Manuela Ferreira Leite afirmou que não pretende mexer no código de trabalho se formar governo. Percebo-a. O PS fez o serviço necessário. Tem a palavra o insuspeito Francisco Van Zeller da CIP: “Vieira da Silva fez melhor do que um governo de direita”. Os resultados são visíveis: “o número total de trabalhadores abrangidos por convenções colectivas baixou significativamente com a aprovação do código do trabalho do PS”. Vieira da Silva está de parabéns (vejam o dossier da OPS ou as opiniões de Jorge Leite, um dos grandes especialistas em direito do trabalho). No trabalho e na segurança social, áreas pouco importantes, claro, Vieira da Silva conseguiu ser mais eficaz do que a direita e manter a porta aberta aos recorrentes sonhos dos economistas de casino. Como o Nuno Teles aqui argumentou, desvalorizar as pensões públicas, sem qualquer consideração pelas propostas socialistas de fontes alternativas de financiamento, abre o caminho para um sistema dual. Os regressivos incentivos fiscais aos PPRs, que tanto agradam a Sócrates, apenas facilitam os sonhos das direitas.
Enfim, Vieira da Silva é um dos mais penosos exemplos do que aconteceu à chamada ala esquerda do PS, que se comprometeu a fundo com as orientações da “esquerda moderna” socrática. Colocaram-se num plano inclinado que os levou a ser parte activa da neoliberalização gradual do país. E já se sabe que a dissonância cognitiva pode gerar, neste e noutros contextos, uma modificação dos princípios que devem guiar as políticas. No quasi-religioso simplex vemos como nem sequer é necessário ir para o governo para que este fenómeno aconteça. Esperemos que isto passe depois do período eleitoral. Haja esperança. E outra correlação de forças.
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