quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O vício da desigualdade

Marcas como a Porsche e a Dior parecem indiferentes ao apertar do cinto e estão a aumentar as vendas. Na primeira página do Público pergunta-se candidamente: “Por que aumentou o consumo de luxo com um orçamento mais duro?” Orçamento mais duro? Mais duro para quem? Desculpem, mais duro para que classes sociais? É que para os mais ricos e poderosos o orçamento tem sido bem mole. A austeridade é assimétrica. Enfim, no editorial repete-se o discurso moralista, mas pouco moral, sobre a “luxúria consumista” dos “portugueses”. Adoro este “portugueses”, este igualitarismo, como se fossemos todos iguais, como se estivéssemos todos no mesmo barco, como se o endividamento fosse todo igual, como se os padrões de consumo fossem todos iguais. Não são. Não somos. Somos dos países mais desiguais da Europa. A discussão sobre a desigualdade económica peca pela ausência neste trabalho. Alguma investigação económica, onde se tem destacado o trabalho de Robert Frank, indica precisamente que as imensas desigualdades, em sociedades em que poucos capturam grande parte dos ganhos, acentuam a ansiedade e a competição pelo estatuto. Trata-se de uma contraproducente corrida mimética a um consumo ostentatório, fixado por uma lumpemburguesia cada vez mais endinheirada, cujos valores materialistas se tornam hegemónicos, com efeitos negativos no bem-estar e na saúde financeira de muitos. O vício de que se fala no Público é o vício da desigualdade.

3 comentários:

  1. Desculpem a pergunta ingénua mas, sendo a indústria portuguesa fortemente dependente do mercado interno de bens e serviços sobretudo consumidos pelos que estão a ser desproporcionalmente afectados por esta crise (água, energia, bens de consumo, telecomunicações), não será este luxo um pouco ilusório, uma vez que ainda não foi atingido pela recessão provocada pelas assimetrias?

    Como vão permanecer ricos se a sua base de clientes se torna miserável? Pactuar com políticas recessivas não se torna um tiro no pé?

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  2. Esses, os verdadeiros ricos, não vivem no nosso mundo, no mundo dos comuns mortais que pagam impostos e que vivem do rendimento do seu trabalho. Logo, esses ricos, estão imunes à crise.

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  3. Bom dia ,venho por este meio solicitar um esclarecimento!
    Suponhamos que eu tenho um determinado seguro e podemos dizer seguro do carro já que o mesmo e obrigatório.
    Tenho um acidente ao qual eu não tenho a menor culpa mas como o seguro assim não entende envia para tribunal.
    O responsável do seguro sabe que eu não sou culpado mas mesmo assim tribunal.
    Fiquei com uma lesão que me vai impedir no futuro próximo de exercer qualquer actividade profissional.
    O caso se arrasta em tribunal ano traz ano e por fim uma audiência digamos 3 ou 4 anos de espera entretanto as despesas foram todas por minha conta.
    Antes de ser ouvido em tribunal o seguro oferece me um acordo e paga me um valor acima das minhas expectativas, eu como estou sem trabalho e cheio de dividas aceito de imediato.
    Ate ai tudo bem.
    A questão, esta em que quando o dinheiro acaba eu vou de imediato recorrer a uma reforma por invalidez e todas as despesas no futuro serão suportadas pela segurança social.
    Seria mais lógico ser o seguro a pagar em vez do estado ou os acordos efectuados deveriam ser acompanhados de perto pela segurança social e obrigar os seguros as suas responsabilidades. Obrigado pela atenção
    Rui Pereira

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