terça-feira, 23 de novembro de 2010

A sorte do euro

As taxas da dívida pública portuguesa voltam a subir.

Como aqui disse, no próximo ano decide-se a sorte do euro.
O salvamento das economias da periferia da Zona Euro, uma a uma, não é sustentável, financeira, social e politicamente.
Os especuladores bem sabem que: (1) por muito que os governos destes países digam o contrário, as medidas de austeridade afundam ainda mais cada uma destas economias; (2) a doutrina económica que domina os decisores políticos no Norte da Europa, e em particular na Alemanha, não vai mudar tão cedo.

Assim, tudo se conjuga para que, sem crescimento durante os próximos anos, os défices continuem a fazer crescer a dívida destes países. Ano a ano, nem sequer pagarão os juros da dívida acumulada. Insustentável nas actuais condições políticas.

A vez de Portugal está a chegar, e a seguir a da Espanha. Esse será o dia do juízo final. Dada a dimensão da economia espanhola, a opinião pública e os eleitores alemães exigirão o fim desta vertigem suicida.

Como dizia há meses Wolfgang Münchau (aqui), os governos europeus cometeram um erro fundamental ao não deixarem falir alguns bancos e ao não fazerem os accionistas de outros partilhar os custos do seu salvamento.

E W. Münchau termina assim:
"A grande questão da eurozona não é a estrita disciplina finaceira mas a solvência nacional, que é um conceito muito mais amplo. Por causa da cobertura global dos prejuízos dos bancos [concedida pelos estados], já não é possível separar dívida pública de dívida privada. Temos pura e simplesmente dívida. Estamos assim numa situação paradoxal em que a sobrevivência dos bancos está mais garantida do que a dos que os salvaram."

Por tudo isto, a greve geral deve ser não apenas um dia de protesto mas também um dia de reflexão. Sobre um novo caminho a propor ao País.

9 comentários:

  1. Seria quase cómico, se não fosse trágico, ler as consecutivas justificações para a subida dos juros da dívida apesar de toda a austeridade e da "racionalidade dos mercados", que os jornais dão...

    ResponderEliminar
  2. Infelizmente penso que a greve geral pouco pode fazer para mudar o rumo das coisas.
    É urgente que outras vozes, outro modelo ecómico sejam difundidos e divulgados.
    Hoje os portugueses passam o tempo a olhar para a televisão, ouvir sempre os mesmos economistas e sempre com as mesmas receitas, onde dizem que é inevitável as medidas de austeridade. Mas se eles andaram errados estes anos todos, porque estarão agora certos na solução? Será que ninguém se interroga?

    ResponderEliminar
  3. Limitação minha, seguramente, mas há nesta nozada da divida duas questões chãs que ainda não vi esclarecidas por quem diz que percebe disto:
    1. Se o risco de incumprimento dos países onde tem subido o preço da divida é assim tão grande, como é que ainda há quem se disponha a emprestar ?
    2. Como é que o aumento dos juros garante o retorno do empréstimo ? Se uma gajo já está à rasca é subindo o preço do dinheiro que se garante que vai conseguir pagar ? Qual é a ideia ?

    Agradeço a quem possa esclarecer.

    C. Torres

    ResponderEliminar
  4. "2. Como é que o aumento dos juros garante o retorno do empréstimo ? Se uma gajo já está à rasca é subindo o preço do dinheiro que se garante que vai conseguir pagar ? Qual é a ideia ? "


    Essa é que é essa..
    Mal comparado, lembra os tempos em que a medicina achava que sangrar o paciente era o melhor remédio. E quanodo ele ficava pior, sangrava-se mais. A medicina entretanto evoluiu... outras disciplinas, nem tanto.

    ResponderEliminar
  5. Muito bem. Certíssimo. Retiremos pois, caro Jorge Bateira e caros LB, a conclusão (uma delas) apontada já, há meses, pelo Global Report de Nuno Teles et al. Se não dá ficar no Euro para o reformar "por dentro", saia-se então do Euro, assumindo-nos como nação democrática e soberana (de pessoas adultas e capazes de pensar por si mesmas) e aceitando as respectivas consequências.
    Mesmo admitindo por hipótese que necessitamos duma desvalorização da moeda de 10 por cento, o que será pior? Isso, ou (assumindo-se custos laborais de 50 por cento do valor acrescentado) uma descida dos salários nominais de 20 por cento? Ah, mas o juro subiria nesse caso insuportavelmente? Mas se é a nossa própria obstinação em continuar a aguentar o actual desenho da eurolândia, ou medo apavorado de a deixar, que nos torna vítimas desta lógica infernal! Se mais juros levam, no actual estado de coisas, a mais “austeridade”, que desemboca em mais recessão, que conduz a mais juros… Se é o medo, em suma, que nos faz proceder de tal forma, que acabamos por sofrer mais e mais e ter ainda mais medo!...
    E se começássemos mesmo, de forma determinada, a pensar no “plano B”? Lembram-se do Franklin Delano Roosevelt, o do New Deal: “there is nothing to fear, except fear itself..”
    Que tal pensar nisso a sério?

    ResponderEliminar
  6. Engraçado, engraçado é a Alemanha impor um tratado de Versalhes aos restantes países da UE (principalmente os mais fragilizados). Não acham irónico?!

    Resta saber é se esta atitude vai gerar ressentimentos...

    Se o FMI tiver pretexto para entrar cá garanto que vai gerar ressentimentos...

    Chamem-lhe Karma chame-lhe o que quiserem...

    ResponderEliminar
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  8. Caro C. Torres, a verdade fundamental é que o pagamento da dívida está *garantido*... por isso é risco ZERO! Tal como os bancos andaram a fazer "investimentos de casino", porque sabiam bem que os safavam (como aconteceu).

    O resto é conversa para boi dormir, para que o povo que esteja a ser subjugado, perdäo, austerizado näo se lembre que o "mercado" säo os especuladores que causaram a crise e andam a pagar "campanhas eleitorais" aos políticos que formam os governos.

    ResponderEliminar
  9. ...se os especialistas não se entendem...pobre zé povo...
    Cumprimentos e parabéns pelo esforço do vosso blogue.
    F.Soares

    ResponderEliminar