segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A austeridade não nos tira da crise



Estas políticas [de austeridade] que efectuam cortes nas despesas do orçamento reduzem a dinâmica salarial, reduzem o emprego público e, por conseguinte, travam o consumo. Reduz-se a procura no preciso momento em que as empresas estão em subprodução, em que o desemprego é elevado, em que portanto temos uma capacidade industrial e humana subaproveitada. Apenas se aprofunda o desequilíbrio. E os que dizem que o estado já não dispõe dos meios para fazer orçamentos de relance esquecem que, quando os salários são baixos, os impostos são baixos e as receitas do orçamento fracas. É muito desagradável estar numa situação de endividamento [excessivo] mas é preciso não esquecer que não foi o endividamento público que nos levou a esta situação difícil.

Esta é uma crise de endividamento privado. E foi para evitar uma crise financeira da dimensão da dos anos 30 que os governos tiveram de aumentar a dívida pública. Entre os dois males escolheram o menor. Este endividamento público, que era indispensável, não pode agora ser reabsorvido em menos de dez a quinze anos. Por conseguinte, deveríamos pensar num horizonte de médio prazo e admitir o aumento dos salários [mais baixos] no imediato para relançar a economia. Porém, neste ponto, defrontamo-nos com o que os economistas chamam um “problema de coerência inter-temporal”: o tempo político não é o tempo da economia, seria preciso um plano coerente para quinze anos. Não para os próximos dois anos.
(Extracto de uma entrevista com um investigador do OFCE. Ler na íntegra aqui.)

Tudo seria mais fácil se a ideologia da saída da crise pelo esmagamento dos salários não dominasse a Comissão, o Conselho e o Banco Central da União Europeia. Sendo assim, qual é a taxa de desemprego que estamos dispostos a aceitar para preservar/recuperar a imagem do “bom aluno” na UE? Todos os partidos deveriam ser confrontados com esta questão.

5 comentários:

  1. Fiz link deste post para amanhã às 6H30, porque concordo a 100%.
    Obrigado.

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  2. Por um lado temos a austeridade cega que transfere custos para os trabalhadores, por outro temos a corrente que quer preservar a todo o custo o comportamento consumista que levou a isto.

    Nem podemos ter o saque ao Estado e a cada vez maior polarização social da sociedade nem podemos ter a ilusão de que o poder de compra em crescimento perpétuo é a solução de todos os males.

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  3. A taxa de empregos a que os Governos estäo dispostos a aceitar para preservar/recuperar a imagem do “bom aluno” na UE e é, pelo menos 100%.

    Cabe ao Zé do povo manifestar-se para que tal näo aconteça, e que se tenha de pagar para trabalhar, que é o que o grande capital até desejaria!

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  4. pois , pedir dinheiro para potlachs tipo estádios expos autoestradas vazias rotundas e flores para belem não conduziu à falta de meios para combater a crise nem a agravou ...foi só os pobrezinhos pedirem dinheiro aos agiotas.
    ai , a ideologia é tramada.
    uma historieta , verdadeira : o arquitecto da camara mandou fazer uma cena acolá , gastou-se material , tempo e paciência ; depois de feito , não gostou e mandou destruir e fazer acoli...e a gente pagou.
    nada de novo sairá da cabeça de economistas e políticos. podem arrumar as botas. resumem-se a dizer que temos de tirar pelos de uma perna e por na outra.

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  5. As politicas de austeridade não agradam a ninguem, mas Portugal foi mal conduzido em termos economicos durante estes ultimos 20 anos. Todos os responsáveis politicos, têm a sua quota parte de responsabilidade, e não assumem,entrando antes em acusações mutuas que são infrutifuras. Neste artigo menciona o aumento dos salarios mais baixos para relançar a economia, concordo em parte, mas com grande controlo do estado, em que efectivamente esse aumento será para gerar algum consumo interno em produtos gerados ño pais e não em paises estrangeiros.

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