quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Alternativas económicas
A Alternatives Economiques é a minha revista preferida de divulgação económica: “A crise veio demonstrar que estas desigualdades gigantescas tinham uma utilidade evidente para os que se situavam no topo da pirâmide social, mas nenhuma utilidade para a sociedade no seu conjunto. Pelo contrário: o acicate do ganho, agora sem limites dada a ausência de freios fiscais eficazes, levou o grupo dos mais ricos, através das empresas e instituições financeiras que dirigiam, a arriscar de forma desmedida na esperança de fazer com que os seus rendimentos e o seu património crescessem ainda mais. Coube aos contribuintes comuns, que não têm contas na Suíça, e aos assalariados na base que perderam o seu emprego, suportarem o fardo do ajustamento quando os negócios correram mal. Em suma, chegou a hora de rever o desarmamento fiscal das últimas décadas. Isto é moralmente desejável, economicamente necessário e, quem sabe, politicamente possível.” Eu acho que sim. Mas para isso é imprescindível enfrentar, à escala da UE, a deliberada coexistência da liberdade de circulação de capitais e da fragmentação nacional dos regimes fiscais, situação que criou todos os incentivos perversos para que os capitais não sejam convenientemente taxados e para a erosão da progressividade dos regimes fiscais. Essa erosão, como se vê, contribuiu imenso para aumentar a eficiência dos processos económicos. No entanto, e resistindo à chantagem dos mais ricos e à economia de mau manual dos seus economistas, há muito que ainda se pode fazer à escala nacional, como defendo na última posta. A perguntas não desaparecem: Quem paga a crise? Os serviços públicos ou quem mais beneficiou do regime económico que a gerou?
Concordando en que o actual sistema está feito sob medida para que os ricos sejam cada vez mas ricos, penso que a solucion à crise em países como españa ou portugal não passa por modificar o sistema financeiro, senão pela reforma do modelo productivo
ResponderEliminarQuando andei por outras bandas comprava-a, mas cá... Há alguma forma de encontrar sem ser por assinatura?
ResponderEliminarA ideia de promover a igualdade atraves da tributacao nao tem qualquer correspondencia com a teoria economica e, nao surpreendentemente, com o sucesso na reducao das desigualdades de paises como a Suecia, Noruega, Dinamarca, ou Finlandia. Na realidade o grupo de paises que melhor replica as prescricoes dos economistas - da escola neoclassica, ortodoxa, ou simplesmente dos que sao reconhecidos pelos pares.
ResponderEliminarDeixo aqui apenas um link com algumas figuras interessantes - escrito por um investigador em ciencia politica.
E se nao conseguirem a evidencia apresentada pelo autor, sugiro que peguem num livro de microeconomia (MWG ou Kreps, por ex.) antes de virem dizer que os ricos que paguem a crise (que presumo que na vossa concepcao de ricos estao a incluir todas as familias acima do percentil 85 da dist de rendimento)
Caro Porfirio,
ResponderEliminarEm Lisboa pode comprar a revista numa boa tabacaria que há ali nos restauradores antes de chegar ao palácio foz quem desce a avenida.
Caro "anónimo",
ResponderEliminarA tributação é só uma via e só leu uma posta. Nunca pode ser a única, como é evidente. As coisas devem funcionar em conjunto. Articulações e complementaridades sistémicas. Altos níveis de tributação, com impostos sobre o rendimento fortemente progressivos (onde estão as taxas mais elevadas na Europa, vá ver), serviços públicos vigorosos e desigualdades reduzidas antes de impostos, fruto de elevadas taxas de sindicalização e de uma maior concentração e abrangência da negociação colectiva (é o chamado multiplicador da igualdade associado ao modelo nórdico, sobre o qual já escrevi, veja o link na posta anterior, por exemplo). Diga-me lá qual destes arranjos é discutido em manuais de teoria económica neoclássica? Onde encontra aí discussões realistas sobre instituições e variedades de capitalismo? Para minha (in)formação, claro. Os trabalhos do Lane Kenworthy são sérios e recomendam-se. Obrigado. Leia-se, do princípio ao fim...
A única revista económica que leio de vez em quando é o "The Economist".No entanto tem um recorte muito neoliberal,não acham?
ResponderEliminar"Quem paga a crise? Os serviços públicos ou quem mais beneficiou do regime económico que a gerou?"
ResponderEliminar.
Os serviços públicos pagam a crise? Está a falar a sério?
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A crise é paga com o desemprego dos operários e o saque aos saxões contribuintes. Os serviços públicos são mais uma ilha normanda. Quando o dominó grego cair e arrastar o espanhol e português vou ver o que vão fazer os normandos.
