quarta-feira, 23 de junho de 2010

O guarda-chuva de Bruxelas


Se existisse um Parlamento Europeu que fosse mesmo um Parlamento (eleito com listas europeias e não um somatório de listas nacionais) e se existisse uma espécie de governo europeu que emanasse desse parlamento, teria sido possível arrastar os pés com a crise grega e depois fazer passar este pacote insensato de sufoco orçamental coordenado e recessão?

Não sabemos. Mas sabemos que há uma grande diferença entre parlamentos e governos eleitos, que têm de prestar contas aos eleitores, e clubes de governantes (eleitos e não eleitos) como o actual conselho e comissão. Um governante eleito pode ser responsabilizado, o membro do clube pode sempre atribuir as responsabilidades ao clube no seu conjunto e assobiar para o ar.

É como se o governo português não tivesse querido o PEC1 e muito menos o PEC2 e tivesse sido o clube a mandar… E o mesmo tivesse acontecido com o governo Espanhol, e o Grego, e o Francês e se calhar até o Alemão. Individualmente nenhum queria. É pelo menos o que nos dão a entender e o que nos dizem se interrogados em privado. O pior é quando se reúnem à sombra uns dos outros: aí o que nenhum quer é o que todos escolhem.

A arquitectura actual da UE é um guarda-chuva para inimputáveis.

6 comentários:

  1. Caro, a UE tem instituições eleitas. Mas isso não torna necessariamente melhores as decisões.
    Já viste as últimas declarações do Soros sobre a Alemanha? ?

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  2. Já lá fui ao teu link... soubera eu alemão.
    E as instituições lá eleitas são, mas em "escadinha". Uma vez vi um "simulador social" mostar o efeito que isso tinha... Paradoxos: o colectivo escolhe o que os individuos dizem não querer.

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  3. "Se existisse um Parlamento Europeu que fosse mesmo um Parlamento (eleito com listas europeias e não um somatório de listas nacionais)"

    Não vejo como tal poderia ser exequível.
    A forma de organização política mais próxima que podemos comparar com a UE será os EUA, uma federação de Estados.

    Ora os representantes dos diferentes estados no Congresso e no Senado são eleitos em listas dos Estados. Nem concebo que possa ser razoavelmente de outra forma.

    Ou não entendi bem o alcance da sua proposta.

    Quanto à maior ou menor rapidez de excecução de medidas também não me parece que um governo federal pudesse ser, certamente, mais diligente.

    Na sequência da crise de 2007, a UE não foi menos célere que os EUA. Aliás, apesar de contar com maioria no Congresso e no Senado, Obama não teve uma tarefa fácil e expedita.

    Quanto ao apoio aos Estados da Federação em dificuldade a questão também não é assim tão pacífica. A Time desta semana, num artigo que registei aqui
    http://aliastu.blogspot.com/2010/06/bnkrpt.html

    reporta uma situação que, em muitos casos, não é tão diferente da observada na UE.

    Dito isto não digo que não concordo com algumas críticas feitas à forma como a UE é governada. Mas penso que nos governaríamos melhor se evitássemos procurar bodes expiatórios para as nossas incapacidades e procurássemos resolver os problemas que podemos e devemos resolver por nós próprios.

    Temos muitos. Temos demais mesmo.

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  4. Dizes "Paradoxos: o colectivo escolhe o que os individuos dizem não querer". Mas, é claro, o agregado não é igual ao somatório dos indivíduos. Um institucionalista dos quatro costados, como tu (e bem), devia achar isso compreensível, não é? O que é "os indivíduos não quererem"? É a soma das expectativas individuais? Querem ver que anda aí um "individualismo metodológico" a rondar-te?!

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  5. É um gosto visitar o seu blog e por muitos outros que tenho passado. Gostaria muito de deixar aqui o meu link para divugaão. Um novo blog que tem dado um pouco de falar, com vários temas actuais... Forte abraço e boa continuação. Tornem-se seguidores!

    http://quadratura-do-circulo.blogspot.com/

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  6. 1. As actuais instituições europeias claramente não funcionam, e talvez funcionassem melhor se mais poderes fossem centralizados em Bruxelas.

    2. Mas a principal razão da má governação a nível europeu, bem como a nível interno dos próprios estados, não é a forma como os politicos são eleitos. É mesmo o facto de serem eleitos. O problema é a própria democracia. O incentivo em democracia é para os governos governarem à moda de Julio César com pão e circo, e desenvolvimento nada!
    A maior parte dos cidadãos europeus nem sequer sabe gerir o seu orçamento familiar de forma responsável, como é pode eleger um governo que governe um país inteiro de forma responsável?

    3. A governação da europa foi está tomada por um classe politico-económica de parasitas que se perpetuam no poder mentindo às pessoas e entrentendo-as com pão e circo enquanto lhes roubam o futuro. A única solução para isto é revolucionária. Estes governos têm que ser derrubados pela força ou em breve o nível de vida na europa estará a par do norte de africa.

    4. Voltando ao post, criticar as medidas de austeridade é um disparate, em primeiro lugar porque na maior parte dos casos não são medidas de austeridade (mas apenas mais mentiras), e em segundo lugar porque a austeridade é inevitável.
    É grave só se falar na austeridade e nada em medidas de crescimento sustentvél, mas isso não obvia a necessidade da forte contenção.

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