1-O actual plano de austeridade PSD/PP funciona. O défice é reduzido, a recessão acaba dentro de um ano e meio e os mercados recebem de braços abertos o refinanciamento de dívida a preços marginalmente superiores aos praticados antes da crise. O crescimento económico mundial recupera em força, inundando os mercados de capitais e absorvendo ondas de emigração portuguesa. Portugal volta assim ao seu estado ex-ante de medíocre performance económica, já que vive com um estado manietado pela necessidade de saldos primários positivos (continuação da austeridade) impeditivos de qualquer reestruturação económica que não a que é feita pela redução dos salários directos e indirectos. Um país onde dificilmente se conseguirá uma vida decente.
2-Depois de um provável incumprimento (e saída do euro) da Grécia, a Europa decide-se a mutualizar a dívida pública europeia através de euro-obrigações. Associado vem obrigatoriamente um “ministro” das finanças europeu, como propõe o Sr. Trichet, que impõe a continuada austeridade na periferia, agora traumatizada pelo que aconteceu na Grécia. As economias da periferia entram em declínio face ao centro, até aos periféricos se fartarem da perda contínua de soberania e dos custos associados.
3-A Europa não chega a acordo e deixa os pequenos países da periferia entrar em incumprimento desorganizado. Devido às suas necessidades de financiamento público, são forçados a sair do euro. A banca colapsa e o crédito congela. Forte contracção do produto e instabilidade social. À argentina. A recuperação depende de aparecer um governo à Kirchner. Os países do centro recapitalizam o BCE e assumem as perdas do Fundo europeu através de transferências fiscais. Politicamente, é mais fácil convencer os eleitores que tal pagamento é o custo de se terem livrado dos países “mal comportados”.
4-Os países da periferia negoceiam uma saída organizada (e secreta) do euro com a UE. Dá-se um default através da desvalorização cambial subsequente, introduzem-se controlos de capitais e a banca é imediatamente nacionalizada e recapitalizada através da emissão monetária, prevenindo os efeitos de uma crise bancária. Os governos tomam as provisões necessárias anteriores ao anúncio para prevenir problemas de pagamentos e aprovisionamento de bens essenciais (da alimentação ao petróleo). Numa segunda fase, as reservas de ouro são utilizadas para estabilizar o câmbio. Adopta-se uma política industrial virada para a resolução do défice externo.
Nenhum dos cenários é agradável. Os cenários 1 e 4 são mais improváveis. O primeiro pela racionalidade económica (acho que é mais provável ganhar o Euromilhões), o quarto por ser politicamente impraticável. No actual rumo, estamos a caminho do terceiro.
Concordo contigo.
ResponderEliminarO ideal era estarmos a preparar o quarto cenário. Provávelmente não haverá força político-social para o impor. Mas mesmo que agora não seja o mais fácil de defender, essa posição irá dar "chorudos dividendos" quando nos confrontarmos com o terceiro cenário. E chegados aí será preciso o tal governo estilo "Krichener", mas aqui não há Peronismo... Mais a saída (que me parece altamente provável) do Euro será a queda do grande projecto/desígnio da nossa III República (à quem lhe chame II, whatever). A ruptura necessária parece-me que será em muitos níveis mais drástica que na Argentina... O movimento e programa político que protagonizarem essa ruptura e desempenharem o papel de "Kirchener" por aqui terão de entender essas circunstâncias. Isso implicará um novo contracto social-político e económico, para não dizer uma espécie de Revolução. Não são os sonhos molhados de Trotskistas e Maoistas de faca nos dentes (que aliás parece estarem a dormir no posto...), mas uma necessidade Histórica. É por aí que temos de ir, quanto mais gente e mais depressa chegar a estas conclusões em traço grosso (podem utilizar o vocabulário que entenderem), melhor.
É preciso ter calma. É evidente que Portugal irá sair do Euro nos próximos 2 anos. Iremos ter uma grande recessão durante uns 18 meses e depois a economia irá retomar o seu crescimento vigoroso. E próximo governo não precisará de ser brilhante para por a economia a crescer a boas taxas.
ResponderEliminarHá mais cenários possíveis como por exemplo: para evitar uma situação de incumprimento da Grécia (e Portugal e Irlanda) a UE acaba in extremis por aprovar um segundo pacote de ajuda, após este pacote grande parte da dívida destes países será detida pelo MEE/FMI e BCE. Em troca da aceitação de regras estritas (draconianas) de equilíbrio orçamental por estes países aquelas instituições aceitam reduzir a taxa de juro para níveis próximos dos 3% e prolongar o prazo dos empréstimos para 30-50 anos. Após um período de 3-4 anos de deflação e com um desemprego entre os 15 e 20% a economia portuguesa volta finalmente a crescer.
