quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Para quê?
As simulações são conduzidas num contexto de credibilidade e antevisão perfeitas em que uma parte significativa dos consumidores recorre à otimização intertemporal. No entanto, na situação atual caracterizada por um acesso muito limitado dos agentes económicos portugueses aos mercados financeiros internacionais, a otimização intertemporal pode não ser possível (…) O financiamento desta medida pode criar efeitos recessivos no curto prazo e gerar problemas de equidade, os quais são particularmente relevantes no atual contexto em que se encontra a economia portuguesa. Os efeitos da medida estão condicionais num conjunto de hipóteses que não refletem as condições atuais da economia portuguesa, nomeadamente o financiamento regular dos agentes económicos, a credibilidade perfeita das autoridades ou a ausência de incerteza.
Relatório Desvalorização Fiscal, Ministério das Finanças, Julho de 2011.
As hipóteses não reflectem as condições actuais, passadas e futuras da economia portuguesa, nem de nenhuma economia realmente existente. Louva-se algum realismo e seriedade nos comentários dos autores do relatório, que só não estão à altura dos delírios dos modelos de equilíbrio geral usados para fazer simulação e prescrição política no Banco de Portugal e no relatório, assumindo mercados financeiros eficientes, os tais veículos perfeitos para a optimização de agentes omniscientes, que nem um estranho Deus num mercado de Sua criação, num mundo sem incerteza keynesiana, o que aliás as sucessivas crises financeiras dos mercados financeiros liberalizados deste mundo vieram mesmo confirmar. À medida que o realismo aumenta, a perversidade da desvalorização fiscal vai ficando cada vez mais clara nas palavras do próprio relatório. Enfim, tem a palavra Vítor Constâncio, que num prefácio a um livro do Banco de Portugal, pouco antes de ir para Frankfurt assistir à destruição do euro, se encarrega de destruir com alguma diplomacia as perigosas brincadeiras que se praticam no Banco de Portugal, apenas porque têm impactos na vida das pessoas, caso contrário seriam exercícios mais ou menos inócuos, como os que se fazem em demasiados departamentos de economia...
Todos estes economistas, sem dúvida grandes cérebros, que se desunham a ver qual deles é o que mais medidas de austeridade inventa, são os mesmos que daqui a uns anos dirão terem sido uns bandidos mas que tinham ordens para isso.
ResponderEliminarEstas troikas canalhas, a externa e a interna, hão-de pagar bem caro pelas suas inumeras malfeitorias.