Já aqui mencionei que os empréstimos e garantias feitas aos países do sul da Europa são, em última análise, garantias às instituições financeiras com forte exposição à dívida destes países. Hoje o Financial Times dá conta que a situação dos bancos alemães pode ser mais grave do que é normalmente assumido. Uma diferença de 34 mil milhões de euros. Parte dos seus activos gregos, ao estarem cobertos por CDS (Credit Default Swaps, contrato onde o valor do activo fica assegurado em caso de incumprimento), não são contabilizados como estando expostos ao risco de não pagamento. Contudo, se houver uma reestruturação da dívida (reescalonamento, renegociação das taxas de juro), estes CDS podem não ser obrigatoriamente activados, já que não existe um não pagamento tout court. Os custos desta reestruturação cairiam assim sobre os seus ombros. Ops!
Uma questão interessante é saber quem é que está a agir como contraparte nestes contratos de seguro. Ninguém sabe, mas provavelmente serão instituições (fundos de pensão ou seguradoras, por exemplo) mais interessadas no fluxo financeiro do que na volatilidade dos preços dos activos que asseguram. (Num CDS, a parte que assegura o risco de não pagamento (default) detém os direitos sobre o rendimento do activo durante o período de vigência do contrato.) Tudo isto faz lembrar o que aconteceu à AIG no pós-Lehman Brothers, quando o governo americano foi forçado a nacionalizar a seguradora. Caso contrário, a dimensão das perdas, provocada pelo não pagamento dos contratos de CDS detidos pela seguradora, causaria o caos um pouco por toda a parte. De qualquer forma, parece que qualquer default ou mesmo reestruturação da dívida, por parte dos países do Sul, produziria um terramoto financeiro global. Uma ameaça a usar por estes países se estivessem interessados em garantir uma posição negocial mais favorável.
Ao escrever o post, lembrei-me da cena final do filme “Clube de Combate”: uma gigantesca subterrânea conspiração dinamita as sedes das grandes instituições financeiras. Está visto que não são precisas bombas para provocar uma derrocada do sistema financeiro…
bastaria o incumprimento mesmo pontual de Portugal e da Espanha para fazer um dominó por toda a Europa, e adeus moeda única.
ResponderEliminarOs custos da insolvência da maioria das instituições não seria reparável nem com uma guerra!
O capitalismo ter-se-á suicidado?
Daqui para diante nada ficará como dantes.
Isto foi a descoberta de que a noiva afinal já era casada e tinha maridoe filhos...
Alguém deve ter sido enganado ...
1. Num contrato de CDS, uma reestruturação da divida é em geral considerado como default event e portanto acciona o pagamento. É certo que os CDSs ainda são sobretudo produtos over the counter e portanto variam nas suas condições. De qualquer modo custa-me a acreditar que os bancos que compram CDS sobre a divida dos PIIGS, andem a compram CDS que não incluem uma reestruturação no default events, isso era pra cima de estupido, uma vez que o default dos governos raramente é total.
ResponderEliminar2.A questão da exposição bancaria à divida soberana é uma questão seria, mas não se esqueça que sai muito mais barato à alemanha e à frança ajudarem os respectivos bancos do enterrarem mais dinheiro nos governos Madoff que vigoram nos PIIGS.