quarta-feira, 14 de julho de 2010

Desmascarar a falsa neutralidade do Banco de Portugal

«(...) a que título é que o Banco de Portugal tem legitimidade para se pronunciar sobre a intervenção do Estado na economia, concretizada pelos seus legítimos representantes, eleitos democraticamente? Se a análise é técnica, então é preciso complementá-la com explicações sobre o sucesso de países como os do Norte da Europa - com fortes apoios sociais - ou como a Alemanha (com parte da banca controlada pelos "lander"), ou ainda como o Brasil - com uma política empresarial fortemente intervencionista.

Esta coluna pode criticar a intervenção empresarial do Estado, pode considerar que este Governo foi longe de mais nas redes que construiu de protecção e intervenção em empresas, algumas delas cotadas. O Banco de Portugal não pode, nem deve, pronunciar-se subjectivamente sobre opções que são políticas e determinadas pela escolha dos eleitores.

O trabalho que desenvolve sobre o mercado de trabalho merece ainda mais críticas pela ligeireza técnica com que o tema é tratado. O Banco de Portugal comete um erro de partida que é usar o indicador de rigidez do mercado de trabalho da OCDE quando os seus economistas sabem - ou deviam saber - que a realidade laboral é muitíssimo mais flexível.»


No dia em que a generalidade dos jornalistas em Portugal forem capazes, como Helena Garrido do Jornal de Negócios, de perceber que o que sai dos gabinetes do Banco de Portugal é mais do que trabalho técnico, talvez seja mais fácil quebrar o consenso da Almirante Reis. Até lá teremos de viver com os Ernâni Lopes e os Miguel Beleza deste país a dizer-nos, incólumes, que as receitas que nos oferecem são da mais pura natureza científica.

9 comentários:

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  2. Comprei há dias um excelente livro – Política Monetária e Mercados Financeiros – que me foi aconselhado por um jornalista do Diário Económico. O livro, síntese da experiência de ensino ao longo dos últimos dez anos dos autores Emanuel Reis Leão, Sérgio Chilra Lagoa e Pedro Reis Leão, na área da economia monetária e financeira, está escrito de forma inteligível e evita os excessos de gíria que normalmente atafulham as obras dedicadas a estes temas tornando-as totalmente crípticas aos leigos.

    O livro começa praticamente pelo processo de criação de moeda e, coisa espantosa, explica-nos candidamente, passo a passo, a forma como os bancos comerciais perpetram diariamente um roubo de proporções inimagináveis às famílias, às empresas e ao Estado.

    CONTINUA AQUI

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  3. Deixo aqui um post do grande William Mitchell, que o Ricardo há-de conhecer.

    http://bilbo.economicoutlook.net/blog/?p=10694

    Descrever o Trichet como "líder de seita" é hilariante, e não só pelas razões mais óbvias.

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  4. Tem toda a razão a jornalista Helena Garrido no artigo que escreve. O BP está a querer substituir-se ao governo, aliás, pretende ser ele o governo e traçar desde já o destino do país. Esta “encomenda” parece ser um “remake” dos primeiros tempos de Constâncio…E já estão novamente a esquecer-se dos TPC: fiscalização e supervisão. A pouca vergonha da mão invisível!

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  5. De facto, onde é que já se viu um Departamento de Estudos de um Banco Central fazer estudos? Inaceitável.

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  6. O problema é mesmo esse, DR. É que nem no que respeita à intervenção do Estado nas empresas, nem no que concerne ao mercado de trabalho, as afirmações feitas pelo BdP assentam em estudos. O BdP não pode assumir que o que afirma não precisa de explicação, muito menos quando se trata de afirmações que só são óbvias para os comentadores do Jornal das 9.

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  7. «É que nem no que respeita à intervenção do Estado nas empresas, nem no que concerne ao mercado de trabalho, as afirmações feitas pelo BdP assentam em estudos.»

    Não? Eu conheço vários estudos de investigadores do Banco de Portugal acerca do mercado de trabalho (publicados nalgumas das melhores revistas de economia da Europa). Acerca da concorrência não estou tão por dentro, mas penso que é mais provável terem alguma coisa publicada do que estarem a falar de cor :)

    Quando o Ricardo diz que as conclusões do BdP não assentam em estudos, não quer antes dizer que o Ricardo não os conhece?

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  8. Leia o post antes de comentá-lo: as afirmações que o BdP faz no Boletim Económico de Verão são feitas sem referência a qualquer fundamento. O BdP não pode armar-se em treinador de bancada (como lhe chama a Helena Garrido) e ao mesmo tempo aspirar a instituição idónea.

    Se conhece vários estudos, cite-os, vamos discuti-los. Eu conheço vários sobre mercado de trabalho - uns convencem-me outros não. Aqueles que partem do pressuposto que os indicadores da OCDE são uma boa proxy para a a flexibilidade laboral em Portugal estão na segunda categoria. É disso que fala o post.

    Já tive várias discussões com colegas do BdP. Há muitos excelentes, outros tantos que falam de cor sobre demasiados assuntos.

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  9. "Leia o post antes de comentá-lo: as afirmações que o BdP faz no Boletim Económico de Verão são feitas sem referência a qualquer fundamento"

    Eu li o Boletim. Por isso, concordo no apontamento metodológico: o BdP devia ter apontado as referências. Mas daí a dizer que elas não existem... :)

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