segunda-feira, 12 de abril de 2010
Saúde Privada: Melhor e mais barata?
O discurso dos liberais para a privatização da Saúde assenta em dois argumentos: os privados fornecem um serviço melhor e mais barato para estado e utentes. É verdade? Este é um debate muito útil para perceber melhor o que se está a passar nos Estados Unidos e os esforços que na Europa estão a ser conduzidos para nos aproximarmos desse modelo no sentido da concessão a ou financiamento de serviços de saúde privados, elegantemente descritas como "liberdade de escolha".
O que é interessante é que, no momento em que a completa falência do modelo de saúde nos Estados Unidos está a aumentar a pressão para uma mudança de paradigma no sentido do modelo europeu, haja quem na Europa pressione para que se faça o movimento contrário.
Vamos primeiro aos factos:
1. É pura e simplesmente falso que a saúde privada seja melhor. O modelo dos Estados Unidos assente nas seguradoras produziu resultados esclarecedores: Os Estados Unidos estão em 37º no Ranking da Organização Mundial de Saúde (ONU), antes da Eslovénia e logo a seguir à Costa Rica. Só para dar uma ideia: o primeiro país é a França e Portugal está em 12º.
2. É pura e simplesmente falso que saia mais barata: sobre isto, ver gráfico abaixo, números da OCDE.
3. É inclusive falso que saia mais cara ao próprio Estado. Embora os Estados Unidos gastem muito menos em percentagem da despesa total com saúde e os utentes (os que podem) paguem incomensuravelmente mais, os EUA são o 3º país do Mundo, mesmo considerando apenas os gastos do Estado, OCDE outra vez.
4. Acresce que a despesa pública com saúde é paga com impostos que não são apenas os dos utentes. É financiado também pelos impostos sobre os rendimentos do capital, numa lógica solidária que é a razão de ser do Estado Social e o pilar da sua viabilidade.
Não admira, portanto, que os liberais se refugiem no discurso da Liberdade de Escolha. É mesmo o único que têm. E é dirigido para seduzir aqueles que podem escolher. Para que o Estado suporte um serviço de saúde de pior qualidade e muito mais caro em vez de o assegurar directamente, com vantagens de custo e de qualidade.
As concessões a privados, os benefícios fiscais a privados em cuidados de saúde que existem no Público, a inexistência de cuidados de saúde no público (saúde oral, p. ex.), são buracos abertos no Serviço Nacional de Saúde que vão corroendo a sua universalidade, qualidade e viabilidade. Com pezinhos de lã, como convém a uma política tão gritantemente contrária ao interesse público. A área de Saúde é uma das áreas em que os liberais têm de ter mais cuidado para não dizerem o que realmente querem. Senão, acontece-lhes o que aconteceu a William Kristol...
De maneira geral pode-se mesmo dizer que quanto mais publico é o sistema de saude, melhor é a cobertura de saude da populaçao, e mais barato sai, ver o exemplo dos paises Nordicos.
ResponderEliminarPor outro lado devemos constatar que mesmo os « melhores » sistemas de saude, como o françês que ainda em 2000 era classificado no primeiro lugar pela OMS, estao em vias de degradaçao sob a impulsao da Europa neoliberal.
Um exemplo : para uma operaçao que custe 1000 euros numa clinica privada o utente ja tem que pagar 300 euros da sua algibeira, porque os cirurgiaos conseguiram obter um sector derrogatorio (II) que lhes permite obter 60 euros numa consulta no lugar dos 28 euros dos especialistas do sector I. Coisa que ainda parecia incrivel ha apenas 10 anos atraz.
Por outro lado nao esquecer os défices enormes a que estao a ser sujeitos os sistemas de saude por falta de financiamento sufeciente. Mas a estratégia dos liberais é sempre a mesma : os governos poem os sistemas publicos em défice por financiamento insuficiente, depois dizem que o serviço publico é mediocre e custa caro, e que seria melhor gerido se fosse entregue aos privados. E o caminho que isto vai tomando…
Não vou negar que os serviços prestados pelo sector privado são melhores, é óbvio. Desde os médicos, aos auxiliares e até as próprias instalações.
ResponderEliminarVisitando o Hospital de Vila Real conseguimos ver imensas lacunas, que não vemos com tanta frequência nos grandes hospitais de Lisboa e Porto. Existem pessoas que foram operadas ao pé direito quando o problema estava no esquerdo. E das duas uma: ou as privadas conseguem esconder essas lacunas ou elas não existem. Seja como for, há uma procura por parte da população aos privados, por simplesmente serem mais credíveis. Mas em vez de o Estado apostar na qualidade dos hospitais públicos, vira-se cada vez mais para a privatização dos mesmos.
Em vez de tomarmos os EUA como um exemplo fracassado desse sistema, tomamos como um caminho mais fácil, pois a responsabilidade é menor e para variar há sempre quem lucre.
Carissimo,
ResponderEliminarVou fazer link.
Obrigado.
Infelizmente, a corja, os abutres, que defendem a privatização da saúde, e de tudo o mais que é publico, aliás, com os politicos que temos, a pouco e pouco irá levar a água ao seu moinho.
ResponderEliminarCoitados de nós, dos nossos filhos e dos filhos deles que iremos sofrer a bom sofrer estas politicas miseráveis destes politicos miseráveis e dos seus patrões para quem qualquer ser humano não passa de um número ou de uma coisa que se descarta.
Quando chegar a hora deles ( e também chegará, seus grandes bandidos.!!!!) que a terra lhes seja tão pesada quanto o mundo, são os meus sinceros votos.!!!
P.S:- AH.! E não se esqueçam seus miseráveis, que já não existe o purgatório. Vocés vão direitinhos para o Inferno.!!!!!
1. A saúde deve de facto ser exclusivamente pública, mas deve funcionar como um seguro, com verdade actuarial, em que cada um suporta o seu prémio e o estado suporta através dos impostos os prémios de quem não pode pagar e de quem tem condições de saúde crónicas que tornem o prémio injusto ou incomportavel. Sendo que a percentagem de subsidio neste segundo caso deve ser medicamente decidido de modo a garantir a igualdade de acesso ao serviço sem deixar de responsabilizar as pessoas que não procuram levar uma vida saudavel.
ResponderEliminarDeste modo, e uma vez que as despesas de saúde são transferidas para o utilizador, o estado deve depois reduzir os restantes impostos no montante dos prémios deste seguro obrigatório de saúde.
Este sistema é fundamental para que os cidadãos, mesmo aqueles cujo o prémio é suportado pelo estado, se apercebam dos custos reais do sitema de saúde e promovam o gestão racional e sustentável do mesmo.