terça-feira, 2 de março de 2010

Um blogue sem medina-carreirices

Vale a pena ler a entrevista que Sérgio Anibal fez a José Reis e que foi publicada ontem no Público. Excertos: “O Estado tem sido levado a criar mercado para os privados e a ser capturado do ponto de vista das suas funções técnicas. O Estado em termos técnicos está cada vez mais desapossado. Hoje interrogo-me se o Estado tem capacidade para assinar contratos com os privados. Esta é aliás uma pergunta que tem sido feita por muitos com respostas bastante convincentes. Portanto, há um contexto ideológico, ao qual é preciso dar uma certa resposta política e ideológica. Submeter-nos à ideia de que os mercados reconhecem cristalinamente o que se passa, isso não pode ser feito. O Estado é, evidentemente, que está no centro do debate político e ideológico e isso deve vir ao de cima. O pior seria naturalizarmos a posição das agências de rating (…) Endeusar o défice como se não estivéssemos numa situação como a actual não é grande caminho. Mas compreendo que tenha de haver sinais, mesmo para os tais mercados que são tão cruéis connosco. Agora o grande problema é que, quando se fala da despesa, já sabemos do que é que se fala. Fala-se de salários na função pública e de prestações sociais. A mim o que me parece é que seria muito útil um escrutínio rigoroso de toda a despesa do Estado”. Já agora, leiam um excerto da introdução, que aqui coloquei, à reedição dos Ensaios de Economia Impura.

Nota de rodapé em letra muito pequena: fiquei esmagado pelos ponderosos argumentos críticos da 4R a esta entrevista, que se prolongam na caixa de comentários com um modesto contributo do economista Tavares Moreira. Já agora, façam como eu e experimentem passar alguns minutos divertidos a ler na FNAC passagens do ensaio (ou romance?) de Tavares sobre conspirações e outras urdiduras económicas.

5 comentários:

  1. Por mais voltas que se dê “é o Estado que está no centro do debate político e ideológico e isso deve vir ao de cima”.

    Lapidar.
    (Obviamente que não gostaram da entrevista aqueles meninos que querem “um monstrinho só para eles”…)

    Os mesmos que tornaram o Estado num corpo frouxo, por vezes Faz-de-Conta: esvaziado de competências, de funções, de pessoas qualificadas. Por vezes à canelada. Os bens públicos vão sendo apropriados por muito poucos; as receitas provenientes dos impostos têm destinos controversos; o papel de regulador e fiscalizador desvanece-se; o ajuste directo com valores exorbitantes tornou-se apetecível; o planeamento público, parecendo feito por terceiros, descura áreas que não constituam nichos de negócio (casos recentes: Madeira, costa da Caparica, prevenção de fogos florestais, redução de ZPEs, etc. etc.).

    A quem interessa isto?

    O Estado só terá razão de existir como instrumento, de forma a garantir o bem-estar dos seus cidadãos. Das “boas acções e intenções” de que as nomenklaturas são pródigas – de Leste a Oeste, ficou o mundo farto.

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  2. Eh eh, mais um economista a criticar as agências de rating!

    As agências de rating são pagas pelos clientes (e.g. Estado Português) para avaliar e consequentemente credibilizar as emissões de divida.

    É graças as esses "catastrofistas" das agências de rating que estados ladrões (e.g. Estado Português) conseguem contrair dividas astronomicas que jamais poderão pagar.

    Para mais, quem conhece a historia dos erros das agências de rating sabe queestas nunca se enganaram por serem demasiado pessimistas. Antes pelo contrário, as agências têm todo o interesse em agradar aos clientes, nomeadamente clientes poderosos como os estados soberanos.

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  3. Não tenho a minima dúvida.
    Estes sr-(PS-CDS-PSD) abocanharam-se do Estado e agora, quais PitBuls da pior espécie, não largam o osso porque, além da carne que têm vindo a comer, querem chupar o tutano.
    Desgraçado país este que, com rarissimas excepções de governo no interesse e bem estar dos cidadãos, apenas tem sido usado para encher os bolsos da banditagem e com estes PSs energumenos ainda mais (vejam só a destruição dos serviços publicos; os dinheiros pagos em consultoria; as parcerias publico-privadas, etc, etc, etc.

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  4. Não leio gajos inibidos de trabalhar no sector financieiro pelo pouco interveniente banco de Portugal.

    Se um banco sempre tão cuidadosoe que o teve como governador o inibiu...

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  5. AINICIATIVA PRIVADA FALHOU
    São José Almeida, no Público do passado dia 20 de Fevereiro, defendeu que seria importante que a classe política e as aristocracias do poder político e económico começassem a assumir que faliu o projecto de sociedade, o modelo económico que foi ensaiado e contruído no pós 25 de Abril, sobretudo, desde o cavaquismo. Um projecto político subsidiário das teses neoliberais, que campearam nas democracias ocidentais - e não só nas democracias - e que se entretiveram a desconstruir muitas das estruturas do Estado Social, entregandoà criatividade da "iniciativa privada" e à sacrossanta liberdade de mercado as rédeas da condução do desenvolvimento económico.
    Na realidade, sendo reconhecido que a actual crise é devida ao domínio do do sector político pelo sector financeiro e económico privados, devendo reconhecer-se que as ditas entidades reguladoras independentes são conversas da treta, cada vez mais caminhamos para sociedades onde predomina o homem-lobo do homem, numa competição onde só é possível haver poucos vencedores e muitos vencidos! IN http://mundodaglogalizacao.blogspot.com

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