sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Estamos no mesmo barco

Excelente este post de João Pinto e Castro sobre a Islândia. No entanto, o paralelismo com a Grécia não me parece nada acertado. A Grécia, com os seus 12,7% do PIB de défice, está a pagar mais cara a sua emissão de dívida, mas o risco de um "default" não é de todo credível. O Euro e a forma como o processo de integração monetária foi conduzido estão na origem de alguns dos problemas estruturais da União Europeia, todavia ele também nos protege de males maiores. Senão, vejamos. Se a Grécia entrasse em incumprimento no pagamento da sua dívida, o mais provável seria que existissem efeitos de contágio imediatos a outras economias europeias (Portugal e Espanha, por exemplo). Neste cenário de dominó, seria a própria moeda única a estar em causa. Os países com largos excedentes externos, que muito têm beneficiado desta configuração monetária, como a Alemanha, não podem arriscar tal possibilidade. Existe, por isso, uma garantia implícita (como a que tinham os bancos antes da crise financeira) dos títulos de dívida pública.

A outra face da moeda seriam os possíveis ajustamentos impostos pelos países mais ricos à velha moda dos programas de ajustamento estrutural do FMI. Em suma, o que os "economistas 2012" querem fazer hoje em Portugal: contracção do investimento público, privatizações, cortes nos serviços públicos. A receita para a depressão da economia. Mas no actual contexto de crise internacional, este não seria de todo o melhor programa, mesmo para as maiores economias europeias que veriam os seus mercados externos contrair. Daí que, como eloquentemente o João Rodrigues aqui colocou, é no contexto europeu que devemos discutir os nossos problemas. Assim, além da necessária reforma fiscal que ponha os "ricos a pagar a crise" (taxação de mais valias, novo escalão de IRS, taxação das transacções financeiras, fim do paraíso fiscal da madeira, taxas de IVA mais elevadas para produtos de luxo, etc) devemos pensar o que fazer na UE. Aí, além do que repetidamente temos defendido neste blogue (reforço do orçamento europeu, refundação do BCE, reconfiguração do Pacto de Estabilidade, etc), existem boas propostas: reescalonamento da dívida, emissão de obrigações da União Monetária, continuação da prática não convencional do BCE de comprar títulos de dívida, reforço do Banco Europeu de Investimentos. Medidas solidárias que reflecteriam a realidade: na zona euro, estamos todos nos mesmo barco.

8 comentários:

  1. A princípio assustei-me. É que li: «estamos todos no mesmo banco!». Bem, em última análise até estamos...

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  2. Trabalhador com direitos9 de janeiro de 2010 às 16:20

    "Os ricos que paguem a crise"

    Claro.. certamente é deles a culpa da crise do subprime nos EUA..

    Eu até tinha planos para criar uma empresa e enriquecer um bocadinho.. (esta acção tão egoista que gera emprego e riqueza, sabem?).. mas se é para depois pagar crises mais me vale manter o meu emprego por conta doutrem.. que se me for regindo pelo esforço mínimo eles para me despedirem vão ter de me pagar uma indeminização valente.. e ainda vou ter um subsídio de desemprego graças ao imposto para a segurança social que eles têm vindo a pagar..

    Investir?? Enriquecer?? naaa.. deixa-me tar é quietinho...

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  3. Notícia do Público de hoje :

    " agricultores não sabem o que fazer com água do Alqueva"

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  4. O "Trabalhador com direitos" acha que não é dos ricos, representados na alta finança, a culpa da crise financeira... Claro que "não"; os especuladores são pessoas que recebem ordenado mínimo ou subsídio de desemprego e não sabem onde gastar esse dinheiro!

    Também acha que os investimentos são acções generosas de estoicos que sacrificam o capital (de que não precisam para viver), à sagrada missão do jogo capitalista. O que é "bom" é a "segurança" do trabalhador por conta de outrém - sendo esse outrém quem define as regras e os salários, como se sabe, quem se apropria do valor acrescentado pelo trabalhador.

    Também não sabe que a segurança social é mantida pelos descontos sobre o rendimento de quem trabalha. Nunca trabalhou? Nunca descontou? Mas já ouviu falar, ou também não?

