quarta-feira, 20 de abril de 2011
A Economia Moral da Dívida
“Os portugueses vivem acima das suas possibilidades”. É uma proposição moralista vinda de quem gosta de dizer que a economia é amoral.
Em Portugal o saldo da conta corrente tem sido negativo, isto é, a balança de pagamentos é equilibrada com empréstimos contraídos no exterior pela banca, o estado e as grandes empresas públicas e privadas. Este saldo negativo acentuou-se desde a entrada no Euro. Portugal viveu a crédito e isso só é possível durante algum tempo. O moralista pergunta: quem é responsável? E responde: “Todos”.
Não, não somos todos responsáveis.
A história dos países periféricos da Europa reproduz em escala macro o drama do “subprime”. Um pobre endivida-se quando lhe oferecem crédito ao preço da chuva e acredita que poderá pagar porque a coisa que adquire com o dinheiro emprestado se está a valorizar e se irá continuar a valorizar no futuro. O dinheiro emprestado irá torna-lo mais rico e sendo rico pagará com facilidade. O usurário por acaso até sabe que o pobre irá explodir um dia e por isso mesmo passa a batata quente da dívida a outros pobres (e ricos) impingindo-lhes produtos “derivados” recheados de hipotecas duvidosas. Quem é responsável? O pobre ou o usurário?
Como é esta história na versão macro? Os bancos e outras instituições financeiras tendo em mãos recursos financeiros abundantes, cujos donos não querem, ou não podem, canalizar para a “esfera real”, emprestam-nos aos estados, aos bancos e às grandes empresas das economias deficitárias a juro baixo. Estas economias esperam crescer com o investimento privado e público e a expansão da procura interna. Essa era a promessa da convergência na UE. Crescendo poderão fazer face à divida. Os credores por acaso até sabem, ou suspeitam, que o crescimento não é garantido e que o processo de endividamento não se pode prolongar indefinidamente. Mas isso não lhes interessa nada porque no fundo acreditam que se a coisa não correr bem lá estarão as instituições internacionais para garantir que os Estados dos países endividados obrigam os pobres desses países a pagar a dívida privada e pública. Quem é responsável?
Conclusão:
ResponderEliminaro inumerismo empobrece.
A menina rica, quando lhe pediram uma redacção sobre uma família pobre, escreveu: era uma vez uma família pobre: a mãe era pobre, o pai era pobre, os filhos eram pobres, a empregada era pobre, o jardineiro era pobre, o motorista era pobre...
ResponderEliminarO primeiro ministro e os ministros de um país atrasado e pobre não têm que ser atrasados e pobres.
Um país, mesmo não sendo rico, pode ter ao seu serviço economistas, especialistas em finanças, etc. Um governo de um país pobre pode cair em ilusões, mas apenas se o quiser activamente. Pode aproveitar-se da ignorância do povo, mas então deve ser julgado por isso.
Acho que já passámos o limiar da atribuição de responsabilidades tal o caos em que estamos mergulhados.
ResponderEliminarPercebo que "os pobres" não saibam nem suspeitem que "o crescimento não é garantido e que o processo de endividamento não se pode prolongar indefinidamente".
ResponderEliminarMas não percebo porque é que "credores por acaso até sabem, ou suspeitam, que o crescimento não é garantido e que o processo de endividamento não se pode prolongar indefinidamente" e os Estados não saibam ou suspeitem disso. Será porque, ao contrário dos credores, os Estados são dominados por economistas Keynesianos que ainda acreditam no multiplicador Keynesiano?
O que dizer então dos ditos economistas keynesianos que ainda há poucos meses apelavam (e ainda apelam!) a grandes investimentos públicos realizados à custa de mais endividamento público (mascarado de privado por PPPs, empresas do SEL, do SEE, ...)?
Quando é que esses economistas vão fazer mea culpa? Ou esses economistas são tão ignorantes como "os pobres"?
A ideia que se tenta passar é que as pessoas chegaram aos bancos e exigiram dinheiro e estes foram obrigados a ceder agora aqueles que exigiram o dinheiro não querem pagar ou porque não lhes apetece ou porque não têm como pagar(actuando de má fé pois sabiam aquando dos empréstimos que não conseguiriam pagar). Tudo isto não passa de mais uma fraude intelectual(se é que posso utilizar esta palavra neste contexto).
