Miguel Vale de Almeida lançou hoje uma campanha denominada "Outra vez não". E escreveu um texto em que explica as razões dessa campanha.
Sobre essas razões - O texto do Miguel é difícil de perceber. Ele não diz nada com que não concorde (nem isso seria imaginável numa pessoa como ele) e, no entanto, a bota (os argumentos) não bate com a perdigota (a conclusão, ou até o que o mesmo Miguel disse no passado). Como escreveu um dos comentadores do post, quem escreve o que o Miguel escreve, só poderia votar Bloco ou abster-se. Aliás, o que o Miguel ali defende, sempre defendeu, sem nunca tirar a conclusão que agora tira. Foi o mesmíssimo Miguel Vale de Almeida (em termos de pensamento) que subscreveu um manifesto que designava o "rotativismo ao centro" como "a doença da política portuguesa". As razões para esta insólita posição exigem portanto que se olhe para a expressão "projecto de modernização", que o Miguel atribui ao PS.
Sobre o "projecto de modernização" - Cadê? Se falamos de direitos sociais ou laborais ou da política para a Universidade, nem é preciso ir buscar tudo o que o Miguel escreveu sobre esses assuntos no passado. É o próprio Miguel que responde, demarcando-se categoricamente das políticas seguidas. Se falamos das mal-chamadas "questões fracturantes", termo que o Miguel repudia, e bem, onde esteve o PS? Fez meio-caminho na lei do divórcio, sob uma pressão interna e pública duríssima que teria permitido bem mais, chumbou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e manteve as políticas da direita em matéria de imigração. As únicas duas reformas dignas desse nome durante este mandato foram a despenalização do aborto e a paridade. E, em ambos os casos, nada do que o Miguel critica no Bloco se aplica. Em ambos os casos, o Bloco esteve completamente ao lado do PS, estratégica e tacticamente, aguentando a pressão da direita e do PCP.
Sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo - É, no mínimo, surpreendente que a causa central do activismo do Miguel seja referida de passagem no texto. É evidente que um apoio de Miguel Vale de Almeida, baseado na promessa recente do PS sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, seria muito pouco produtivo. Mesmo as muitas pessoas que apoiam (e sim, estou convencido que são muitas), não estão disponíveis para apoiar o governo que temos com base na promessa de que aprovará no futuro o que chumbou no passado. E digo isto na absoluta convicção de que o PS efectivamente aprovará essa medida, tal como aliás já tinha prometido, bem antes do Miguel escrever este texto. O que poderá fazer depois deste texto é prometer com mais força e capitalizar à esquerda. É por isso que ao PS apenas seria útil um apoio que se baseasse num universo de políticas bem mais alargado e daí o âmbito desta campanha.
Sobre a coerência - Mesmo que para o Miguel nada conte, a não ser conseguir que o Casamento passe (será possível?), a estratégia não tem sentido. Em troca do compromisso do PS, o Miguel inicia uma campanha contra quem, na vida partidária, se bate pela mesma agenda. Digo "contra" por um motivo muito simples. O texto assume a autoria de "pessoas que [...] se colocam entre o PS e o Bloco" e conclui pelo voto no PS. Desse ponto de vista, não lhe falta clareza. E ironia. Um dos mais destacados, corajosos e empenhados activistas do movimento LGBT em Portugal, lança uma campanha para combater eleitoralmente quem defende a agenda LGBT em Portugal. É por isto que a política portuguesa é o que é.
Sobre a miopia - Mas a luta dos homossexuais não termina no Casamento. Vai continuar em questões como a violência homofóbica, a homoparentalidade, etc. Em troca de coisa nenhuma, o Miguel não fortalece quem ajudou (e ajudará) a construir o movimento que hoje existe e a força que ganhou. É um mau negócio agora e um péssimo negócio a prazo. É dos livros: a agenda de um só tema, gera uma dependência, que acaba por se virar contra o próprio tema.
«espanta-me a onda emotiva que se instalou, para lá das queixas justas, através da repugnância em relação à figura de Sócrates, pintada com as cores da arrogância e do autoritarismo. Ela assenta, a meu ver, num equívoco de percepção: a ideia de que um líder de esquerda deveria ser ou uma figura de bonomia (Alegre?) ou de inflamação revolucionária (Louçã?) – mas nunca uma figura que governa no seu estilo próprio e sem obedecer a um guião estético ou a um folclore de referências específico.»
ResponderEliminarSócrates um líder de esquerda? Um serviçal da Banca e da Construção? É alguma piada?
Já começou a onda de solidariedade gay com o Pinóquio!
ResponderEliminarÉ uma pena que a promessa do casamento gay seja um incentivo a votar no Partido Socialista. Esse, e a liberalização do aborto. E ter tornado mais facil romper com um casamento do que com um contrato de compra e venda de uma bica! Que tristeza...
ResponderEliminarQuando é que percebem que a vida humana não deve ser temida, mas antes protegida, acolhida, amada!?
Quando é que percebem que é importante que o casamento seja um projecto de amor não ambicioso e não egoísta?
Caro anónimo (compreendo que não assine as bestialidades que escreve),
ResponderEliminarImporta-se de não poluir a nossa caixa de comentários? É que aqui não tem grande saída...
Subscrevo este texto.
ResponderEliminarEfectivamente o que aqui me parece acontecer está encerrado nesta "singela" frase:
"a agenda de um só tema, gera uma dependência, que acaba por se virar contra o próprio tema. "
Ser de esquerda não é só ser pró-LGBT ou anti-capitalista, é isso tudo e muito mais.
