sexta-feira, 29 de abril de 2011

O que é que se defende depois da social-democracia?

Não acho que o FMI seja neoliberal. É uma instituição que tem tido uma evolução, por alguma razão o presidente é um socialista francês. A Comissão Europeia não tem ideologia como tal e o BCE tem uma agenda demasiado monetarista.

Augusto Santos Silva

Quem é que um dos principais ideólogos deste PsemS julga que engana? É que daqui a uns dias a troika apresenta a aplicação concreta para Portugal da doutrina do choque neoliberal, o culminar do ciclo de austeridade iniciado por PS-PSD a mando de Bruxelas-Frankfurt. As políticas públicas são como o algodão. Enfim, Strauss-Kahn foi um dos artífices do esvaziamento ideológico dos socialistas franceses, um bom exemplo de captura pelo mundo dos negócios, todo um currículo, toda uma crise intelectual e moral da social-democracia. Apesar de se notar, aqui e ali, um assomo de realismo económico na teoria, o FMI impõe na prática um programa maciço de privatizações, o aumento do regressivo IVA e brutais alterações na legislação laboral para facilitar amplos cortes nos salários e a destruição das forças sociais que defendem o Estado social. A Comissão Europeia é neoliberal enquanto tal desde pelo menos Maastricht, uma máquina política, relativamente protegida do escrutínio democrático, de liberalização e de expansão das forças do mercado global, que mina, como agora se vê, qualquer ideia de modelo social. Sabem que esta economia dita de mercado, este capitalismo, exige uma sociedade de mercado. Os estatutos do BCE e os seus comunicados dizem tudo sobre a sua natureza e sobre a natureza deste euro. Finalmente, Santos Silva simboliza bem a farsa de uma certa intelectualidade, que acabou por se fixar no poder como um fim em si mesmo e que agora se vê sem poder nenhum, meros anunciantes de inevitabilidades inviáveis, de utopias liberais, que disfarçam como podem. Triste destino político e intelectual, muitas lições.

6 comentários:

  1. Este euro....pois
    Hoje andei volteando na cidade que este euro levantou e fez cair
    E acho eu que não é uma questão de euro ou BCE, o pessoal arrasta-se os brasileiros e moldavos trabalham nas obras.
    O sandokan, o Tó e o Papa-miolos vendem-lhes miúdas, algumas provavelmente filhas ou sobrinhas deles próprios, dois gajos enrolam charros num carro, um dos gajos que escapou a duas overdoses vendedor e drogado antigo junta-se a outros 3 mais novos um talvez de 20 os outros mais avançados, ripam à noita materiais de construção das várias obras públicas que enxameiam a cidade e amanhã serão de novo vendidas provavelmente na mesma ou noutra obra, alguns dedicam-se a limpar o cobre dos edifícios arruinados e semi-arruinados
    Tirando meia dúzia de clientes das miúdas em carros que vão do muito-bom ao miserável as ruas só têm velhos, há um aroma penetrante na rua e acho que não é a social-democracia

    e a rua está assim há anos
    acho que para cima de 30

    acho que ninguém lhes disse que a social-democracia não chegava para eles

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  2. Amigo, eu não sou crente mas digo-lhe com toda a força: que deus o ouça! Espero que seja mesmo muito «neo» liberal. Pode ser que assim Portugal tenha a prosperidade económica que o modelo social nos impediu de ter.

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  3. Um país ocupado por outros países, que ao longo dos últimos séculos, sobretudo, sé. XIX e princípios do século XX perdeu totalmente a sua soberania, política, económica e cultural,e foi constantemente, humilhado, governado por uma elite cleptocrática, nunca, mas NUNCA, poderá qualquer hipótese de prosperidade económica. Estamos nas mãos dos que nos condenaram no Rossilhão, em La lys, em evoramonte, que nos traíram em angola, Moçambique e Guiné e, mais recentemente, em Matrische.

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  4. Caro João Rodrigues,

    Eu não consigo perceber por que motivo se prosseguem este tipo de políticas neo-liberais se após um período de criação de grandes desigualdades sociais como o que atravessamos este caminho leva inevitavelmente ao colapso de quem inicialmente beneficiou.

    Ou seja, políticas contracionárias e promotoras da desigualdade geram uma enorme erosão económica da sociedade que reduz o mercado interno e o consumo, o que acaba por atingir a minoria que deles depende para acumular riqueza.

    Mas porquê prosseguem este tipo de políticas se são um tiro no pé no longo prazo?

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  5. João Carlos Graça1 de maio de 2011 às 13:19

    Caro Nuno
    Porquê prosseguir "este tipo de políticas se são um tiro no pé no longo prazo?"
    Mas o "espírito" da coisa é mesmo esse, homem! Num certo sentido, sim, o mundo (performativamente) feito à imagem do neoliberalismo é a nave dos loucos, é verdade. Mas é esse mesmo o "espírito"...
    Quanto ao facto de a "enorme erosão económica da sociedade que reduz o mercado interno e o consumo" acabar por atingir a elite... bom, olhe que isso não é tão seguro assim. De forma nenhuma... A ideia, de novo, é conseguir viver numa espécie de "transferência" ou "deslocação" permanente que lesa os outros, é verdade, mas na qual cada agente pensa/crê que consegue evitar ser ele próprio lesado ("beggar thy neighbour", sim, mas como forma de evitar "beggar thyself"...).
    Alguns veriam nisto um sinal claro de ausência do tradeoff "clássico" produção-repartição. Pelo contrário, agora dir-se-ia ser flagrantemente necessário impor (por meios políticos) uma redistribuição igualitária como forma de garantir a continuação sustentada do crescimento. Ou ainda, no jargão de outra capela, evitar que as "relações de produção" se contituam em obstáculo ao desenvolvimento das "forças produtivas".
    E muito provavelmente teriam razão, sim. Só que essas, decididamente, não são as ideias do "grupo dominante", pois não?
    Mas isso são conversas mais longas...

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  6. Depois esse neoliberalismo todo desemboca no fascismo. Porque é a única maneira de manter o povo "contente" sem tocar nas elites, que o controlam. Mas enquanto se pode enganar toda a gente por algum tempo, näo se consegue enganar toda a gente o tempo todo. Porque se chega ao ponto em que näo há "outros" para culpar pelos problemas próprios, e aí... é que para cada fascismo há um...

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