terça-feira, 18 de maio de 2010

Assimetria enraizada

Já várias vezes neste blog procurámos mostrar que os desequilíbrios macroeconómicos da UE são tanto um problema das economias centrais quanto o são das periferias. Por muito que insistamos, não há meio de o pensamento dominante sobre o assunto se ajustar. Krugman escrevia ontem no seu blog o óbvio: sem mecanismos de ajustamento cambial, os problemas de competitividade só se resolvem com alterações dos custos relativos (nós também já o havíamos escrito aqui e aqui). No caso presente da UE, os salários em países como Portugal teriam de descer substancialmente relativamente aos alemães. Eis a leitura que encontramos hoje num artigo do JdN: «O prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, acredita que a solução para os desequilíbrios na Zona Euro passa por uma descida dos salários nos países com menor competitividade da região. Dado que Grécia, Espanha e Portugal não podem desvalorizar a moeda, a solução passa por cortar nos salários, diz o professor de Princeton.» Krugman bem que insitiu na palavra relativamente, o que é compatível com a ideia já aqui várias vezes expressa de que os salários na Alemanha têm evoluído a um ritmo absurdamente baixo. Mas não há nada a fazer - há quem não consiga ver mais do que um lado da questão.

8 comentários:

  1. Uma solução alternativa seria aumentar 30% os salários na Alemanha, o que simultaneamente ajudaria a Grécia e alegraria os contribuintes alemães.
    Mas o que eu acho mesmo, no fundo, é que a conversa do Krugman é uma parvoíce sem pés nem cabeça.
    Pergunta: por que é que ele não propõe que os salários americanos desvalorizem 30% para os EUA poderem competir com a China? Dir-se-á que não é preciso, visto que os EUA podem desvalorizar a sua moeda. Mas o facto é que não podem, porque a China, ao continuar a comprar dólares, não deixa.

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  2. "há quem não consiga ver mais do que um lado da questão"
    Isso não inclui o próprio Krugman? Afinal, ele não escreveu em maiúsculas que os salários na Alemanha têm de aumentar, pois não? Também não escreveu em maiúsculas que a "livre concorrência" na UE prejudica imenso os países mais pobres, incapazes de competir com os países mais ricos. E também não escreveu que a crise do euro é uma crise de falta de solidariedade na UE. Nada disso, o que escreveu foi que os nossos salários têm de descer em 30% para sermos competitivos, caso contrário estamos perdidos.
    Krugman dixit, a direita assina por baixo.

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  3. Ricardo,
    Recordas-te do meu comentário de então? O que me preocupava era que a «leitura» que a correlação de forças actual promoveria seria a descida dos salários portugueses. Compreendo a tua perspectiva, embora diverge da perspectiva de que no momento actual, nas actuais relações de produção e no actual desequílibrio polítco (entre trabalhadores e capital) a cooperação internacional entre os estados é a coordenação dos interesses que determinam os actuais estados. Só com uma profunda alteração na correlação de forças será possível uma justa cooperação e mesmo integração internacional.
    Actualmente qualquer solução ou desenho federalista, por muito bem intencionado que seja, esbarra nos valores e nas opções políticas do poder dominante.
    Embora a expressão seja relativamente Krugman fala em descida e não subida... As palavras não são inocentes, nem sempre significam o que gostariamos...

    Abraço!

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  4. Em vez «de que» devem ler «porque»

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  5. Ricardo,
    creio que as nossas análises sobre os determinantes e as implicações dos actuais arranjos institucionais da UE convergem - e não é de agora. Também não divergimos muito quanto às expectativas que temos do que pode ser a UE nos tempos mais próximos. Onde divergimos é no que respeita à agenda política que achamos que vale a pena promover. Defendo que qualquer reforço da coordenação com bases minimamente democráticas é melhor do que a erosão civilacional que nos é imposta pelo status quo e que, por muito limitadas que possam ser as transformações no seio da UE, este é o espaço que maior potencial tem para progredir (deixemos o detalhe deste argumento para outra altura). Acredito que esta posição ajuda a clarificar a diferença entre o que temos e o que queremos e a tornar mais claro que existem alternativas razoáveis e viáveis, que as coisas não têm de ser como são. Suspeito que aqui discordemos. Mas também isso não será de agora. Um abraço para ti.

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  6. Que acutilante analise Joao Pinto Castro. Muito bom, muito bom.

    Subir salarios na Alemanha parece-me inovador. Ao nivel do melhor que foi feito, por exemplo, por Franklin Roosevelt. O facto de mais de 50% de exportacoes serem para fora da zona Euro e' um pequeno detalhe. Pode-se sempre impor mais tarde uma tarifa 'as importacoes. Certamente que os contribuintes alemaes ficariam alegrados.

    E sim, outra grande ideia, vamos pedir aos EUA que deprecie os seus salarios em 30% (com essa e' que apanhaste o Krugman - demais). Mas espera..o governo dos EUA, quase por definicao, nao pode entrar em banca rota ao contrario do grego, portugues, espanhol, e outros que tais.

    Meu caro Joao Pinto e Castro, volte ao seu Marketingzeco e deixe as discussoes de economia para os economistas - ou entao se directo e inscreve-te com o Yoram Bauman, a Jodi Beggs, ou com Merle Hazard para a componente de comedia dos proximos econtros anuais da AEA. Com sorte recebes apenas uma carta de rejeicao nao muito "rude" dos meus pares.

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  7. Caro Ricardo PM,
    Mas de que modo podemos resolver o nosso problema de baixa produtividade/competitividade face a paíoses como a Alemanha sem ser por via da redução dos salários nominais?O que é que os Ladrões propõem como solução?

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  8. Aumentar os salarios alemaes? será para a alemanhã se tornar tão pouco competitiva como os PIIGS?

    Se calhar assim deixavam de culpar os alemães e passavam a culpar os americanos os chineses! A culpa é sempre dos outros!

    Para, ainda que no curto prazo a forte descida dos salarios reais seja inevitavel, no medio prazo é possivel aumentar a competitividade da nossa economia, aumentado a produtividade do trabalho. Mas para isso é necessário termos um sistema de educação a serio acessivel a toda a gente.

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