quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ajuda às más práticas...

Berlim dá desta forma o sinal de que aceita ajudar os países em dificuldades de financiamento, mas impõe como condição a adopção por todos das práticas alemãs de boa gestão económica.

Ajudar? Boas práticas alemãs de gestão económica? Duplo equívoco de Isabel Arriaga e Cunha. Não há qualquer ajuda alemã aos países em dificuldades, mas apenas ajuda ao seu sistema financeiro que está altamente exposto à dívida das periferias, como já antes tinha estado exposto ao subprime norte-americano. Além disso, estamos a falar de financiamento com taxas de juro elevadas e com condições inaceitáveis. Quanto às boas práticas de gestão económica, estamos a falar do quê? De uma taxa de crescimento económico anual na Alemanha de 1,6%, entre 1999 e 2007, ou de -0,8%, entre 2008 e 2010 (o crescimento anual da Zona Euro foi de 2,1% e de -0,8% e o de Portugal foi de 1,7% e de -0,8% nos mesmos períodos, como se indica neste estudo)? Da dívida pública alemã que devido a um regime de baixo crescimento se fixava em 75%, em 2009, pouco abaixo da média da União. Falamos das violações do PEC quando foi preciso? Podemos se calhar estar a falar na redução das despesas públicas em percentagem do PIB neste período, um dos poucos países avançados a alcançar duvidoso feito como parte de uma reestruturação neoliberal que terá contribuído para que o crescimento da pobreza e da desigualdade tenha sido aí, segundo a OCDE, mais rápido do que em qualquer outro país desenvolvido. Estaremos a falar da posição externa favorável da Alemanha muito à custa dos trabalhadores alemães que viram o peso dos seus rendimentos no PIB cair 3,2 pontos percentuais, uma compressão salarial pouco cooperativa, que contagiou a economia europeia e que explica esta fraca performance económica? Como sublinha o economista alemão Till van Treeck, este modelo é ineficiente economicamente, injusto socialmente e prejudicial para a integração europeia. É claro que o chamado capitalismo renano, como já defendi, mantém algumas práticas interessantes, por exemplo em matérias de relações laborais, que ajudaram a evitar uma grande destruição de emprego nesta crise, heranças de tempos mais progressistas, mas estas práticas passaram a estar subordinadas a uma estratégia competitiva prejudicial à economia europeia e que não é logicamente universalizável (os excedentes comerciais de uns são os défices de outros...). É então preciso que se deixe de pensar as questões europeias através do quadro de prioridades das elites políticas alemãs e do capital industrial-financeiro que suporta as políticas de austeridade.

5 comentários:

  1. João Rodrigues, a mim parece-me que os alemães estão a ser manipulados e manietados pelos próceres da ordem imperialista e neo-liberal São títeres dos americanos e do grande capital internacional (os serviços também querem salários baixos). Parece-me uma tese esplendida a defender nas suas conferências.
    Já agora, a descida constante do desemprego que tem alguma relação com a contenção salarial, mas com vários outros factores, não beneficia as pessoas comuns? Subir pouco os salários e aumentar o emprego não será uma política de igualdade?


    Jorge Rocha

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  2. Os neo-reacionários do pós 11 de setembro:

    http://rick-beyondtheveil.blogspot.com/2011/01/httpwww.html

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  3. Mais um post esclarecedor de João Rodrigues, parabéns e obrigado pelo seu contributo.

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  4. Peço desculpa, mas viendo na alemanha gostaria de começar por corrigir algumas afirmações.
    A Alemanha continua a ser um dos países do da Europa em que a igualdade de rendimentos é maior, enquanto em portugal a desigualdade é máxima. Consultei várias fontes respeitantes a 2008 e 2009 sobre o caso. Nem os salários diminuiram; subiram é com um ritmo menor do verificado em outros países. Nem as reformas se centraram apenas na contenção salarial. Esse é apenas um aspecto. Um de oito ou nove. Esta tese é incorrecta. Além disso o capitalismo renano tem inúmeros aspectos interessantes que estão a ser adulterados neste tipo de anaálise. Uma parte importante da própria direita alemã não defende um estado mínimo.


    Pedro Panarra

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