sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O que se passa, senhor Trichet?

Para quem, como eu, ficou surpreendido com a recente turbulência nos mercados da dívida pública dos países europeus do sul, este artigo do Financial Times fornece boas pistas para melhor se entender o que se está a passar. Na verdade, como indica Gillian Tent, o que se está a passar com os títulos de dívida gregos está relacionado com a politica de empréstimos do BCE à banca e às garantias exigidas por este. Com a falência da Lehman Brothers, em Setembro de 2008, o BCE tornou as operações de cedência de liquidez aos bancos mais fáceis, permitindo o uso, como garantia, de títulos de dívida com uma notação mínima de BBB face ao anterior mínimo de A- (curiosamente, a actual notação dada aos títulos de dívida pública portuguesa pela Standard and Poor's). Esta política permitiu que o apetite dos bancos por títulos de dívida pública mais arriscados do que, por exemplo, o dos EUA (com uma notação máxima de AAA), se mantivesse, mantendo os seus preços baixos. No início deste ano o BCE deu sinais de querer voltar à anterior práctica. Adicionando tais sinais às perspectivas de degradação da notação dos títulos de dívida pública de países como Portugal ou a Grécia, assustou, por um lado, os tradicionais investidores e abriu o caminho, dada a maior percepção de risco e volatilidade, para a especulação com estes títulos. Esta é permitida pelos actuais instrumentos financeiros que só servem para aumentar a volatilidade.

O que este mecanismo mostra, além de atenuar a responsabilidade dos aumentos dos défices públicos na presente turbulência, é a importância das políticas públicas, neste caso, monetária, na estrutura e comportamento dos mercados e a inadequação do comportamento do BCE face à(s) realidade(s) económicas da zona euro. A ideia de participar numa manifestação à porta do BCE fica cada vez mais apetecível.

4 comentários:

  1. DEVOÇÕES E OBRIGAÇÕES

    A criação do fundo obrigacionista que refere no seu post anterior tem um pequeno óbice: o de não honrarem os seus compromissos alguns dos utilizadores da emissão. Alemães, holandeses, etc., que cumprem, não me parece que possam ser convencidos a pagar o que gregos e etc. não pagarem.

    E aí está o elementar busílis da questão: desde que não haja equilíbrio financeiro, desde que a economia não produza o suficiente para honrar os empréstimos contraídos, mais cedo ou mais tarde alguém é apanhado desprevenido.
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    Coloca-se, portanto, a necessidade da exigência de comportamentos sérios a serem respeitados por todos os membros.
    Ora a Grécia tem sido pouco respeitadora das regras do conjunto. Portugal apanha por tabela. A situação impõe que se dê ao mundo uma imagem de consensualidade à volta dos grandes objectivos do País e dos caminhos para os atingir. Mas o que acontece é precisamente o contrário: uma guerrilha sem tréguas entre os partidos.
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    Como se a democracia fosse, necessariamente, a resultante de um confronto permanente

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  2. Esquisofrenia monetária(!)

    Relancionar o aumento dos spreads da dívida na periferia com o anúncio da modificação das condições das operações de cedência de liquidez é uma autêntica burla.

    O BCE nunca discriminou nos uso de títulos de dívida pública como colaterais, nem ninguém espera que o faça no futuro: tal nunca foi anunciado, e o Trichet deu a entender numa anterior conferência de imprensa que não o faria.

    ... Os Estatutos do BCE podem ser maus, mas os Bancos Centrais mostram-se por vezes mais sensatos do que os políticos que os aprovaram....

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  3. Ontem,no programa " contas à vida",citava-se uma analogia feita por economistas, sobre quem devia ajudar os países do euro que estão em maus lençois- se a família ( leiam-se as instituições europeias)ou enviá~los para os cuidados intensivos, as instituições mundiais, como o FMI.
    Mesmo que concordemos com esta analogia, é com a própia família a dizer mal do doente, que vamos lá ?

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  4. Caro Nuno, partilho o teu pasmo face à ameaça de um previsível cataclismo financeiro nos 3 países do sul da Europa! Sabendo que estas instituições financeiras estiveram por detrás da grande crise de 2008/2009 que abalou o mundo, parece-me inaceitável a leviandade com que o Comissário Almunia, como o frisa pertinentemente o Professor José Medeiros Ferreira no blogue "Cortex Frontal", e as agências de rating fazem os seus juízos fáceis.

    Importa fazer regressar a ética pública e libertar a política da dependência das instituições financeiras, como o Dr. Mário Soares, e outros pensadores, nos têm vindo a recordar nos últimos anos. Como fazê-lo ? Não sei... Mas sem isso, a crise de valores morais que perpassa a comunidade internacional será cada vez mais profunda!

    Temos de assumir a condição de verdadeiros cidadãos do mundo, face aos graves problemas ambientais e éticos do mundo em que vivemos, construindo verdadeiras forças supranacionais que não se deixem manietar pelas estratégias especulativas dos poderes financeiros, dando renovado poder à ONU, às ONG's e à opinião pública mundial!

    Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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