Artigo publicado na edição de Junho do Le Monde Diplomatique - edição portuguesa.
Em 2007, o primeiro-ministro José Sócrates colocava o desemprego, então em 8% da população activa e já acima da média europeia, como «o problema mais sério do nosso país». Em Maio de 2010, o mesmo José Sócrates, em entrevista à RTP, anunciava os dois pacotes de medidas de austeridade como necessários à defesa do euro, novo desígnio da política nacional. Entretanto, com o desemprego já nos dois dígitos, o primeiro-ministro apresentava os chamados Programas de Estabilidade e Crescimento (PEC), que terão um carácter recessivo, como o «bê-á-bá» da teoria económica. O governo do Partido Socialista assumia assim o aumento do desemprego nos próximos anos.
José Sócrates tem razão ao apresentar o Fundo Europeu de Estabilização como o resgate do euro. Mas o que esconde esta defesa, aparentemente fetichista, do euro na concepção neoliberal da arquitectura monetária que presidiu à sua evolução desde o Tratado de Maastricht, em 1992? Não foram certamente as necessidades de financiamento dos Estados periféricos (Grécia, Portugal, Espanha) que comandaram este plano de resgate. O ataque especulativo sobre os títulos de dívida tinha surgido em Janeiro e agudizara-se desde então, sem que a União Europeia (UE) tomasse qualquer iniciativa concertada. Só quando o risco de incumprimento do Estado grego se tornou um cenário provável, e o pânico tomou conta dos mercados financeiros, reuniram, durante um fim-de-semana, os governos europeus.
A verdade é que os bancos europeus, grandes detentores de dívida pública grega, sob a ameaça de fortes perdas no caso de não pagamento, a juntar às suas necessidades de financiamento em dólares (estimadas em 500 mil milhões de dólares) que a desvalorização abrupta do euro aumentou exponencialmente, começaram a ter dificuldades de acesso aos mercados onde conseguem a vital liquidez. O seu colapso, e consequente contágio internacional, pareciam ser um horizonte demasiado próximo. A abertura de linhas de crédito entre o Banco Central Europeu (BCE) e Reserva Federal norte-americana, permitindo acesso ilimitado dos bancos europeus a dólares, a humilhante intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI), financiado e controlado pelos Estados Unidos, e a compra de títulos de dívida pública europeus por parte do BCE no mercado secundário, permitindo aos bancos, mas não aos Estados, a venda dos seus activos, denunciam quais os verdadeiros beneficiários do plano de salvamento.
1. Quanto a Socrates, não percebo como é que ainda alguém presta atenção ao que ele diz. Afirmações de pessoas que não têm credibilidade nenhuma não têm valor. E já agora o mesmo se aplica aos restante politicos.
ResponderEliminar2. O fundo de estabilização europeu não é o resgate do euro. O fundo de estabilização europeu apenas contribui para o fim do euro ao permitir que os stocks de divida aumentem ainda mais, tanto nos paises perifericos, como nos paises mais ricos.
3. A única ameaça ao euro, e a causa do seu fim, é o facto de haver países que gastam repetidamente, ano após ano, muitissimo mais do que recebem. Nos EUA, quando um estado gasta consistentemente mais do que recebe vai à bancarrota e os seus habitantes sofrem as consequências e os credores perdem os seus investimentos. Já imaginaram o que aconteceria se sempre que a California estivesse na bancarrota os outros estados injectassem mais dinheiro? A situação tornar-se-ia insustentavel. Mais tarde ou mais cedo os outros estados procurariam limitar os gastos da California de modo a limitar o montante das ajudas que tinham que dar. Resultado, os Californianios sentir-se-iam tentadados a libertar-se da limites externos (se pudessem) e os outros estados fartos de estarem a sustentar pessoas irresponsaveis.
Enquanto não se limitar seriamente a capacidade de despesa dos estados, nenhuma moeda única pode sobreviver.
4."concepção neoliberal", muito gosta esta gente de chavões vazios, talvez para evitar discutir os assuntos.
O euro foi constituido para ser uma moeda forte e estavel que servisse de base as transacções da europa com o resto do mundo e ao mesmo tempo constiuisse moeda de reserva e premitisse aos europeus manterem as suas poupanças denominadas na sua moeda nacional sem terem medo da inflação.
Sim, por não esqueçamos que antes de entramos no euro, algo tão simples como fazer um deposito a prazo era uma operação de alto risco, uma vez que ninguém sabia que poder de compra que representaria o dinheiro que estava depositar agora, no espaço de um ou mais anos.
Para os alemães, estar no euro têm vantagens e inconvenientes. Estou convencido que são maiores as vantagens, mas também existem claros inconvenientes.
Já no caso Português só existem vantagens em estar no Euro. O facto de já não controlar-mos a politica monetaria é a maior de todas as vantagens. Pois assim o valor do dinheiro já não varia com os humores dos irresponsaveis que governam este país.
5. Como é obvio não são os interesses dos estados perifericos que definem a acção da UE, nem faria qualquer sentido que assim fosse, uma vez que os estados perifericos representam uma fracçao pequena da economia europeia. Os interesses dos estados perifericos devem ser respeitados e tidos em conta, agora é ridiculo defender que a europa inteira deve andar ao ritmo do que precisam os PIIGS.
6. A exposição dos bancos europeus à divida dos PIIGS não é motivo para salvar os PIIGS, sai muito mais barato salvar os bancos, do que continuar a injectar dinheiro no ponzi scheme dos PIIGS.
ResponderEliminar7."humilhante intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI)"
Humilhante porquê? É exactamente para estas situações que o FMI existe. Quando há governos ladrões e irresponsaveis que gastão infinitamente mais do que as receitas que têm, o FMI empresta dinheiro a esses países, muitas vezes quando mais ninguem está disposto a fazê-lo, para evitar que esses governos fiquem simplesmente sem dinheiro de um dia para o outro.
8."compra de títulos de dívida pública europeus por parte do BCE no mercado secundário, permitindo aos bancos, mas não aos Estados, a venda dos seus activos"
Agora também ja adquire divida governamental, e é precisamente por isso que o euro vai inevitavelmente acabar. Depois do pacto suicida de dia 9 de Maio já não há esperança.
Varias vezes ouvia este argumento, antes de 9 de Maio, que era uma injustiça o BCE emprestar aos bancos com grande facilidade e não aos estados. Ora isto é uma inversão da verdade. O que está errado é o BCE emprestar com tanta facilidade aos bancos, não é o facto de não emprestar aos estados.