segunda-feira, 18 de abril de 2011

Mudar de direcção

O Negócios da sexta-feira passada tem um conjunto de informativos trabalhos sobre a hipótese da reestruturação da dívida. O tom é dado por Rodrigo Olivares – “Portugal estaria claramente melhor com uma reestruturação antes do resgate do FMI e da UE”.

O Nuno Teles intervém cuidadosamente na questão da saída do euro, que também é aí tratada. Este cenário tornar-se-á cada mais plausível à medida que as soluções do europeísmo progressista vão sendo rejeitadas e que a União se tranca no austeritarismo, embora não se deva dar ainda a luta europeísta por perdida. É claro que o cenário de esboroamento do euro não pode ser equacionado sem considerar as escolhas políticas nacionais que teriam de vir por acréscimo, mas que hoje parecem implausíveis: reestruturar intensamente a dívida para compensar o aumento do seu fardo com a passagem do euro para o escudo, controlo estrito de capitais, nacionalização do sistema financeiro e autonomia para furar as regras do mercado interno europeu.

Os custos de transição são óbvios e elevados, mas poderíamos desvalorizar a moeda para ajudar a reequilibrar as relações com o exterior, controlar o crédito e colocar o banco central a financiar o Estado em momentos de crise, como se faz por todo o lado e deveria fazer também na Zona Euro. A desvalorização cambial teria repercussões negativas sobre o poder de compra dos salários, claro, mas poderá ser preferível aos cortes nos salários nominais que estão a ser programados pela troika.

De facto, em regime de capitalismo essencialmente descoordenado, o corte de salários nominais só se consegue através da pressão do desemprego de massas duradouro, da desregulamentação acrescida das relações laborais, da destruição do que resta da negociação colectiva e do medo adicional na economia que também se consegue com o despedimento mais fácil e barato. Um processo deflacionário lento e com encadeamentos económicos perversos, sobretudo estando as famílias tão endividadas. O enfraquecimento dos sindicatos que resultará deste plano terá consequências negativas na economia política nacional, na defesa do Estado social e numa modernização da economia que requer alguma pressão salarial e regras laborais ou ambientais exigentes.

A solução mais racional, como temos defendido, continua a estar na reconfiguração da arquitectura do euro, gerada por pressão das periferias, que têm mais poder do que parece, para evitar uma quebra dos salários assente numa autêntica fraude económica. De resto, tenho pena que no sítio do Negócios estes e outros temas continuem a ser tratados num dossiê intitulado “ajuda externa”. Para que serve esta fantasia ideológica? Para ser de referência, um jornal económico tem de ser sempre resolutamente realista. Mudem o título do dossiê para intervenção externa, por exemplo.

9 comentários:

  1. certo e os 14 mil milhões de euros que meio-milhão de portugas têm em obrigações do estado ou produtos de poupança garantidos pelo estado

    paciência os sacrifícios são para todos

    tivessem comprado carros "bons" com esse dinheiro, LCD's , casas e coisas assi

    e o dinheiro que a banca pôs em dívida pública. que se lixem e vão à falência

    reestruturem
    se até agora a poupança era pouca
    com medidas destas vai passar a ser nula

    e deixam-se de importar brasileiras e russas para fins sexuais e medicamentos e comidinha

    cortar nas dezenas de milhares de milhões de empresas públicas...good

    é um raciocínio in pecável

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  2. nacionalização do sistema financeiro
    não foi quando o pessoal fugia com as notas de 500$ e 1000$ e guardava tudo em dólares libras e francos

