sexta-feira, 27 de maio de 2011

As palavras são importantes: empréstimo não é ajuda



Uma comunicação social livre, exigente, isenta e plural é uma condição fundamental da democracia. À relevância do papel social de produção e difusão de notícias deve corresponder a mesma dose de responsabilidade e exigência no tratamento noticioso da realidade que é, necessariamente, construída pela própria noticia. Especialmente num período em que nos aproximamos de eleições, a responsabilidade sobre os temas tratados não deve existir apenas no plano da justa distribuição de tempo pelas várias ideias e opções politicas que se apresentam perante o sufrágio dos cidadãos: a semântica reveste-se igualmente de uma importância crucial no tratamento noticioso.

Neste sentido, torna-se manifestamente inaceitável que a generalidade dos órgãos de comunicação social continue a reproduzir, displicentemente, a ideia de que o empréstimo da “troika” FMI-BCE-UE constitui uma “ajuda externa”, optando assim, implicitamente, pela aceitação acrítica desta noção.

Ora, em primeiro lugar, um empréstimo com uma taxa de juro tão elevada dificilmente pode ser considerado uma ajuda. E, em segundo lugar, este empréstimo, encontra-se associado a um acordo, que obriga o Estado Português a cumprir – a troco do empréstimo – um conjunto de contrapartidas que se materializam em medidas de austeridade fiscais, sociais e económicas. Por último, assumir acriticamente que se trata de uma ajuda significa ignorar a profunda controvérsia, contestação e discussão quanto à pertinência e adequação destas medidas, cujos impactos sociais e económicos nefastos são amplamente reconhecidos.

Ao atribuir-se ao memorando da “troika” o epíteto de “ajuda externa” está-se portanto a construir, ou a veicular com manifesta parcialidade, uma narrativa política que favorece quem se comprometeu com este acordo, em detrimento de outras narrativas, igualmente existentes, nomeadamente da parte de quem o contesta. Quando a ideologia se infiltra desta forma inaceitável, numa sociedade plural, no tratamento noticioso, é não só o jornalismo que sai diminuído, mas também a própria democracia.

Sabemos, pelos programas dos partidos que concorrem a eleições, que existem diferentes abordagens, interpretações e propostas de solução no que concerne ao problema da dívida da República Portuguesa. São estas perspectivas que estarão sob escrutínio dos eleitores no dia 5 de Junho. Ao assumir acriticamente a ideia de “ajuda externa”, a comunicação social interfere no processo plural de debate de ideias, contribuindo para que a ideologia se sobreponha à democracia. É por isso inaceitável que o acordo da “troika” receba o rótulo de “ajuda”, tornando-se por isso urgente que os diferentes órgãos de comunicação social se lhe refiram em termos mais rigorosos, isentos e correctos de um ponto de vista da linguagem económica, recorrendo por exemplo às expressões de “crédito”, “empréstimo” ou “intervenção externa”.


Um empréstimo não é ajuda. Subscrevam a petição.

10 comentários:

  1. aS PALAVRAS SÃO IMPORTANTES

    manifestações só as partidárias

    as outras não são manif's

    há que ter respeitinho

    EU DOU-TE O ARROZ

    fredag 27. mai 2011
    A DEMO CRACIA É PARA QUEM PHODE NÃO É PRA QUEM QUER ATÃO PENSAS QUE PHODES MANIFESTAR-TE NOS CU MÍCIOS
    A ANIQUILAÇÃO DEMOCRÁTICA A BEM DA NAÇÃO

    QUERES MANIFESTAR-TE Ó FASCISTA

    AGENTE DÁ-TE O ARROZ

    Deus ajuda a quem a si mesmo a judá

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  2. uma comunicação social

    e partidos que oram por liberdades

    mas que são contra quando nã são nos lugares indicados?

    não é ajuda é verdade
    é mais esmola

    espórtula a um povo de deficientes mentais e carneiros

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  3. As subtilezas na comunicação têm uma capacidade superior de influência, a absorção "controlada" da informação é muito "balizada"... No mundo do subtil a emoção desencadeada dificilmente pode ser reconhecida como uma mentira.

