sábado, 20 de agosto de 2011

Economia política comparada 2.0

Primeira avaliação da proposta da direita franco-alemã: "são bem-vindas as propostas de tornar mais eficaz a disciplina orçamental a nível nacional." Foi a pensar neste tipo de propostas que uma das referências da economia política internacional, Stephen Gill, cunhou a expressão "neoliberalismo disciplinar", aplicando-a à configuração prevalecente e falhada da UEM, que agora se pretende aprofundar. Segunda avaliação, que vai ao cerne da questão com realismo: "constitucionalizar uma variável endógena como o défice orçamental – isto é, uma variável não directamente controlada pelas autoridades – é teoricamente muito estranho." A primeira avaliação é de Vital Moreira no seu blogue e a segunda, já se sabe, é de Cavaco Silva no facebook. Primeira conclusão: Cavaco parece estar à esquerda do eurodeputado do PS numa matéria crucial para a orientação das políticas públicas. Explicação possível: o primeiro, como muitos intelectuais orgânicos que contribuíram para o esvaziamento da social-democracia, é influenciado por uma versão do neoliberalismo, particularmente moralista na questão das finanças públicas, que moldou a construção europeia em que estamos trancados, enquanto que o segundo ainda parece conservar, de outros tempos de política orçamental de manual e não só, um certo bom senso keynesiano, embora só o tenha revelado agora, quando a direita está no poder, o que ilustra o oportunismo político que sempre acompanha a falta de memória. Segunda conclusão: as ideias contam e os interesses também.

6 comentários:

  1. Excelente post, caro João Rodrigues. Obrigado. Faço link (mais logo ou amanhã!!).
    Um abraço.

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  2. Nicolas Paul Stéphane Sarközy de Nagy-Bocsa e Angela Dorothea Merkel são políticos. Borrifam-se para teorias. São políticos de direita. Querem institucionalizar em letra de lei – impondo a todos os europeus (honni soit qui mal y pense) "são bem-vindas as propostas de tornar mais eficaz a disciplina orçamental a nível nacional" fácil…está tudo tocar uma “nota só”- a prevalência das suas políticas de direita... (amanhã a Alemanha ou a França “destes dois políticos” se para salvarem a sua pele “deles” dirão exactamente o mesmo mas provavelmente nesse caso será - um contributo para disciplinar...“o nível” mas a outro nível)
    A direita existe mesmo (apesar de alguns rumores) e como qualquer prática política quer perpetuar-se… o que Paul e Dorothea mais querem é fixar as coisas como elas estão “agora” – pode até ser… teoricamente muito estranho...

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  3. Oh blabla:
    Em Lisboa, ao cimo da Av. de Roma, há remédio para essa verborreia toda.
    Trata-te depressa porque a tendência é para isso piorar.

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  4. Excelente, como sempre. Em cheio, na mouche. Nas moscas, perdão.

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  5. Caro João Rodrigues
    Cavaco tem alguma vantagem à partida, reconheça-se. Estudou economia, e em particular finanças públicas, num tempo em que o keynesianismo fazia uma boa parte do common sense do grupo profissional, pelo que sempre diz um bocado menos de parvoíces...
    Mas tem razão. Não é só Vital ter chegado à economia mais tarde. É mesmo a componente de "pentito", de neófito "ultra" e ainda por cima muito teorizador/doutrinador e pouco dado às realidades práticas, à "verità effetuale della cosa"... Sim, tem razão, mas olhe que me parece que a coisa é bem mais vasta do que isso... A verdade é que o PS, neste momento, está já em média à direita do PSD... e precisamente por isso, porque há uma importante componente "pentita", neófita...

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