De qualquer forma, a reestruturação acontecerá, no actual contexto europeu, mais tarde ou mais cedo, gerando imediatamente um aumento das taxas de juro da dívida pública dos países periféricos, sobretudo dos mais pequenos, onde as possibilidades de especular e lucrar com a volatilidade são maiores. A intenção do eixo franco-alemão era esta? Parece que sim, visto que está apostado numa estratégia de dominação disciplinadora, que não cuida do facto de o problema das finanças públicas ser geral e ser consequência sobretudo da crise económica que foi, em grande medida, atenuada pelo efeito dos chamados estabilizadores automáticos, ou seja, da quebra das receitas e aumento das despesas. Esquece-se que é impossível um esforço simultâneo de poupança pública e privada sem uma contracção da economia, particularmente num contexto de défice externo estrutural, reflexo de uma integração dependente. A redução do défice público sem crescimento económico só se consegue com um aumento simétrico dos "défices" privados ou com um extraordinário aumento da procura externa, e estas alternativas são muito difíceis no actual contexto. Num cenário de reestruturação da dívida liderada pelos credores, acompanhada por uma austeridade sem fim e por reformas do mercado de trabalho penalizadoras dos trabalhadores, a situação tornar-se-á insustentável. O contexto internacional de crescimento medíocre não permitirá qualquer saída pelas exportações (…) A alternativa é agora clara: ou o "Sul" se rebela ou o Sul é esmagado.
Excerto do artigo "Depois do fim do romance europeu", escrito com o Nuno Teles e a Eugénia Pires, dois dos autores dos relatórios do Research on Money and Finance sobre a crise europeia, e publicado este mês no Le Monde diplomatique - edição portuguesa.
Por Sul quer dizer os chamados PIGS da Europa,ou seja os estados já não soberanos da periferia europeia!
ResponderEliminarA ilusão continua a ser vendida,agora esperam que os estados ricos da Europa aceitem meter a dívida toda no mesmo saco??Isso era se realmente existisse uma séria vontade de criar uma Europa justa ao serviço dos povos e não como é,ao serviço das elites pró-Bilderberg e afins!
há
ResponderEliminarmas também há falta de vontade política
e antagonismos nacionais
ao serviço das elites (pró-Bilderberg e não só) e tantos afins
Gostava que me tirassem uma dúvida.
ResponderEliminarO António Avelãs Nunes no seu último livro (as voltas que o mundo dá...reflexões a propósito das aventuras e desventuras do estado social) afirmou sobre o dinheiro investido na economia bolsista que:
«trata-se de produtos virtuais, cujo valor global se calcula em cerca de mil biliões de dólares (o equivalente a vinte anos de produção mundial!), mal conhecidos, que não têm qualquer relação com a economia real e com as actividades produtivas (criadoras de riqueza).»
A minha dúvida consiste na fonte da informação. Não a encontro especificada no livro e talvez alguns de vocês pudesse saber.
Apesar do autor do livro não ser um dos autores do blogue, como são economistas de esquerda, poderiam dar-me uma ajuda a descobrir a fonte da informação.
Cumprimentos.