    Se cada país tivesse a sua moeda, a moeda portuguesa valeria menos do que o actual Euro e a alemã mais do que o actual Euro o que reflectia as diferenças de produtividade entre os países.
    Mas não meteram tudo na mesma moeda, enganando os povos europeus ao não explicarem os riscos em que se estava a meter a Europa e agora não sabem como descalçar a bota...

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  5. Inscrever um limite desta natureza na CRP é uma rematada estupidez e mais uma machadada no pouco que resta da soberania deste país.
    E é claro que o PS como sempre tem feito(pois sem ele os trabalhadores deste país não tinham perdido, como perderam e vão perder mais das conquistas de Abril), irá atrás da manada da direita e vai ser favorável. Mas o PS é um caso perdido.!!!
    Depois gostava de saber onde é que estão no PS os tais economistas sociais- democratas.!? Nem á lupa se consegue encontrar algum.
    A nossa única solução, parece-me, é sair do Euro senão mesmo da UE. Caso contrário nunca mais na vida os cidadãos deste país consguirão ter uma vida digna.

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