O debate sobre a Europa que queremos não pode ignorar aquilo a que neo-liberais e socialistas modernos costumam chamar a “tentação do proteccionismo”. Para estes, há que escolher o ‘livre comércio’ (só produz benefícios) e evitar a todo o custo a imposição de barreiras ao comércio, o 'proteccionismo', porque leva ao agravamento da crise e (dizem alguns) à guerra.
Durante as últimas décadas a UE empenhou-se nos acordos de comércio internacional que, progressivamente, foram fixando a opção pelo livre comércio. Os resultados ficaram à vista de todos com a actual crise. O problema é que os desequilíbrios comerciais e financeiros gerados por esse modelo, em que o endividamento dos EUA (e de grande parte da UE) foi a contrapartida do crescimento comercial da China, não podem agora ser revertidos de um dia para o outro. Com dizia Martin Wolf neste artigo no Financial Times, “os credores precisam dos devedores. Sem estes, aqueles iriam à falência.”
Em 2007, Palley defendia neste texto um caminho intermédio entre o “livre comércio’ e ