sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um novo Bancor?

O trabalho da comissão criada pela ONU, presidida por Joseph Stiglitz, para a reforma do sistema financeiro internacional tem sido completamente ignorado. No entanto, o seu último relatório, para além de algumas generalidades sobre transparência dos mercados, tem uma proposta muito interessante. A criação de um novo sistema de reservas globais financiado pela taxação internacional e/ou por licenças de uso de bens públicos globais (por exemplo, direitos de pesca internacionais).

Este sistema seria uma expansão do actual sistema de direitos especiais de saque do FMI (para os quais todos os países pertencentes contribuem), que através de emissões de reservas, ajustadas ao ciclo económico, corrigisse os actuais desequilíbrios das balanças de pagamentos, em que os países mais pobres emprestam aos mais ricos. Este sistema, fácil de concretizar, parece claramente próximo da proposta de Keynes para o Bancor (moeda internacional usada exclusivamente para pagamentos internacionais). Esta proposta asseguraria uma nova estabilidade do sistema financeiro internacional, atacando uma das causas estruturais da presente crise.

Se é certo que a crise tem derrubado, consecutivamente, os tabus na política económica, não me parece que haja condições políticas para qualquer desafio à hegemonia actual do dólar como quase-moeda mundial. Todavia, estas boas ideias podem lançar as bases para as futuras mudanças radicais que o sistema financeiro internacional, mais cedo do que tarde, exigirá.

3 comentários:

  1. Mas não lhe parece que essa exigência que menciona, a nível do sistema financeiro internacional, apenas será possível se os actores políticos que o determinam mudarem igualmente? E que essa mudança implica uma mudança bem maior do que a mudança de percepção teórica (se quiser, epistemológica) do falhanço de doutrinas económicas? Por outras palavras, este "mais cedo do que tarde" só surgira se houver movimentações de eleitorados e de massas que os exijam? É principalmente nesse plano que tenho expectativas
    menos elevadas, a não ser que se seja como diria algures o Gramsci, pessimista na razão e optimista na prática.

    Rui Santos

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  2. Algum tempo antes do G20 em Londres...


    (The author is the Governor of the People’s Bank of China, the country’s central bank)

    Bank chief: Reform the international monetary system
    08:51, March 25, 2009

    By Zhou Xiaochuan

    ...
    Theoretically, an international reserve currency should first be anchored to a stable benchmark and issued according to a clear set of rules, therefore to ensure orderly supply; second, its supply should be flexible enough to allow timely adjustment according to the changing demand; third, such adjustments should be disconnected from economic conditions and sovereign interests of any single country. The acceptance of credit-based national currencies as major international reserve currencies, as is the case in the current system, is a rare special case in history. The crisis again calls for creative reform of the existing international monetary system towards an international reserve currency with a stable value, rule-based issuance and manageable supply, so as to achieve the objective of safeguarding global economic and financial stability.
    ...
    The basket of currencies forming the basis for SDR valuation should be expanded to include currencies of all major economies, and the GDP may also be included as a weight. The allocation of the SDR can be shifted from a purely calculation-based system to a system backed by real assets, such as a reserve pool, to further boost market confidence in its value.
    ...
    http://english.people.com.cn/90001/90776/90884/6621482.html

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  3. E não é que o senhor, no mesmo artigo, até refere

    "1. Though the super-sovereign reserve currency has long since been proposed, yet no substantive progress has been achieved to date. Back in the 1940s, Keynes had already proposed to introduce an international currency unit named "Bancor", based on the value of 30 representative commodities. Unfortunately, the proposal was not accepted. The collapse of the Bretton Woods system, which was based on the White approach, indicates that the Keynesian approach may have been more farsighted. The IMF also created the SDR in 1969, when the defects of the Bretton Woods system initially emerged, to mitigate the inherent risks sovereign reserve currencies caused. Yet, the role of the SDR has not been put into full play due to limitations on its allocation and the scope of its uses. However, it serves as the light in the tunnel for the reform of the international monetary system. "

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