sexta-feira, 24 de junho de 2011
Estado de negação
«A União Europeia parece ter adoptado uma nova regra: se um plano não está a funcionar, é preciso cumpri-lo. Apesar dos milhares que protestam em Atenas e da agitação dos mercados, os líderes europeus têm um calendário fixo para resolver os problemas da zona do euro. Na próxima semana, a Grécia passará provavelmente por um novo pacote de austeridade. Receberá então 12 mil milhões de euros do seu primeiro resgate de 110 mil milhões, de que necessita em meados de Julho. Admitindo que os europeus concordam com a participação "voluntária" dos credores privados, para salvar a face e agradar aos alemães, seguir-se-á um segundo resgate de 100 mil milhões de euros. Isto poderá manter o país à tona de água até 2013, quando um fundo permanente de resgate da zona do euro, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), estiver disponível. O euro será salvo e o mundo vai aplaudir. (...) Esta é a esperança a que os líderes da UE (…) se querem agarrar. Mas o seu estado de negação, patente na recusa em aceitar que a Grécia não pode pagar as suas dívidas, tornou-se insustentável, por três razões.»
E o insuspeito The Economist continua, elencando essas razões: primeira, a degradação das condições políticas na Grécia (a braços com uma espiral de contestação e com uma fragilização progressiva das condições de governabilidade) e na Europa (com a aproximação das eleições na Alemanha e em França, num contexto de provável rejeição da concessão de um segundo resgate pelas opiniões publicas); segunda, o aumento crescente dos riscos inerentes à divida grega, que afastará cada vez mais os mercados e os investidores de um pais à beira da insolvência, e cujo horizonte de crescimento se encontra cada vez mais distante; terceira, a crença de que grandes países da zona euro estariam protegidos do contágio desvanece-se, face à ameaça de alastramento à Espanha e a Itália, depois da ilusão de ser possível conter a crise nas fronteiras da Grécia, Irlanda e Portugal.
Mais cedo ou mais tarde, conclui o The Economist, «os líderes da zona euro terão que escolher uma de entre três opções: a transferência maciça de fundos para a Grécia, que enfureceria os outros europeus; a aceitação de desequilíbrios nos défices, que desestabilizaria os mercados e ameaçaria o projecto europeu, ou uma reestruturação ordenada da dívida. Esta última opção implicaria um longo período de apoio externo à Grécia, uma maior união política e um necessário debate sobre as instituições europeias. Mas é a melhor saída para a Grécia e para o euro. Uma opção que não estará disponível por muito tempo. Os líderes europeus devem deitar-lhe mão enquanto puderem.»
São os federalista que negam o reconhecimento da necessidade de uma reestruturação da dídida com saída do euro dos países beneficiários. querem manter a unidade europeia. Não é um acaso que a Alemanha favoeça a solução de participação dos credores privados. Por que será?
ResponderEliminarPor falar em Grécia, que tal se está a dar a Irlanda com o "plano de austeridade imposto pela Troika"?
ResponderEliminarA Irlanda está a dar-se bem. Vai cumprir o fundamental e já está discutir medidas que estão para lá do acordado. Depois de um haircut no momento certo- quando o os bancos puderem- sai desta crise fortalecida. Aqui no blogue querem rebentar com o sistema financeiro europeu para derrubar o capitalismo e instaurar um regime colectivizado.
ResponderEliminarInsistir nos haircuts na divida da grécia é simplesmente ridiculo.
ResponderEliminar.
O pânico levaria os juros de Espanha e Itália a disparar.
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O que é necessário é emprestar dinheiro à grécia a 3.5% (preço de custo)e apoiar a restruturação do sector publico e o aumento da produção interna, através de IVA mais alto nas importações e mais baixo na produção local.
A Irlanda não tem qualquer (nem de perto nem de longe) os problemas de competitividade (e logo de equilíbrio externo) que Portugal ou a Grécia (e a Espanha, por exemplo) enfrentam. A Irlanda não está exactamente no mesmo barco, "apenas" tem de lidar com o problema das suas contas públicas, que se deterioram em resultado da socialização das perdas da sua banca.
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