domingo, 5 de dezembro de 2010

A lógica da austeridade permanente

Esta semana ficámos a saber, através de Pedro Romano do Negócios, que o objectivo da austeridade e do crescente desemprego que lhe está associado está a ser alcançado: queda salarial em Portugal é a maior da União Europeia. Sempre a fraude monumental, alimentada pelos economistas do medo que cirandam por Belém, sobre o regabofe salarial. Até Constâncio a assinalou.

Entretanto, defendi, em entrevista a Raquel Martins do Público, que a saída da crise não se faz comprimindo os salários. Isto a propósito das virtudes do salário mínimo e da iniciativa patronal-governamental de rasgar o acordo alcançado, em 2006, na concertação social sobre a recuperação do seu poder de compra. Enfim, trata-se sempre de comprimir os salários. Esta é a lógica da política do PS que perdeu o S e do PSD que perdeu o S e o D. Esta é a lógica que torna a economia menos civilizada, a lógica que incentiva a ganância de accionistas que reduzem as empresas a uma fonte de dividendos antecipados...

10 comentários:

  1. Claro que este "post" merece melhor comentário, mas às vezes apetece aligeirar com brejeirice. Quando o PS vira só P, e concordo, o que significa a abreviatura? Vem logo à cabeça aquela coisa púdica de se escrever "filho da p...". O que me leva a dizer mais abertamente que o PS, agora P, é uma puta.

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  2. “…nunca nos devemos esquecer que neo-liberalismo, não é uma prática económica é uma ideologia,que visa o lucro de poucos e a escravidão de muitos, mais os países que se proclamam pró liberal estão todos a infringir as regras. Nos Países Escandinavos, de longe os mais igualitários do mundo, onde o usual fosso entre o salário mais alto e o mais baixo nas empresas é de 4 para 1 são os países onde ainda se tem os melhores serviços de cuidados médicos e segurança social do mundo e, aí vem a surpresa, ao mesmo tempo estes países estão no topo da competitividade do mercado, logo a seguir de Singapura e Hong-Kong, o que é uma prova empírica e clara que um espírito igualitário,destribuição de riqueza justa,segurança social, cuidados médicos, etc. não põe em perigo, necessariamente, a competitividade, como tanto gostam PSD e PS de apregoar aos 4 ventos.” aos 20:00

    mais em
    http://dumoc-and-me.blogspot.com/

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  3. Este cavalheiro também é dos que dizem que se deve baixar, baixar e baixar (3X) os salários.
    Para ele, viver com 450 € é inimaginável.
    Para muitas dezenas de milhares de portugueses, é o salário nosso de cada mês.
    Custa-me a entender como muitas das nossas empresas ( ou fusecas)
    não conseguem dar um aumento de 28 cêntimos por dia a cada um dos seus trabalhadores. Em contrapartida, há empresas povoadas por parasitas que no final do mês recebem um gordo cheque e a sua produtividade é muitas vezes duvidosa. Quem não puder pagar uma bica de dois em dois dias a cada um dos seus funcionários, é melhor fechar as portas pois não tem futuro.
    Disse!

    Sidónio

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  4. A blogosfera é um gigante com pés de barro. Vimos aqui aos comentários, juntamo-nos aos autores em muito de comum: refletimos, protestamos, gritamos. Mas depois o que dá tudo isto na ação política?

    Às vezes até penso que a net tem um efeito perverso: permite-nos tanto o desabafo que nos adormece a ação. A catarse é perigosa quando nos deixa adormecidos.

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  5. Caro JVC: comentários intesssantes, os seus. Mas note que a catarse (o desabafo, a purificação...) são partes indispensáveis da vida. Duvido, aliás, que só a nossa seja, como se diz, uma "sociedade-espectáculo". Os gregos antigos já conheciam a afinidade íntima da política com o teatro: comédia e tragédia...
    É claro que pretender, depois, limitar o espectáculo ao "entremez" sem consequências seria, isso sim, perverso. Mas não creio que seja esse o caso aqui.
    As razões sociológicas da expansão da blogosfera e as consequências disso são uma longa história. Mas aqui defrontamos, parece-me, um problema mais comezinho e mais imediato: em matéria de política económica vivemos já, hoje, num país amordaçado. É ver a situação com o miserável brainwashing permanente das televisões. E não há petições que nos valham.
    Assim, não admira o florescimento deste admirável mundo underground...
    Por outro lado, não esqueçamos que nós, portugueses temos uma grande tradição de vitalidade política "críptica". Mas valha isso, c'os diabos! Pelo menos, ainda mexemos.
    E este con-versar, descanse, para além de já ser em si mesmo positivo e interventivo, motiva mais do que desmotiva para outras formas de acção.
    Aceite as minhas saudações cordiais e os meus agradecimentos.

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  6. "Sempre a fraude monumental, alimentada pelos economistas do medo que cirandam por Belém, sobre o regabofe salarial"

    Belém?...
    Porquê Belém? O Governo tem sede em São Bento, não? Ou estou desactualizado?

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  7. João Carlos Graça tem razão. Eu é que não me expliquei bem. Que ninguém me leia como estando a diminuir o papel da blogosfera. Ladrões de bicicletas, Politeia, até, com outra visão ideológica mas a valer a pena ler, o Desmitos.

    Por muito que me falte o tempo, são leitura minha diária, nestes tempos de crise, para além de tudo o mais que vai aparecendo na imprensa internacional. Muito mais importante do que o meu interesse pessoal, é que a blogosfera "economicamente heterodoxa" é na prática a única contraposição ao domínio ideológico - lá volto à hegemonia - dos opinadores de serviço na nossa comunicação social.

    O que quis dizer é que enquanto esses intoxicadores continuarem a meter nas cabeças menos informadas que tudo isto é inevitável, que tudo é nossa culpa de gastadores, que não se pode assustar os mercados "histéricos", que não podemos vencer o 4º reich, que as regras do euro e do BCE são uma obrigação técnica, que o capital pode fugir para os offshores, etc., não vamos lá.

    E vamos ver em prováveis eleições antecipadas. provavelmente altera-se a maioria a nível de partido, mas não outra maioria mais ampla, significativa do domínio ideológico do grande domínio ideológico da família PS-PSD (e mesmo CDS), Dupont e Dupond. Eles pensam essencialmente o mesmo, têm o mesmo respeito obediente pelo grande capital, têm com este a mesma promiscuidade, vão juntos comer as migalhas que lhes oferecem como pós-política dourada.

    Mas também, seriamente, a esquerda radical dá segurança de um mínimo de sensatez?

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  8. Será sensato pensar que a nossa situação actual não se deve também às políticas dos nossos governos?

    O mal vem todo de fora?

    Uma esquerda radical que aprova as despesas que têm sido feitas, uma vez no governo vai ser capaz de obter os recursos para as suas políticas?

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  9. Não sabia que o PCP e o BE eram a favor de que fossem os contribuintes a pagar o buraco do BPN (e BPP...).
    A esquerda radical é mesmo despesista.

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  10. Como é possivel que baixar salários seja benéfico para a nossa economia?
    Com baixos salários como podemos estimular o consumo interno? Como poderão os trabalhadores ser produtivos se se sentem explorados?
    Como pode o Estado encaixar e aumentar a colecta de impostos se isso é percentual e depende também dos salários?
    Se todos os países baixarem os salários como poderemos exportar se eles também não comprarem?

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