Mariana Mortágua fecha muito bem o debate, se é que um debate como este alguma vez está fechado, com Paulo Pedroso, duplamente equivocado: sobre a questão fundamental do trabalho como custo relevante em Portugal, também descascada aqui pelo Alexandre Abreu, talvez reflexo da influência da “economia da oferta”, ainda que com verniz progressista, à maneira da fracassada Agenda de Lisboa, em social-democratas como Pedroso; sobre o suposto anti-europeísmo dos que nunca se deixaram encantar por um romance de mercado europeu que foi durante demasiado tempo a leitura de cabeceira no PS.
Felizmente, a avaliar pelo que se escreve no Social Europe, as intuições keynesianas parecem ter reconquistado direito de cidade numa parte da social-democracia europeia, com a qual as convergências em matéria de integração são agora grandes, passada que está a ilusão sobre a natureza e o estado deste euro. Esta ilusão foi um dos brilhantes resultados da hegemonia do social-liberalismo que varreu os socialistas do poder e os esventrou ideologicamente.
O primeiro, e mais importante, equívoco de Pedroso, que até já foi desmentido pelo próprio Banco de Portugal, parece ser, em certa medida, partilhado por economistas como o francês Jacques Adda, autor do informativo livro A Mundialização da Economia, talvez influenciado por instituições internacionais que nele continuam a insistir. Tirando isso, que é só uma linha, a análise de Adda sobre a economia portuguesa, publicada na Alternatives, a melhor revista de divulgação económica que eu conheço, é certeira. Deixo aqui a tradução do último parágrafo:
“A austeridade draconiana, imposta pelo FMI e pela União Europeia (...), não permite que a economia portuguesa recupere uma trajectória de crescimento num horizonte previsível. Ao imporem um reequilíbrio das finanças públicas, gerador de uma recessão severa, correm o risco de acentuar os desequilíbrios financeiros do sector privado e, desta forma, a fragilidade dos bancos, que terão de fazer face a uma acumulação de crédito mal parado por parte das famílias e das empresas. Uma perspectiva pouco animadora, quer para Portugal, quer para os dirigentes de Bruxelas e Frankfurt.”
A única solução é usar os fundos públicos para aumentar as exportações e diminuir as importações, ao mesmo tempo que se criam empregos nestes sectores.
ResponderEliminarComo fazer isso ?