Notícia do Spiegel Online:
“O desacordo entre os ministros das finanças ilustra a amplitude das divergências entre os países da Zona Euro quanto à forma de lidar com a crise:
Portugal, Grécia e Espanha acusam o governo Irlandês de destabilizar os mercados financeiros com a sua teimosia e fazer subir as taxas de juro.
Todos juntos com a Irlanda, acusam a Alemanha de ter causado a última crise através da sua insistência em fazer suportar pelos credores privados a sua parte das perdas em futuras crises de dívida.
A Alemanha por seu turno assume-se como garante da estabilidade da Zona Euro no longo prazo e pretende garantir que os contribuintes não tenham que pagar sozinhos a factura em futuras crises.
O BCE [Banco Central Europeu] tem insistido que a Irlanda deveria requerer o auxílio do fundo de estabilização da UE por forma a que este possa entrar em acção apoiando o país. Em Outubro, o BCE fez um empréstimo de emergência de 130 mil milhões de euros ao sistema bancário irlandês – um quinto do total dos empréstimos que o banco central já efectuou aos bancos da Zona Euro. Sem esta ajuda, o sistema bancário irlandês teria entrado em colapso. O BCE argumenta que a situação actual não é sustentável no longo prazo.”
Três observações:
- Não é apenas a Alemanha que está reticente em continuar a financiar os países da periferia da Zona Euro. Os governos da Finlândia e da Suécia também enfrentam um eleitorado que não quer.
- Ao contrário da retórica oficial que fala de “contágio”, “estabilização”, “tranquilizar os mercados”, o problema da Zona Euro é muito mais grave porque é um problema de desequilíbrio estrutural entre territórios de uma mesma zona monetária em que uns geram excedentes na balança de transacções correntes enquanto outros (menos desenvolvidos) geram défices.
- Nos EUA , no Brasil, ou na própria Alemanha, estes desequilíbrios são parte do funcionamento corrente da federação. Há um governo federal eleito que define políticas e investimentos de escala federal e um orçamento que assegura a coesão global.
- Conclusão: não é realista continuar a pensar num federalismo orçamental para a Zona Euro, pelo menos no horizonte de uma década. Resta-nos ir caminhando de crise em crise ... até à implosão do euro?
Nota final:
Percebe-se a rápida aceitação do Reino Unido em participar na ajuda à Irlanda, mesmo não pertencendo à Zona Euro. Basta ver no gráfico em anexo quem vai acabar por receber a ajuda.
como é mesmo aquele provérbio sobre gatos assanhados dentro de um saco?
ResponderEliminar« Em Outubro, o BCE fez um empréstimo de emergência de 130 mil milhões de euros ao sistema bancário irlandês – um quinto do total dos empréstimos que o banco central já efectuou aos bancos da Zona Euro. Sem esta ajuda, o sistema bancário irlandês teria entrado em colapso. O BCE argumenta que a situação actual não é sustentável no longo prazo.”»
ResponderEliminarPorque é que o BCE não o emprestou directamente ao Estado Irlandês a juro zero? Bastava teclar umas teclas de computador para criar esse dinheiro ex-niilo, aliás quilo que fez para emprestar aos bancos comerciais.
Os bancos portugueses vêm há anos a bater recordes de lucros. Provavelmente, aos bancos irlandeses aconteceu a mesma coisa.
Saberão vossas senhorias, figuras primeiras dessa «ciência mais sublime de todas – a economia», porque tal não aconteceu?
É täo sublime que nem científica é!
ResponderEliminarO BCE não o emprestou directamente ao Estado Irlandês a juro zero porque näo tem mandato para tal... i.e. os especuladores que controlam os governos näo deixam. Ou como andariam a recolher os 10% de spread da dívida irlandesa?