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"O trabalhador por conta de outrem é o maior inimigo da economia". É a ideia que se tenta impingir à opinião pública desde há décadas. Pois sendo a produtividade a grande culpada da falta de competitividade da economia (portuguesa, europeia), quanto mais automatizadas estiverem a indústria e os serviços, melhor.
ResponderEliminarEsta lógica destruiu milhões de postos de trabalho nos últimos 30 anos, conduziu à utilização maciça de autómatos programáveis e robots na indústria, caixas automáticas nos bancos e nos transportes, e na Internet foram transferidas para o utilizador muitas tarefas que eram executadas por pessoas que tinham um emprego.
Nenhum sistema tributário pode resolver esta contradição do sistema económico. Mesmo que se tire aos ricos para dar aos pobres (desempregados) somos transformados numa sociedade que exclui grande parte dos cidadão de da participação na geração de riqueza. Somos transformados numa sociedade doente.
A ed. Pluma Branca tem o prazer de anunciar o lançamento para o mês de Dezembro, o lançamento de um livro que promete revolucionar...
ResponderEliminarwww.terrasonora-nunoviana.blogspot.com
et porqoui les pauvres ne doivent ( o meu frances acaba aqui..) ser responsabilizados pelos seus comportamentos que eternizam o circulo vicioso da pobreza? diabólico o meu pensamento? e vocês não são ateus?
ResponderEliminara cena do politicamente correcto lixa-me mais que os pecados. antes confessava e pagava penitência . agora gramo com impostos ( piores que avés marias ) e à partida sou pecadora. e o resto ? são todos santos. uns coitadinhos.é deixa-los curtir , pois são uns ignorantes e é deles o reino dos ceús.
fazendo as contas custos / beneficios , aquelas do homem racional ? estado providência , inimigo dos tipos que empregam , compensa mais andar de mão esticada do que de enxada na mão.
declaração de interesses : não sou rica , nem lá perto. tenho de ganhar a vida , fazer escolhas e ordenar prioridades. e pensar na velhice.
e mais , os economistas , que mandam crescer , crescer , ganhar , ganhar , são todos uns ( não me alembra bem como os chamou) ums tipos miseráveis que jesus expulsou do templo.
ResponderEliminarpensam que não têm nada a ver com as palermices que as sociedades adoptam ? esqueçam , lembrei-me , são iguaizinhos aos vendilhões do templo.puseram na moda o crédito. dizem que sem ele não vivemos. uma conta no banco é indispensável. idiotas amigos dos agiotas.
porra pró crescimento e desperdicio ( isso é que é pecado ) associado.
mandar fora coisas úteis e a funcionar , tipo carros-incentivo ao abate- para fazer novos e manter empregos ? faz algum sentido ?
só na cabeça de doentes.
ele há muita terra pra lavrar , muito combustível a poupar. claro , só gajos sem peneiras , porque são sábios , e ligados à Terra percebem.
sorry. tenho de dizer como são apalermados.
Caro Joao Rodrigues,
ResponderEliminarIsso que escreve e' intelectualmente desonesto. Digo isto porque tenho a certeza que ja estudou com detalhe o que se passa nesse grupo de paises nordicos que tanto gosta de evocar aqui no blogue. E na realidade porque este e' o grupo de paises que mais segue a risca a prescricao de economistas; algo que nao e' de agora, basta ver, por ex., que a Suecia praticamente nao tem agricultura organizada.
Mas vamos ao seu comentario. Quando refere que "os ricos que paguem a crise" ou que a tributacao sobre o rendimento sobre o rendimento deve ser "altamente progressiva" o que e' que pretende exactamente? Reduzir as desigualdades? E ja' agora diga-me qual e' o unico pais que conhece que tenha reduzido as desigualdades dessa maneira. Acha mesmo que uma forte subida de impostos sobre o rendimento sobre aqueles que se localizam, por exemplo, no p85 da distribuicao do rendimento seria desejavel. Devo lhe indicar que talvez facam parte destes niveis os mais qualificados e produtivos profissionais da nossa economia; aqueles cujo rendimento e', porventura, totalmente assalariado e que nada tem a ver com patrimonio de herancas e afins. Para mim parece-me obvio que, neste cenario, a oferta de trabalho deste grupo de pessoas cairia a pique - ainda para mais numa Europa com livre mobilidade de pessoas. Sera' isto desejavel? Se quer passar a tributar mais o factor trabalho refira exactamente quem deve ser mais tributado e nao apenas "os ricos".
E ja' que tambem defende a importancia da tributacao do lucro de empresas mercantilizadas, diga-me sobre quem efectivamente incide essa tributacao? Deixo a resposta como exercicio para o Joao Rodrigues, referindo que neste caso nao se deve cingir a uma analise puramente parcial mas, ao inves, a uma que seja de ambito geral. Nao se esqueca tambem de considerar que existem detentores de capital, trabalhadores assalariados, e uma economia aberta (e' um tipico exercicio de livro de texto que ate' tem algum suporte empirico).
