segunda-feira, 25 de maio de 2009

Empresarialmente incorrecto

«Habituado a dirigir empresas em que os trabalhadores não podem abrir o bico, Belmiro estranha negociações em empresas vindas de países estranhos». Daniel Oliveira sobre as despóticas declarações de Belmiro de Azevedo. É por estas e por muitas outras que sou leitor do Arrastão. Três anos. Parabéns a Daniel Oliveira, Pedro Sales e Pedro Vieira.

Enfim, sabemos que o desemprego e a «liberdade» irrestrita de circulação de capitais são um poderoso mecanismo disciplinar que muito agrada a patrões que ainda por cima recebem doutoramentos Honoris Causa. O dinheiro vai passar a ser a base do reconhecimento numa universidade cada vez mais dependente? Seria empresarialmente correcto…

2 comentários:

  1. Felizmente que no meio da alta classe empresarial portuguesa ainda existe gente que se destaca pela sua forma de estar e com uma visão mais sã e realista da sociedade. Nem tudo está podre e nem todos vivem na obsessão de usurpar terceiros a todo o custo com o intuito de enriquecer cada vez mais explorando tudo e todos sem regras e sem qualquer tipo de escrúpulos. Belmiro de Azevedo do alto do seu pedestal ameaça e responsabiliza os trabalhadores pela falta da sua flexibilidade no sacrifício de direitos adquiridos que assim ajude o país na saída da crise. A lenga lenga de sempre da generalidade dos empresários e dos seus políticos apoiantes e homens de mão que por aí proliferam com direito a antena diariamente na comunicação social. Não tardará que perante as últimas intervenções do patrão da Sonae e que é proprietário também do jornal “O Público”, venha em defesa deste tipo de profecia o director do seu jornal José Manuel Fernandes tal como se tratasse de um verdadeiro “cão de guarda”.
    Contrastando com esta visão da situação que vivemos dia após dia valeu a pena assistir à entrevista efectuada pela Rádio Renascença e RTP2 a José Roquette e perceber que alguém pertencendo à mesma classe se comporta e pensa com outra classe. O empresário e responsável pelo projecto turístico do Parque Alqueva, começa por nos dizer que a falta de ética está na origem da presente crise. “Um dos problemas hoje mais latentes é a ausência de uma dimensão ética nas decisões dos empresários…Houve em termos empresariais a mesma ausência de princípios em termos de responsabilidade social…Os bónus que são dados aos gestores são em acções da própria empresa, o que faz com que os gestores tenham tendência a privilegiar o curto prazo, dando-lhe uma perspectiva especulativa que acabou por conduzir à situação actual…Nos últimos 20 anos criou-se um sentido de impunidade das lideranças empresariais que veio a ser validado pela falta de consequências pesadas…Esta crise é basicamente uma crise de lideranças, politicas ou empresariais. Pretende-se que aqueles que criaram essa situação nos tirem agora dela…Os protagonistas deviam entender-se e perceber que têm que encontrar novos paradigmas.”
    José Roquette parece assim um homem de outra dimensão e com outra formação que não aquela a que nos habituaram a maioria dos empresários nacionais, sobretudo aqueles que muito rapidamente enriqueceram no pós 25 de Abril de 74, sabe-se lá de que forma e à custa de quê. Isso faz parte dos mistérios com que temos que viver. José Roquette preocupa-se com a crise, não por temer a redução da sua riqueza mas, tal como afirmou naquela entrevista, por achar que aqueles que foram responsáveis pela actual crise querem agora ser eles próprios os curandeiros da mesma. Roquette desconfia deles porque conhece-os e sabe do que eles são capazes. Sabe perfeitamente que as suas soluções são as mesmas de sempre e com propósitos muitos claros, continuar a enriquecer no curto prazo e ainda mais rapidamente nem que para tal tenham que conduzir a sociedade à ruína total.

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  2. Pode discordar-se totalmente do que disse Belmiro. Pode lamentar-se a rudeza das suas palavras. Podemos chamar-lhe todos o nomes feios e mais alguns.

    O chato mesmo é que se a Volkswagen decidir sair de Palmela não há arrastão que a agarre nem ladrões que a levem para casa.

    Ou há?

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