Alguns economistas de tendência neoclássica têm celebrado os centenários de Darwin sugerindo que ele pouco mais fez do que aplicar ideias económicas à biologia. Deveriam estar-lhe mais gratos. É bem possível que sem a ajuda de Darwin (ou algo vagamente semelhante) a microeconomia neoclássica já se tivesse extinguido.
Em meados do século XX a microeconomia neoclássica encontrava-se em maus lençois. A ideia, incorporada no modelo de concorrência perfeita, de que uma empresa perde todos os clientes se quiser praticar um preço superior ao que equilibra a oferta e a procura tinha caído em descrédito. Os economistas tinham perguntado: “como é que as empresas reais tomam decisões relativamente aos preços?”, e tinham concluído que utilizavam regras simples e não complicados cálculos ‘racionais’ de maximização do lucro.
Em vez de uma, passaram e existir múltiplas teorias dos preços. Isto surgia como deplorável para aqueles para quem a credibilidade científica de uma disciplina depende da existência de uma teoria geral, aplicável em todos os contextos. Além disso, sem concorrência perfeita deixava de ser possível demonstrar as propriedades de optimalidade e de eficiência dos mercados. Para alguns, mais firmes na defesa dos cânones neoclássicos, era preciso restaurar o lugar da concorrência perfeita como modelo de referência.
Milton Friedman foi quem, em 1953, haveria de apresentar o argumento “darwinista” para salvar a racionalidade económica e a concorrência perfeita. Para Friedman, saber se “os homens de negócios chegam ou não as suas decisões [óptimas, isto é, de maximização do lucro] através da consulta de tabelas, ou curvas, ou funções multivariadas, representando os custos marginais e as receitas marginais” era uma “questão irrelevante”. O que importava era que se comportavam como se o fizessem. Escrevia ele: é verdade ou não que uma bola de bilhar acelera quando cai do alto de um prédio como se estivesse a cair no vácuo? É verdade ou não que as folhas de uma árvore crescem mais densas do lado exposto ao sol das árvores como se as folhas quisessem maximizar a exposição à luz solar? É verdade ou não que um jogador de bilhar mete as bolas nos buracos como se conhecesse e estivesse a aplicar as leis da física. Pois o mesmo acontece com os empresários, dizia Friedman. As suas escolhas são racionais – eles optimizam o lucro como se conhecessem as funções que lhes permitiriam fazê-lo.
Em meados do século XX a microeconomia neoclássica encontrava-se em maus lençois. A ideia, incorporada no modelo de concorrência perfeita, de que uma empresa perde todos os clientes se quiser praticar um preço superior ao que equilibra a oferta e a procura tinha caído em descrédito. Os economistas tinham perguntado: “como é que as empresas reais tomam decisões relativamente aos preços?”, e tinham concluído que utilizavam regras simples e não complicados cálculos ‘racionais’ de maximização do lucro.
Em vez de uma, passaram e existir múltiplas teorias dos preços. Isto surgia como deplorável para aqueles para quem a credibilidade científica de uma disciplina depende da existência de uma teoria geral, aplicável em todos os contextos. Além disso, sem concorrência perfeita deixava de ser possível demonstrar as propriedades de optimalidade e de eficiência dos mercados. Para alguns, mais firmes na defesa dos cânones neoclássicos, era preciso restaurar o lugar da concorrência perfeita como modelo de referência.
Milton Friedman foi quem, em 1953, haveria de apresentar o argumento “darwinista” para salvar a racionalidade económica e a concorrência perfeita. Para Friedman, saber se “os homens de negócios chegam ou não as suas decisões [óptimas, isto é, de maximização do lucro] através da consulta de tabelas, ou curvas, ou funções multivariadas, representando os custos marginais e as receitas marginais” era uma “questão irrelevante”. O que importava era que se comportavam como se o fizessem. Escrevia ele: é verdade ou não que uma bola de bilhar acelera quando cai do alto de um prédio como se estivesse a cair no vácuo? É verdade ou não que as folhas de uma árvore crescem mais densas do lado exposto ao sol das árvores como se as folhas quisessem maximizar a exposição à luz solar? É verdade ou não que um jogador de bilhar mete as bolas nos buracos como se conhecesse e estivesse a aplicar as leis da física. Pois o mesmo acontece com os empresários, dizia Friedman. As suas escolhas são racionais – eles optimizam o lucro como se conhecessem as funções que lhes permitiriam fazê-lo.