Acho excelente que o PS queira finalmente dar um bocadinho mais de democracia à nossa pobre democracia garantindo o casamento civil a pessoas do mesmo sexo. Até estou disposto a fazer tábua rasa da instrumentalização que foi (e está?) a ser feita da questão. Agora votar nas políticas-problema porque existe um outro partido-problema que parece que se afigura como poder...é muito fraco, e altamente contraproducente para uma verdadeira mudança no rumo das políticas públicas portuguesas.
O bloco central marca pontos, consenguindo fazer vingar a ideia que as alternativas não o são, e dizendo que as pessoas tem de escolher um mal menor. Na realidade, se fizerem a análise das políticas não é preciso ter "medo" do PSD, é só um D a mais mas com as mesmas políticas.
Gusmão,
ResponderEliminar"Importa-se de não poluir a nossa caixa de comentários?"
Não sei porque te chateaste com o anónimo (e aviso já que por estar a defendê-lo não significa que fui eu - nunca escrevo sem o meu nick)!
Senão vejamos:
"Quando é que percebem que é importante que o casamento seja um projecto de amor não ambicioso e não egoísta?"
Isto é claramente uma pergunta em defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Que melhor maneira de fazer sobressair a importancia do casamento do que alargar a outras pessoas que o encaram como um projecto de amor não ambicioso e não egoista mas que são proibidos de se casarem por uma estupida lei que defende posições estupidas?
ou então que:
"Quando é que percebem que a vida humana não deve ser temida, mas antes protegida, acolhida, amada!?"
é uma clara da defesa da lei que despenalizou e descriminalizou a interrupção voluntária da gravidez pois só assim a criança é efectivamente protegida, acolhida e amada porque nasce de uma escolha e não de uma obrigação, ainda por cima obrigação esta que era decretada por lei que visava um projecto de vida e não a vida em si!
Boa noite
ResponderEliminarAcho que o MVA faz muito bem. Eu farei o mesmo! Votar BE, para mima outra opção possível, é votar num partido que nunca será solução governativa será sempre do contra e isso não é aceitável para quem tem/teve/ambiciona ter 10% dos votos!
Além do mais há o perigo real de proporcionar uma maioria absoluta de uma coligação PPD/CDS e isso sim seria uma verdadeira desgraça(BPP, BPN, Portucale, SIRESP, Submarinos, Casino Lisboa). Ou seja, a esquerda no poder será sempre com o PS.
Cpmts
"o perigo real de proporcionar uma maioria absoluta de uma coligação PPD/CDS"
ResponderEliminarA maioria absoluta de deputados PSD-CDS não se evita pela transferência de votos do BE (ou do PCP) para o PS; é à custa dos votos ganhos ao PS (e à abstenção) que o PSD-CDS podem obter a maioria absoluta.
A única coisa que a transferência de votos de esquerda para o PS faz é enfraquecer os partidos (e causas políticas)à esquerda do PS, não pondo em causa nenhuma MAIORIA ABSOLUTA a não ser a do próprio PS.
"As únicas duas reformas dignas desse nome durante este mandato foram a despenalização do aborto e a paridade. E, em ambos os casos, nada do que o Miguel critica no Bloco se aplica. Em ambos os casos, o Bloco esteve completamente ao lado do PS, estratégica e tacticamente, aguentando a pressão da direita e do PCP."
ResponderEliminarZé não percebo. O PCP esteve pelo Não no referendo? Não foi sempre o PCP que contou com mais mulheres nas suas listas à AR ou às CM's?
Não era essa paridade, não imposta mas conquistada por direito próprio, por acção política, que dizíamos ser a forma mais correcta de defender a igualdade entre géneros ainda há bem poucos anos?
Porque é que ver o Miguel Vale de ALmeida no PS ou a apelar ao voto no PS não me surpreende nem um pouco?
ResponderEliminarO Miguel Vale de Almeida e o os destacados líderes lgbt que se associam na ILGA nos últimos anos não têm feito mais nada do que despolitizar o movimento lgbt, concentrando as exigências numa lógica fechada em torno de agendas próprias (sem reunir apoios de sindicatos, sem concertar ou apoiar lutas de mulheres,sem participar nem nenhuma causa ou momento -à excepção da marcha do 25 de abril). A posição é a de quem se quer sentar à mesa e vai esperando no canto à espera de ver que migalhas caem. Em Novembro em vez de migalhas levaram um pontapé, com o chumbo, e dois meses depois uma festa na cabeça resolve o asssunto.
Claro que isto é um problema mais para o Bloco por ser um movimento que congrega vários grupos dentro da Esquerda.Aqui reside a sua maior riqueza. Será também a sua maior fragilidade?
Josina Almeida
tms,
ResponderEliminarNão. O PCP votou contra a paridade e não tem actual uma única mulher no seu grupo parlamentar.
No aborto, quis amarrar a esquerda à estratégia da aprovação no parlamento (no qual a lei seria chumbada porque 40 deputados já tinham dito q n aprovavam sem referendo) para poder criticar o PS por isso.
olá,
ResponderEliminarnão creio que a lei da paridade possa ser necessariamente considerada como um sinal de avanço ou retrocesso em relação a uma agenda feminista. eu, sem pensar muito no assunto, até serei a favor da lei; mas não concluo, a partir daí, que o PCP seja "conservador" em relação às questões das mulheres por causa desta questão.
abç
Bom post
ResponderEliminarZé,
ResponderEliminarNão escrevi que o PCP é conservador por não ter votado a paridade. Embora ache que é. Sintoma bem mais importante é não as ter nas listas. O que não quer dizer que não lute pelos direitos das mulheres. A melhor formulação que eu consigo encontrar para a posição do PCP é precisamente a de um Feminismo Conservador.
Jó,
É possível que a pluralidade encerre algumas fragilidades. Vamos ter de viver com elas. Acho que, no longo prazo, ganha a riqueza.