    e surgiam donas Brancas e Pretas
    e ninguém confiava em nada

    controle estrito dos capitais

    não sei se repararam mas esta nota azul zambiana

    vale......nada

    tenho umas 15 iguais cá em casa

    vendem-se a 50 centimos cada
    e nem isso valem

    também tenho uma de 1 milhão de marcos
    e nem sou coleccionador

    servem para manter uma perspectiva séria sobre o ass un to

    e comparar a Grécia com Portugal ou com a Irlanda
    é fracote

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  3. nota zimbabuéana

    rodésia Zâmbia Zimbabué no fundo no fundo tanto faz

    super-inflação juros de 50 a 150%
    açambarcamento de bens coisas assi

    e banheiras cheias de gasolina já não dá
    trocamos tudo por polivans

    felizmente muitos fizeram piscinas

    gente previdente né?
    ahora é só enxeri

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  4. Caro João Rodrigues
    "A solução mais racional, como temos defendido, continua a estar na reconfiguração da arquitectura do euro"... Será? Ou constituirá isso basicamente "wishful thinking" da sua parte?
    A sobrevalorização do euro faz parte, parece-me, dum cenário bem mais vasto, no qual os EUA andam a tentar convencer toda a gente de que têm de revalorizar... enquanto eles fazem "guerra de moedas" a valer, desvalorizando à grande, mas até agora guerra unilateral. Recordo que o valor do US$ passou de 1,1 há 10 anos para 0.7 hoje. Os EUA têm um problema de duplo D para combater, e sabem que mesmo a vantagem de senhoriagem de que gozam dá para esticar... mas não indefinidamente!... Não creio, sinceramente, que isto releve de "teoria da conspiração". Parece-me antes mera "economia política".
    Se, no meio disto tudo, lá porque a elite alemã conquistou reserva de MdO barata na frente leste e fez em paralelo com isso a experiência de engenharia social que fez, o que lhe permite jogar a carta da "moeda forte" e da quase-deflação... bom, enquanto é assim, pode dizer-se, ainda é só a Alemanha.
    Mas se depois, via Euro, a experiência de engenharia social se estende para oeste e para sul, via estabilidade preços "uber alles", via PIGS que manifestamente não aguentam... e a elite alemã continua a todo o vapor, porque no fundo sabe que a retórica europeia é mesmo só isso, retórica para tolos, "fools for Europe", e porque o PE, dada a estrutura constitucional da UE, não passa ("há que dizê-lo com toda a frontalidade") dum simpático grupo de palhaços, porque o BCE é "independente" e etc. e tal... - até quando, diga lá, é que nós precisaremos de aguentar isto, de suportar esta "mendacity", de fazer de conta que achamos ter alguma probabilidade de ser ouvidos de boa-fé e atendidos nas nossas pretensões razoáveis, antes que economistas de esquerda e xpto sejam capazes de perceber o ensandecimento colectivo (ou a otarice colectiva...) que tudo isto expressa?
    OK, acho já "fiz o meu ponto"... Cenários alternativos? Bom, leia os relatórios Lapavitsas, Teles et al, c'os diabos... Aliás, o João mesmo já os citou! Sair, desvalorizar, "haircutar", nacionalizar a banca, controlar os movimentos de capitais... Está lá tudo, francamente: até para diletantes de coxia como eu, quanto mais para economistas de esquerda xpto e sangue na guelra!...

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  5. Reforma aos 68 anos

    quer fmi

    FMI impõe horários flexíveis nas empresas
    Para reforçar a competitividade, flexibilização será automática. E a reforma passa para 68 anos.

    http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/fmi-impoe-horarios-flexiveis-nas-empresas010921420

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  6. Este John Charles Grace é mesmo um pândego. Uma exaptação, um fenómeno QWERTY...

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  7. A reforma que Preconiza? Mas o João Rodrigues desconhece o acordão da constituição alemã de 19991? Anterior ao tratado de Maastricht? Julgo que o SPD ou os Verdes o alteram? A esquerda alemã respeita o tribunal constitucional como ninguém. Com a redução do desemprego as pessoas sentem-se bem. Os salários estão aumentarJulgam que os finlandeses são artolas? Vocês sonham com ladrões. Por que não ouvem o Graça. Um tipo lúcido.
    Bom é porque a Europa acalenta a fantasia socialista que a pequena piolheira não pode promover. Pois é.

    Jorge Rocha

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  8. Uma exaptação....neodarwinistas económicos?

    ainda existem?

    não se tinham extinguido na crise do Suez?

    ou é um elo perdido?

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