É aqui que Friedman tira Darwin do chapéu: se não maximizassem o lucro, as empresas já não existiriam, teriam sido varridas pela concorrência. Se existem é porque fazem escolhas óptimas. Escreve Friedaman: “O processo de ‘selecção natural’ (…) ajuda a validar a hipótese [de desígnio racional dos empresários]”.
O que existe é óptimo. Parece estranho, não é? Pois é. Mas lá que contribuiu para evitar a extinção da concorrência perfeita e da racionalidade económica, lá isso contribuiu. Mas Darwin não tem culpa dos usos que fazem dele.
O que existe é óptimo. Parece estranho, não é? Pois é. Mas lá que contribuiu para evitar a extinção da concorrência perfeita e da racionalidade económica, lá isso contribuiu. Mas Darwin não tem culpa dos usos que fazem dele.
Um outro Nobel da Economia, Herbert Simon, viria a perguntar: como é que Friedman sabe que as empresas que existem estão a optimizar os lucros? É que se Friedman soubesse fazer os cálculos, também os empresários os saberiam fazer. E nesse caso Friedman não tinha tido de chamar Darwin para dizer que se as empresas estão vivas é porque os empresários são racionais.
Friedman usa uma justificação semelhante à que já ouvi para a religião. Diziam os crentes a propósito do frio:
ResponderEliminar"Mas, se ainda assim, fica a dúvida sobre a realidade da existência de Deus, porque é invisível e intocável, então podemos perguntar: — O frio existe? Alguns poderão responder, mas claro que existe! Que pergunta absurda! Podemos responder, não! O frio não existe! Mas como, se eu sinto o frio? Verdade, realmente se sente o frio. Entretanto, o frio não existe, o que existe é a ausência do calor. As leis da Física nos afirmam isso."
A busca do racional para justificar a Fé é um dos paradoxos mais interessantes e humorísticos que me ocorre. Só muda o alvo da Fé, em Deus ou na "Economia de Mercado" (mais um eufemismo para Capitalismo).
Apesar de tudo, tanto uma teoria como outra desmentíveis.
A alternativa será suponho o planeamento da actividade económica pela sabedoria do Estado omnisciente e omnipotente.
ResponderEliminarNinguém disse que capitalismo e mercado são perfeitos.
Tal como as democracias, são os piores sistemas, com excepção de todos os outros.
Lembrou-me este artigo:
ResponderEliminar"Let there be markets-The evangelical roots of capitalism"
http://www.harpers.org/archive/2005/05/0080538
Um trecho (como é que se fazem links nos comentários do blogger? :S)
"Neoclassical economics tends to downplay the importance of human institutions, seeing instead a system of flows and exchanges that are governed by an inherent equilibrium. Predicated on the belief that markets operate in a scientifically knowable fashion, it sees them as self-regulating mathematical miracles, as delicate ecosystems best left alone.
If there is a whiff of creationism around this idea, it is no accident. By the time the term “economics” first emerged, in the 1870s, it was evangelical Christianity that had done the most to spur the field on toward its present scientific self-certainty."
L.Rodrigues:Para fazer um link...
ResponderEliminar< a href="LINK" > TEXTO < /a >
LINK=http://www.harpers.org/archive/2005/05/0080538
TEXTO="Let there be markets-The evangelical roots of capitalism"
Resultado final:
"Let there be markets-The evangelical roots of capitalism"
Esqueci-me de dizer que onde está a palavra LINK se deve subsitituir pelo link em si e onde está a palavra TEXTO substituir pelo texto em si.
ResponderEliminar< a href="LINK" > TEXTO < /a >
E que se devem tirar os espaços à volta dos maiores e menores ( < > )
ResponderEliminarMuito obrigado :)
ResponderEliminarSim, é verdade croky.
ResponderEliminar<a href="LINK"> TEXTO </a>
João Dias
"Alguns economistas de tendência neoclássica celebrado os centenários de Darwin sugerindo que ele pouco mais fez do que aplicar ideias económicas à biologia."
ResponderEliminarCaro, aceito que diga que tenho tendências neoclássicas, num sentido muito amplo da palavra (tão amplo que inclua os neo e os novos keynesianos, a malta das self-fulfilling prophecies e dos sunspots, da bounded rationality e por aí fora).
Mas não é verdade que eu reduza Darwin àquilo que diz que eu sugeri. É falso. Não aceito que procurar a árvore genealógica das ideias de um autor seja diminui-lo ou dizer que ele pouco mais fez do que aplicar as teorias dos outros.
Já agora quem escreveu que o princípio da Selecção Natural de Darwin era baseado na mão invisível de Adam Smith foi Stephen Gould, paleontólogo e historiador da ciência em Harvard, entretanto já falecido.
