A narrativa da insustentabilidade do défice e da dívida pública já está instalada no espaço público. Sem argumentação cuidada, assumida com um "dado técnico".
E, contudo, iniciar de imediato um processo de desendividamento público não tem qualquer justificação com fundamento científico.
Paul De Grauwe sabe do que fala. Em 24 de Junho do ano passado escreveu um texto que vale a pena ler. Este excerto foi traduzido por mim:
“De facto, efectuar hoje tal redução orçamental não garantiria de todo que os governos conseguissem reduzir os seus níveis de endividamento. As forças deflacionistas [em resultado dessa redução da despesa pública] continuariam a reduzir a receita pública, criando problemas orçamentais que se tornariam igualmente insustentáveis.
Não há qualquer saída. A verdade desconfortável é que, para os níveis de endividamento privado voltarem a ser sustentáveis, a dívida pública deve temporariamente tornar-se insustentável. Por quanto tempo teremos de viver com esta verdade desconfortável? Até que o sector privado esteja disposto a parar de poupar e até que comece a acumular nova dívida. Isto acontecerá quando a economia iniciar a retoma.
Dívidas e défices públicos são hoje necessários para permitir que o sector privado elimine as dívidas que acumulou, o que é indispensável para a estabilização da economia. E, por conseguinte [à medida que o produto cresce gerando mais receitas], também necessário para consolidar as finanças públicas.
Infelizmente não é esta a visão das agências de notação que têm vindo a desclassificar a dívida pública em vários países da Europa continental … Estas agências olham com horror para o crescimento da dívida pública e logo levantam uma bandeira vermelha. Tudo o que vão conseguir é dificultar ainda mais a vida aos governos no apoio ao desendividamento do sector privado.”
O pior é que não são só as agências de notação que estão erradas. Os decisores públicos de alto nível, nacionais e europeus, lêem pela mesma cartilha monetarista (ver aqui).
Caro "blogger", sabe melhor que eu (suponho, dado ser eu leigo nestas matérias) que o laxismo numas economias iria ser pago por outros. E, esses outros, se calhar, não estão pelos ajustes. É mais ou menos como numa família: se uns forem poupados e outros gastadores está-se mesmo a ver o que acontece. Aliás não terá sido por acaso que, segundo penso ter lido há meses, a Alemanha fixou constitucionalmente os limites do endividamento. É engraçado que essa notícia teve pouco eco aqui no Jardim, talvez porque os indígenas andavam entretidos com as maquinações do Lima/JMFernandes e quejandos.
ResponderEliminarCaro Anónimo,
ResponderEliminarA sua análise é conversa de senso comum, quer dizer, conversa de café. Não tem qualquer fundamento científico.
Quanto às notícias sobre a Alemanha e as decisões do respectivo Tribunal Constitucional, está enganado.
Veja os longos textos que escrevi em Julho de 2009.
Em particular o primeiro intitulado "O princípio do fim do Euro (I) de 17 de Julho.
NB: O facto de os nossos textos não lhe agradarem não lhe dá o direito de ser mal educado.
Caro Jorge,
ResponderEliminarAntes de escrever posts desta categoria, eu aconselhava que lesse o relatorio recente da McKinsey sobre endividamento, e as suas consequencias.
McKinsey: Debt and Deleveraging
Exmº Sr Jorge Bateira:
ResponderEliminarEscreveu:"O facto de os nossos textos não lhe agradarem não lhe dá o direito de ser mal educado."
"A sua análise é conversa de senso comum, quer dizer, conversa de café. Não tem qualquer fundamento científico".
Queria dizer-lhe o seguinte:
è evidente que as minha reflexões não pretendem ( disse não ser leigo) ser Ciência sobretudo a ciência "EXACTA" que a economia vem mostrando ser. Vi, escrito por um "pensador", que, quando os especialistas não se entendem sobre a matéria da sua especialidade, os leigos têm toda a "legitimidade" para ter e expressar as sua opiniões.
Quanto ao ser mal educado, essa não percebi. Quando disse "aqui no Jardim.." estava, obviamente, a referir-me a Portugal, à Comunicação Social, à opinião pública. Mas, esteja descansado, não voltarei a conspurcar-lhe a caixa de comentários com as minhas "mal educadas" intervenções.
Fique bem.
AG