ResponderEliminarTexto certeiro. Quem não se lembra dos anúncios dos bancos oferecendo créditos para tudo e mais alguma coisa? Desde casas a carros, até férias no Brasil e nas Caraíbas. E, claro, tudo com juros baixos e aparentemente com excelentes condições. Eu próprio recebi, durante vários anos, uma proposta do banco que, no início do Verão, me oferecia um crédito de 30000 euros pré-aprovado. Só precisava de assinar e...já estava. Claro que nunca o fiz. Mas, outros, menos cultos e informados, caíram nessa e noutras esparrelas. Ou seja, se uma parte da classe média (que é dela que se trata) viveu a crédito, foi porque a banca estimulou esse modo de vida, com o apoio de outros setores que também dele beneficiavam (como as empresas de construção, a grande distribuição e outras). Por isso, aqueles que agora acusam a generalidade da população portuguesa de "viver acima das suas possibilidades" só mostram o seu farisaísmo.
ResponderEliminarOs Constâncios, os Mexias e os Varas (entre outros) é que viveram (e vivem) acima das possiblidades do país!
Entre o "O dinheiro emprestado irá torna-lo mais rico e sendo rico pagará com facilidade." e ainda insistir que o problema português ainda é o subprime americano, a caricatura assenta muito bem nas soluções de esquerda que aqui se propõem: basicamente, gastar como malucos, gerando inevitavel e fatalmente, desenvolvimento e crescimento a 10%/ano, e, com isso, vamos ser tão ricos e em tão pouco tempo que pagamos tudo o que devemos e ainda sobra para um iate por português. Por outras palavras, e parafraseando o próprio post, "O dinheiro gasto irá torna-lo tão mais rico e sendo rico pagará com facilidade."
ResponderEliminarHá ideias, do meu ponto d vista, muito válidas aqui neste blog -- nomeadamente criar um garrote para o sistema financeiro.
Mas, curiosamente, as principais soluções para a crise vindas da esquerda resumem-se neste post, desde que o viremos ao contrário: "só temos de ser ricos para pagarmos o que devemos".
Quanto á pergunta: então e os politicos, é de notar que no periodo em que tudo parecia funcionar a crédito, os politicos podiam ser preguiçosos ou negligentes, deixando que a ilusão de qualidade de vida mantida a crédito mascarasse a sua incapacidade ou relutância em promover políticas de valorização do trabalho.
ResponderEliminarEu miudos: dá para congelar ordenados reais, se houver dinheiro para crédito, sem demasiado descontentamento social, que se reflecte em votos.
PS À FRENTE DO PSD AHAHAHAHAAH
ResponderEliminarHoje 21 de Abril 2011
http://economico.sapo.pt/noticias/ps-ultrapassa-psd-nas-intencoes-de-voto-a-seis-semanas-das-eleicoes_116489.html
PS 36 %
PSD 35 %
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O PS e o PSD estão tecnicamente empatados a seis semanas das eleições legislativas de 5 de Junho mas, entre Março e Abril, os socialistas subiram 11 pontos percentuais para os 36% assumindo a liderança das intenções de voto, enquanto os social-democratas caíram 12 pontos para os 35%
Não há moral nem justiça, não há outra visão que não o lucro, que não um jogo, um jogo de biliões, jogado por poucos que põe em causa a vida de muitos. Há necessidade de uma revisão profunda das regras. Como comprovado e admitido um homem ou um pequeno grupo deles fica neurológicamente cego quando joga tendo em vista a multiplicação rápida e fácil daquilo que foi criado com o fim de servir uma economia real e não como sendo o prórpio fim - o dinheiro. São as empresas financeiras , bancos centrais, agências de rating,sistemas de offshores.
ResponderEliminarAs pessoas adormeceram comprando LCDs e luzindo carros novos, e continuam a votar nos que são comprados por esses poucos agentes que ditam as vidas de muitos. Diabolizem o FMI, que não faz outra coisa que seja tentar ter um bom negócio, e não acordem. Continuem a tocar viola e a deixar o poder nos mesmos.Teremos mais do mesmo. Pelo facto de uma pessoa não usar fato e gravata , não quer dizer que esteja preocupada com os outros. Futebol é futebol, política é política.