ResponderEliminarCaro João Pedro Santos,
ResponderEliminarO seu cenário não é muito diferente do segundo que apresentei. Em vez de euro-obrigações o João Pedro apresenta empréstimos quase indefinidos no tempo a muito baixa taxa de juro. Sem discutir se essas condições fazem sentido na actual situação, vale a pena pensar as implicações desse cenário.
Com uma dívida de 100% do PIB (o citigroup coloca-a a 135% daqui a 3 anos) a 3% de juro e com um crescimento económico "espectacular" de 2% ao ano, o estado tem de incorrer num saldo primário superior a 1% do PIB permanentemente. Só para a dívida não crescer. Ora, um estado que recolhe mais receitas do que gasta ao longo de décadas, para além de ser historicamente inédito, é um lastro permanente na economia, que impede o crescimento económico de descolar. Daí a estagnação e declínio de que falo.
cordialmente
nuno teles
O cenário que o João Pedro Santos propõe não é de excluir mas há dois factores que se interligam e que interferem na sua probabilidade: o tempo e as condições políticas. Aprovar in extremis um novo pacote implica mais algum tempo a apodrecer... com as economias periféricas a aprofundarem as crises - as restrições ao crédito, em Portugal, já afectam boas empresas e projectos plenamente viáveis (mas que necessitam de financiamento). Não se percebe como havemos de honrar a dívida com o cataclismo que aí vem, mantendo-se este estado de coisas.
ResponderEliminarA narrativa da crise nos países do "centro" (e fomentada por muitos nos próprios países periféricos) também não ajuda a que seja possível obter um consenso para que haja efectivamente apoio político a novas ajudas - e, o que para mim é absolutamente necessário, também não concorre a favor da necessidade de reformas institucionais na Europa e no enquadramento do euro. Quanto mais tempo se avançar, pior será...
Francamente, não sei que cenário se concretizará. Sei que deixar que a Grécia (ou qualquer outro país europeu) chegar à bancarrota é brincar com o fogo. Seria um Lehman Brothers à europeia com efeitos de feed-back sobre aqueles que nesta altura assumem a tal narrativa de superioridade moral sobre os países "incumpridores e mal-comportados".
Caro Nuno, obrigado pelo trabalho de "arrumação" e "catalogação" dos problemas. É absolutamente necessário.
ResponderEliminarCreio que o João Pedro Santos é capaz de ainda não se ter dado plenamente conta da dimensão do nosso problema em matéria de evolução provável do PIB, caso continuemos no Euro... é que mesmo as previsões da Troika para estes dois anos são de tombo pronunciado, sim, mas assumindo ainda assim cresimento a todo o vapor das Exp e contracção marcada das Imp... Parece-me, em suma, uma boa receita/cenário para "vender" a cada um dos países da UE, mas insusceptível por definição de ser "comprada" pelo conjunto desta. Sem isso, entretanto, o tombo do PIB (e o aumento do desemprego) será muito pior ainda...
Voltando aos cenários, pergunto-me entretanto sobre quais as possíveis "externalidade negativas" associadas ao facto de "termos sido corridos", ou "não termos sido capazes" (cenário 3), face à eventualidade de "termos pactado uma separação honrosa e minimamente amigável" (cenário 4).
Quais os custos, em suma, da nossa cobardia/loucura/cegueira política colectiva... aparentemente com quase toda a gente a dormir na forma, não apenas trotskistas e maoístas, mas sim, também esses. Tanto queremos evitar a "hipótese argentina" que acabamos, em suma, por cair direitinhos precisamente no que ela teve de pior - sem qualquer garantia de que haja depois o que ela ainda teve de melhor...
Caro João Carlos Graça,
ResponderEliminarSou razoavelmente pessimista e infelizmente temo que a recessão vá ser significativamente mais profunda do que o antevisto no cenário do programa de ajustamento.
Não digo que vá ser fácil. Estamos numa situação que não só não depende só de nós como vai ser determinada por factores políticos imprevisiveis.
Cumprimentos
O problema de raíz parece que ainda fica sem resolver - empresta-se dinheiro, seguindo um sistema que nao pretende receber esse dinheiro de volta - o sistema no o permite nem o quer - o resultado desse empréstimo impagável, é carta-branca para leiloar tudo o que é propriedade nacional a grandes bancos e instituiçoes financeiras. Afinal de contas, a PROPRIEDADE é o que realmente importa, e o dinheiro é apenas uma forma de fazer a aquisiçao da propriedade.
ResponderEliminarE pensar que esta era uma crise dos *bancos* e *instituiçoes financeiras*, que foi "comprada" para passar a ser uma crise dos *estados*... quem salvou os bancos, agora está a ser afundado pelos próprios bancos...