Tirando o primeiro parágrafo, gostei muito do seu texto, obrigado.
hum , mas se um animal come demais , fica obeso , mexe-se mal , além de que dá cabo das fontes de alimentação futuras ao esgotá-las no presente : burro , merece a extinção. Moderar o apetite deve ser qualquer coisa de bom a nível de selecção..
ResponderEliminarQuanto à democracia posta em prática pelos homens : deixa-a poisar e veremos se é o melhor dos sistemas. Teoria é uma coisa , lixado quem a leva a prática ser um monte de "pecadores" a quem o poder corrompe .E de que maneira , perguntem lá aos ingleses do Churchill. Se calhar hoje opinava diferente.
Amigo Carlos...
ResponderEliminarOlhe que também Marx achava o Capitalismo muito melhor que o que o tinha precedido...e como diz, continua a não ser perfeito...
Moral da História: os capitalistas são acomodados e desistiram de procurar algo melhor que sabem que existe...porque será? Provavelmente porque não precisam...porque estão bem assim, porque o Capitalismo lhe tem dado jeito...é a única explicação que tenho...
"Moral da História: os capitalistas são acomodados e desistiram de procurar algo melhor que sabem que existe...porque será?"
ResponderEliminarEntão se sabe qual o melhor sistema, faça favor de me dizer.
Socialismo?
Acho que já tentaram esse em alguns sítios. Segundo ouvi dizer não foi o paraíso que diziam que seria.
Insiste em pôr na boca das pessoas o que elas não disseram. No seu primeiro comentário diz que supõe que a alternativa é o estado omnisciente e omnipresente, e eu não vi isso em lado nenhum do post...
ResponderEliminarE agora também não vi no meu comentário dizer que sabia qual era o melhor sistema, não será certamente o socialismo tipo soviético, mas a verdade é esta:
há quem ande à procura...e há quem, por acomodação, tente proibir os outros de procurar...
É que há aqui uma questão óbvia: quando falamos em não se ter encontrado melhor que o capitalismo (como eu disse, até Marx o achava), esquecemo-nos das vitimas do capitalismo...experimentemos a ir falar com o terço da população mundial em pobreza extrema e dizer-lhes que chegámos ao fim da história...
ResponderEliminarNinguém disse que devemos deixar de procurar melhorar o sistema que temos.
ResponderEliminarAgora culpar o capitalismo pela pobreza do mundo, ao chamá-los de vitimas do capitalismo parece-me golpe baixo contra o capitalismo.
Se perder mais que 10 segundos a pensar no assunto, verá que muitas vezes, a pobreza de certos povos nada tem a ver com capitalismo. Algumas vezes terá a ver com o aproveitamento dessas pessoas por outras. Isso não é capitalismo.
Eu quero um mundo justo tanto como o Tiago quer.
Tenho é dúvidas sobre as soluções que ás vezes são propostas pelos socialistas (e não me refiro só ao comunismo soviético), anti-liberaise e keynesianos.
E já agora deixe-me que lhe diga... Se hoje em dia milhões já saíram da pobreza isso deveu-se ao capitalismo e ao mercado (mais ou menos) livre.
ResponderEliminarNão sei de que milhões fala que tenham saído da pobreza...é que os dados do Banco Mundial apontam para uma quase estagnação nos últimos 30 anos....
ResponderEliminarQue tal o milhões de países como a China, a India, o Brasil, etc...??
ResponderEliminarUm bocadinho de seriedade não faz mal a ninguém:
ResponderEliminarAs profundas desigualdades na distribuição da riqueza no mundo atingiram actualmente proporções verdadeiramente chocantes.
O número de pobres não pára de crescer e já chega a 307 milhões de pessoas no mundo. Relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) recentemente publicado mostra que nos últimos 30 anos o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1,00 duplicou nos países menos desenvolvidos.
Para a agência da ONU, o dado mais preocupante é a tendência de que esse número aumente até 2015, quando os países menos desenvolvidos poderão passar a ter 420 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.
hum , falta ver a evolução da taxa de natalidade desses países onde o número de pobres não para de aumentar nos últimos anos...é só para comprovar se se trata de capitalismo ou de parir à toa.
ResponderEliminare tem de ver que os pobres também morrem mais depressa que os outros, se se mantivessem com uma esperança media de vida como os outros também iam sobrevivendo mais pobres...
ResponderEliminarE já agora, os dados do Banco Mundial são de existirem 1,4 mil milhões de pobres. abaixo de 1,25 usd por dia.