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  5. Caro Nuno Teles,
    Na eurolândia o problema grego existe e vai doer mas, comparado com o problema da Califórnia, por exemplo, é amendoins.
    A Grécia representa 1,2% da eurolândia, a Califórnia é 8ª economia do mundo ou por aí.
    O universo do dólar e da sua adjacente libra está em risco muito maior que o euro.
    Abraço e um bom 2010 para si
    Joaquim Alexandre Rodrigues

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  6. Trabalhador com direitos10 de janeiro de 2010 às 16:12

    Caro antónio m p,

    Ponto 1: Explique-me lá a relação entre especulação e produtos financeiros especulativos e os títulos obrigacionistas avaliados com rates "comprados". Eu sei que isto não convém muito ao seu discurso incendiário digno de um revolucionário do PREC, mas entre obrigações e produtos especulativos como os CFD's ou os Warrants vai uma grande diferença, e os que causaram a crise foram os primeiros, portanto, não foi a especulação.

    Ponto 2: Sim, trabalho e pago 11% para a segurança social, mas sei que o meu empregador paga mais do dobro (23,75%) do que eu para a minha própria segurança social, o problema é que como não aparece no talão de remunerações, passa ao lado de muita gente, sobretudo de quem faz discursos incendiários...

    Ponto 3: "investimentos são acções generosas de estoicos que sacrificam o capital (de que não precisam para viver)". Meu caro, a grande maioria dos empresários portugueses nasceu pobre. Este facto esvazia completamente o seu discurso de "luta de classes". Para além disso, vejo aí um grave incongruência no seu raciocino. Pela ironia que envolve as suas palavras, penso que estamos de acordo quanto ao facto do investimento ser movido pelo desejo de retirar, egoisticamente, um retorno que o compense. Então pensemos logicamente:

    Se o investimento privado é movido pela expectativa de retorno, enquanto maior a expectativa de retorno maior o investimento, certo? (isto é inerente à condição humana e transversal a economias mais liberais ou mais socialistas).

    Em Portugal, tem-se verificado um decréscimo alarmante do investimento privado. Pela premissa anterior, resulta da diminuição das expectativas de retorno, logo, e sendo o investimento um acto livre (comummente realizado por pessoas dos mais diversos estatutos sociais), as expectativas (egoístas) de retorno dos investimentos actuais em Portugal, não motivam nem os capitalistas mais gananciosos, nem a mim nem a si.. (claro que você nunca investiria um euro em capital, a seu ver seria vender a alma ao diabo, mas pronto..). Este facto tem travado o crescimento económico nacional (antes, durante e, seguramente, após a crise mundial). Se assim é.. se você tem a inteligência suficiente para concluir que o investimento é movido quer pela ganância, quer pela ambição, quer pelo desafio, mas sempre pela expectativa de retorno LÍQUIDO, acha que é com exigências coercivas (pela força da lei) do pagamento de mais impostos e mais subsídios que o investimento privado (aquele que exporta ou substitui importações) se vai reanimar o em Portugal. Nunca como nos anos 80 e 90 investir em Portugal deu tanto dinheiro, era ver aí os "patrões" a comprar quintas e porches, mas coincidentemente, nunca os salários cresceram tanto, aliás, pegue num qualquer relatório e contas de uma empresa fabril e confirme quem é que, tanto em termos brutos como líquidos, retirou mais dinheiro do negócio, se os trabalhadores, se o estado ou se os patrões, e vai ver que na esmagadora maioria das vezes foram os dois primeiros. Portanto, o capital serve-se tanto da mão-de-obra como o inverso, e nada diminui mais o poder negocial dos empregados como a queda do investimento.

    Esta reposta assenta em lógicas do mercado, sejam eles socialistas ou liberais, não me venha com a resposta simplória de que é pensamento "neoliberal". A você pode-lhe fazer muita confusão o facto das pessoas investirem de forma egoísta, mas enquanto não arranjar uma "vacina" que ponha as pessoas a investir por "solidariedade" então pode-me vir com o seu discurso, até lá... não pode querer mudar as lógicas de funcionamento do mercado a começar por Portugal, sob pena de nos deixar a todos pior.

    (continua)

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  7. Trabalhador com direitos10 de janeiro de 2010 às 16:12

    Continuação...

    Mesmo assim, se quiser ganhar a minha admiração, deixe de ser um opositor passivo, daqueles que falam muito e não fazem nada, e passe a ser um opositor activo, se é contra o investimento que paga apenas os salários segundo o valor de mercado, junte-se com os seus compinchas e crie investimentos que paguem mais (assim fará com que você, os seus amigos, os trabalhadores e o país ganhem mais).. até lá.. para mim.. não passa de mais um fala barato... muito provavelmente mimado pelas regalias e estabilidade, divinamente concedidas, de um emprego público…

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