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  4. No mundo do subtil a emoção desencadeada dificilmente pode ser reconhecida como uma mentira...

    isto até dava para fazer um programa

    no mundo do Francisco Subtil

    a emoção desencadeada pela tomada de reféns numa casa de banho nessa meca da cultura que é a RTP

    um manifestante passa a assassino

    e um ladrão passa a gentil-homi

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  5. No mesmo sentido, veja-se o post de Manuel Brandão Alves ontem publicado no blogue http://areiadosdias.blogspot.com

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  6. E ainda diz mais: diz que o programa [do PSD] vai mais longe que o programa do FMI”.

    E ainda diz mais: diz que o programa [do PSD] vai mais longe que o programa do FMI”.

    E ainda diz mais: diz que o programa [do PSD] vai mais longe que o programa do FMI”.






    Hoje vi uma entrevista do líder do PSD em que ele diz que o programa do FMI é uma grande ajuda para a aplicação do programa do PSD.


    Ele nunca tinha sido tão explícito.

    Afinal de contas, ele sempre desejou a ajuda externa, fez tudo para que o FMI viesse para Portugal e agora vem dizer que afinal o programa do FMI o ajuda a executar o programa do PSD”, disse, no final de uma ação de campanha em Caxinas, no concelho de Vila do Conde. Referindo-se à mesma entrevista, Sócrates prosseguiu: “E ainda diz mais: diz que o programa [do PSD] vai mais longe que o programa do FMI”.

    http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=487405


    Estas palavras são de Sócrates.

    MAS PODEM SER MINHAS QUE TAMBÉM LI O QUE ELE DISSE...

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  7. Não me custou nada assinar a petição, porque concordo com a sua substância, embora talvez nem tanto com a forma. Direi a seguir.

    Não é bonito falarmos de nós, mas desculpem lembrar que fui dos primeiros a denunciar essa da ajuda, no Moleskine.

    A minha reserva é a da utilização de petições online. Já está estafada e, por isso, desvalorizada, servindo para tudo, desde o fontanário da aldeia à reestruturação da dívida. Há formas mais eficazes. hoje ou amanhã proporei uma aos meus amigos bloguistas, para ainda valer antes das eleições. um metablogue.

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  8. Que grande "ajuda" teremos... com juros de agiotagem.
    Temos de renegociar a dívida, caso contrário o país definhará. Tenho muito más recordações da minha infancia, de há + de 60 anos. Vi, de muitas maneiras, a expressão da miséria. Não queria falar dessas recordações.
    Nós já estamos muito doentes, sim, pq com um grave problema de saúde pública. Que irá aumentar.

    Querem q se venha a inscrever nos Orçamentos de Estado mais construção de cadeias para pilha-galinhas? Os gatunos grandes continuaram à solta quase todos. Querm ver a mendicidade por aí, à solta? Agora não teremos os bandos de esfomeados a ir para as portas dos conventos.
    Temos de ver q esta acordo vai ct os direitos humanos. (Há muito tempo um jornalista, JMF, brincou com a pobreza quando a Comissão Nacional de Justiça e paz entregou na AR um documento em q dizia expressamente que a fome entra na ausência dos direitos humanos).


    Sim, a semamântica tem muita importância. Esperemos que emende o vocábulo "ajuda" por outro entre alguns possíveis.

    Almerinda Teixeira

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  9. Caro João vou levar na íntegra este post.
    Muito bem escrito para não variar, e excelente reflexão que deve ser dada a conhecer ao maior número de pessoas possível.
    Continuação de bom trabalho!

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  10. pois não. agora expliquem porque as ajudas às pequenas e médias e micro e tal são sempre "linhas de crédito "...metam o crédito num sitio que eu cá sei.
    ( e a publicidade do bcp ? o banco ajuda! santa paciência , a lei da publicidade enganosa aqui não se aplica?)
    e já agora , essas coisa que vocês defendem , do investimento público , também é com recurso a crédito , não é? ai...vocês nunca ouviram falar do circulo vicioso da pobreza? assim , em temos actuais , nas sociedades desenvolvidas(?) , podiam incluir o recurso a crédito como mais um factor que a perpetua. mesmo sério que não arranjam teoria de desenvolvimento que não inclua judeu?

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