“Temos que evitar que os salários evoluam de forma mais rápida que a produtividade” e “tirar pleno partido dos dispositivos legais que permitem maior flexibilidade no mercado de trabalho”. Teixeira dos Santos indica implicitamente o objectivo da austeridade permanente e da conversa que lhe está associada sobre a “flexibilidade” laboral: fazer com que o crescimento dos salários reais deixe de acompanhar o crescimento da produtividade, transferir os custos da crise para a generalidade dos trabalhadores sob a forma de salários mais baixos, horários mais baralhados, menores custos no despedimento e ainda maior precariedade. Vale tudo: assim se compreende a fraude do suposto regabofe salarial nacional, tão conveniente para o capitalismo mediocre, que economistas como Sarsfield Cabral difundem e que o Nuno Teles rebate pela enéssima vez. Estamos em pleno “paradoxo da flexibilidade”: aceitar reduzir os salários comprime o mercado interno europeu, acentua as tendências deflacionárias, dificulta o serviço da dívida privada e aumenta o desemprego por toda a Europa. A cassete sobre as “reformas estruturais” até chega à ultraliberalizada Irlanda, como sublinhou Kevin O’Rourke no Irish Economy e como se confirma ao ler a declaração dos ministros das finanças europeus de ontem sobre a “assistência” a este país. Esta cassete é a expressão intelectual do esforço político com escala europeia para transferir todos os custos sociais para os trabalhadores. É mas é preciso que as “reformas estruturais” recuperem o significado de outros tempos, ou seja, o sentido do esforço colectivo para civilizar a economia.
Publicado no arrastão.
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