Quando falamos em menos de 2 usd, o numero total de pobres estabilizou desde 1981...
http://econ.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/EXTDEC/EXTRESEARCH/0,,contentMDK:21882162~pagePK:64165401~piPK:64165026~theSitePK:469382,00.html
75% da população mundial vive com menos de 2 US$.
ResponderEliminarEstes já são ricos.
Para mais, o continente africano e asiático terão duplicado, nos últimos 30 anos, a sua população. Ainda por cima a pobreza mata. O que manifestamente não abona muito a favor das teorias dos milhões que "saíram" da pobreza na China e na Índia.
"75% da população vive com menos de dois dólares."
ResponderEliminarGostava de ver estatísticas disso.
Segundo.. como já foi aqui referido, o crescimento da população também deve ser tido em conta. Mesmo que a população cresça em media a 1% ao ano, o crescimento exponencial, como deve saber, é algo de muito poderoso. Basta ver que a população deverá aumentar em cerca de 70 milhões ao ano nos proximos anos (aumento liquido), e muito desse crescimento dá-se em países pouco desenvolvidos.
Gostava era que me explicasse como é que os princípios do capitalismo podem ser considerados responsáveis pela pobreza no mundo.
Ignora todas as outras causas, que podem ser politicas, culturais, e até religiosas. Sem falar nas colonizações,quase todas desastrosas, que as nações do 1º mundo fizeram por esse 3º mundo fora ao longo de séculos e que ainda hoje se sentem os efeitos.
Mas não... parece que para si os princípios da propriedade privada e do mercado livre é que são o problema.
Escrevi mal, 40% no mundo...75% no Brasil.
ResponderEliminar"E já agora deixe-me que lhe diga... Se hoje em dia milhões já saíram da pobreza isso deveu-se ao capitalismo e ao mercado (mais ou menos) livre"
"Gostava era que me explicasse como é que os princípios do capitalismo podem ser considerados responsáveis pela pobreza no mundo."
Que conveniente...
:-)
O crescimento dos países ricos não se faz sem matéria prima vinda dos países pobres;
os imigrantes não são legalizados para não terem direitos laborais mínimos;
os EUA matam centenas de milhares de pessoas (aí até diminuem a pobreza da pior forma) para se apropriarem de petróleo (mas aumentam aqui);
a Europa (Portugal inclusive) criam estreitos laços com agentes corruptos de países em desenvolvimento;
a Austrália ataca Timor assim que estes decidem criar um bom acordo para exportação de petróleo;
...etc,etc,etc,
O dinheiro, capital só é bem ganho onde também houver justiça. A população mundial ao longo dos últimos séculos tem aumentado. A lei de Malthus funciona. As pessoas para sobreviverem sujeitam-se a estratégias incríveis: desde as culturais (estar nos conformes!!!), às de necessidade.
ResponderEliminarHá não muito tempo, grande parte dos Portugueses, teria conhecimento de famílias numerosas. Hoje diz-se que era por não haver televisão...
O que é mais arriscado: ter uma família numerosa (>6 pessoas numa família), ou uma com vários créditos, por vezes uns para pagar outros???
Isso não é uma falha do capitalismo.
ResponderEliminarÉ uma falha dos agentes políticos e da politica em geral (é mais complexo que isso, mas em última analise a culpa é das lideranças politicas dos países envolvidos)
Precisamente aqueles que os socialistas querem dar mais poder na condução da actividade económica.
O capitalismo em si não advoga o recurso á guerra e/ou corrupção, etc.
ResponderEliminarCulpe os Bush e os Blairs e os Sócrates do mundo por isso
A bem dizer , o capitalismo até funciona tipo guerra em termos de população. Não é nos paises duros capitalistas que se queixam que a natalidade já não chega para renovar gerações? Em termos de sustentabilidade do planeta ,não fosse o consumo desenfreado de recursos ( e ao reduzir a população haverá uma diminuição do consumo de recursos , também ), nem é assim tão mau.
ResponderEliminarExcluam a parte das finanças , agiotas e crédito e tal , que isso não presta mesmo.
Pois...da mesma maneira como o ócio foi o resultado da falta de incentivos do sistema soviético, também a corrupção e outras coisas do tipo são resultado dos incentivos a que isso aconteça...Também Marx não disse para as pessoas trabalharem então o mínimo possível...foi um resultado...
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=8C4gRRk2i-M&feature=channel_page
ResponderEliminarhttp://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=368580
ResponderEliminarA historia do capitalismo é a historia da escravatura,do colonialismo, do racismo e das guerras. Tudo o que os povos conquistaram foi na luta contra o capitalismo e com o advento da revolucao bolchevique e em certos aspectos com a revolucao francesa. O resto são falácias.
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