Mas mudando de direccao para as politicas economicas dos paises nordicos. Antes de mais convem referir que a dimensao do estado nao tem uma influencia sgnificativa no crescimento economico. O ponto importante aqui e' a qualidade desse estado e as politicas que promove. Dito isto, vamos la ver o que se passa em geral nesses paises em materia de politica economica: tributacao elevada do consumo, tributacao ao trabalho progressiva, taxas reduzidas da tributacao do capital. Nao poderia ser mais traduzido de um manual de economia: evitar tributar factores reprodutivos (para justificar a principal opcao pelo consumo) mas, se tal for inevitavel, optar pelo factor mais inelastico - o trabalho (omitindo aqui consideracoes dinamicas desta opcao).
Segue que a ideia fundamental, e' o desenho de um sistema tributario capaz de obter a maxima receita com a minima distorcao do crescimento e eficiencia economica. Uma licao bem estudada pelos governos dos paises nordicos. A reducao das desigualdades passa posteriormente por politicas de transferencias direccionadas especificamente para os mais necessitados ou para a provisao de determinados servicos publicos. E' basicamente o que indica o grafico 2 do artigo do Lane Kenworthy do meu comentario anterior. E enquanto o meu caro Joao Rodrigues nao compreeder isto mesmo vai continuar a dar maus conselhos e a proclamar maus slogans (embora bastante populistas): "os ricos que paguem a crise".
Nota: Sobre o papel dos sindicatos na Suecia nao partilho de tantas certezas sobre o seu tao enorme papel de "multiplicador de igualdades". Em particular verifica que paises como a Suecia e a Alemanha com os sistemas de negociacao colectiva te^m um indice de Gini bastante semelhante para o rendimento antes de impostos e transferencias. Mas tambem como sei que existem alguns artigos de revistas importantes que evidenciam o que refere admito que possa ter alguma razao nesse ponto.
Com a devida modéstia publiquei isto em Fevereiro:
ResponderEliminarSexta-feira, Fevereiro 20, 2009
Ordenado Máximo. Precisa-se
Numa situação como a que atravessamos em Portugal vai ser preciso reduzir salários muito em breve.
E a meio de um panorama de grande desigualdade social só uma redução de rendimentos das classes mais ricas pode ser feita, sem agravar o fosso que separa os que têm muito, dos outros, que vivem no limiar da pobreza.
É urgente acabar com o regabofe dos que têm quatro, cinco, dez empregos, e outros tantos ordenados, enquanto o número de desempregados não cessa de aumentar.
Como também é urgente criar um Ordenado Máximo verdadeiramente controlado.
Esta não é uma crise de que se saia por um toque de mágica, e todas as medidas possíveis, são e serão insuficientes, qualquer que seja o Governo que saia das eleições.
Quem disser que tem uma gaveta de soluções, não fala verdade.
O que é preciso, é mais uma gaveta de seriedade.
http://homem-ao-mar.blogspot.com/2009/02/ordenado-maximo-precisa-se.html
MFerrer
O Tiago Tavares omite muito convenientemente que nem todo o capital é reprodutivo, se não nos cingirmos è definição estrita do que é capital. Muito do capital - diria a esmagadora parte - é pura e simplesmente especulativo e, portanto, não se vê como a sua taxação pudesse ser assim tão prejudicial para a economia. Parece-me que a demagogia é ao contrário!
ResponderEliminarPoupe o seu latim , Tiago Tavares. neste blog ainda ( ainda , tenho esperança que não seja pra sempre ) acham que a gente tem de redistribuir a massa com a pobre mariazinha ,com o seu(s) companheiro(s) toxicodependente(s) e com seus 7 filhos , um de cada pai , mesmo que a gente viva na era da pílula distribuida grátis no centro de saúde.
ResponderEliminarpena que não me deixem contribuir e redistribuir por aqueles que iriam devolver o meu esforço com juros. contribuia e redistribuia na maior.
Melga,
ResponderEliminarFelicito-o. Assim as coisas ficam realmente mais claras. Uma pitadinha de moral burguesa e uma mão cheia de preconceitos de classe há muito que eram indispensáveis para a resolução dos problemas económicos e financeiros da humanidade. Como é que ainda ninguém se tinha lembrado da necessidade de analisar as certidõess de nascimento das criaturas antes de proceder aos investimentos reprodutivos? Passe, claro, o trocadilho...
Uma pergunta: Já pensou em passar ao papel esse seu receituário? É que seria uma lástima para todos nós que tal se perdesse entre as gargalhadas dos incréus.
MFerrer