sábado, 6 de agosto de 2011

Manual de instruções

«As árvores grandes precisam ser cortadas em etapas. (...) A abertura da "boca" é um corte horizontal no tronco (...) até atingir cerca de um terço do diâmetro da árvore. (...) Em seguida, faz-se um outro corte, em diagonal, até atingir a linha de corte horizontal, formando com esta um ângulo de 45 graus. (...) Por último, é feito o corte de abate de forma horizontal, no lado oposto à "boca"».

A técnica para desmantelar serviços públicos e a capacidade estratégica do Estado é muito semelhante ao corte de uma árvore de tamanho razoável. A incisão inicial deve ser discreta, de modo a transmitir o mais possível a ideia de que não só não se vai cortar coisa nenhuma como, pelo contrário, se trata de fortalecer «a árvore».

É assim, por exemplo, com a introdução de taxas moderadoras na saúde (que se dizia pretenderem apenas racionalizar e desincentivar o recurso excessivo e desnecessário aos serviços), de propinas no ensino superior (cujas verbas teriam exclusivamente em vista a promoção da qualidade do ensino), ou da redução do número mínimo de alunos para manter aberto um estabelecimento de ensino do primeiro ciclo (invocando os malefícios, para a socialização das crianças, decorrentes da inexistência de um limiar mínimo de «densidade»). Ou, ainda, o caso da criação da figura jurídica das golden shares, que prometiam salvaguardar a prevalência dos interesses estratégicos do Estado em processos de privatização.

O mais difícil é, de facto, «quebrar o gelo» e - para o conseguir de modo eficaz - é desejável que se apresentem argumentos aparentemente sensatos, razoáveis, com os quais seja difícil discordar. Argumentos que transportem consigo essa noção de que - afinal - se estão a melhorar os sistemas, a tratar de os aperfeiçoar de modo a garantir a sua robustez, justiça e «sustentabilidade futura» (um conceito extremamente poderoso). Uma vez aberta a primeira fenda, que explora justamente alguns dos pontos frágeis do sistema (não é por acaso que os fundamentos para o fazer parecem - e são-no em alguns casos - razoáveis), basta prosseguir.

Deve então avançar-se com o gradualismo que se impuser em cada momento e em cada situação, seguindo um outro princípio muito importante: a imperceptibilidade. Quando dermos por nós, as taxas moderadoras já têm assumidamente em vista o reforço objectivo da comparticipação dos encargos com o SNS; as propinas já se tornaram imprescindíveis para suportar os custos de funcionamento das instituições de ensino superior; e o número mínimo de alunos para manter em funcionamento uma unidade de ensino do primeiro ciclo é já determinado pela dimensão dos cortes nas dotações orçamentais atribuídas. As golden shares, por seu turno, passam a ser encaradas como distorção institucional e ilegítima das regras de funcionamento do mercado, devendo por conseguinte ser eliminadas.

Uma última nota: se os ventos estiverem de feição (cuidando-se por exemplo de instalar previamente a crença moralista e expiatória na austeridade inevitável), nem é preciso ter grande preocupação com o princípio da imperceptibilidade dos cortes. Nesses casos, os golpes vigorosos e implacáveis correm até sério risco de serem enaltecidos pela coragem e ousadia que revelam.

11 comentários:

  1. As árvores cortam-se de um só golpe

    as serras são eléctricas

    é um manual desactualizado

    hoje até árvores com um PAP (perímetro à altura do peito) de 12 metros

    caem em meio minuto

    em talhe recto ou de bisel

    e com as bolsas a perderem 300 gigadólares ao jour

    acho que ainda vamos chegar ao talhe de foi-se

    o pessoal do Ministério da Agricultura em Trás-os-montes
    já foi de férias em Julho e se voltar em Setembro estamos cá cuma sorte

    foram lá metidos a 176 contos em 92 e 93

    e agora a 1800 e a 3200 euros
    inda fazem menos do que dantes

    curiosamente o consumo de papel de fotocópia e de serviços de manutenção

    quintiplicou desde 1993
    em 17 anos...500% mais

    foi a in fla são?

    a São curiosamente tinha uma empresazinha pequerruchinha em 93
    e ahora quando falir vai deixar uns milhões de dívidas
    (segurança social incluída)

    aceitam-se propostas
    para fornecedores de material ao estado....

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  2. e é o ex-Ministério da agricultura

    não é a UTAD o politeco de Braga na Ansa nem um hospitaleco qualquer

    com 300 grosas de luvas (cirúrgicas) por septimana e resmas de catéteres por mês...

    dói na pescoceira- radiografa-se

    barriga grande agrafa-se

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  3. ice level July 2011 a new low contrariamente à excpectativa in mundos melhores e em consonância con la bourse et la vie en rose

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  4. Ou para Bragança num sítio onde as mães não cheguem

    Curiosamente a primeira cidade que reagiu aos desmandos do funcionalismo

    não consumiam nacional
    preferiam produtos de importação

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  5. Esta técnica de abate deve ser do tempo, daqueles livrecos de silvicultura da Livraria Francisco Franco (o nacional não o espanhol)

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  6. Post elucidativo, excelente para quem sabe ler!!!

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  7. Ou só um daqueles Betos de esquerda

    nã é necessário ser-se analfa

    só ter cataratas ideológicAS

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