quinta-feira, 8 de julho de 2010

Crise e regressão social (em homenagem a Saramago)


«O capitalismo tem a pele dura», dizia José Saramago numa entrevista em 2008 (Expresso, 11 de Outubro). A partir de agora as suas palavras são ainda mais nossas. Estas, proferiu‐as ele numa altura em que a desmontagem crítica da crise parecia poder abrir uma janela de oportunidade para, finalmente, caírem por terra os mitos em que assentam os princípios neoliberais (eficiência dos mercados, capacidade de auto‐regulação do sector financeiro para evitar grandes sobressaltos na economia, dispensabilidade do Estado por parte dos sectores privados, «globalização feliz» e todas as teorias do «fim da história»). Apesar de ser hoje muito diferente o conhecimento que os cidadãos têm dessa complexa construção ideológica e institucional que é o neoliberalismo, e diferentes também as potencialidades de intervenção cidadã, o certo é que, por agora, tudo parece apontar para que os grandes culpados pela crise vão ser os seus grandes beneficiários. Dito de outra forma, esta crise do neoliberalismo está a servir para aprofundar o modelo neoliberal. A possibilidade, referida por Saramago na mesma entrevista, de «que se mude alguma coisa para que tudo continue na mesma», parece estar a ser substituída por uma arte, deveras impressionante, de não se mudar nada... para que tudo fique pior. (O resto do meu artigo do número de Julho do Monde diplomatique - ed. port. pode ser lido aqui.)

1 comentário:

  1. Com a morte de José Saramago, Portugal e grande parte dos portugueses perderam uma das melhores mentes e uma das vozes mais escutadas nas criticas, de saber feitas.
    Tomara que tivessemos vários da sua envergadura.
    Onde quer que esteja e se possivel continuará por certo a desmascarar as falsidades dos ditos socialistas e seus semelhantes.

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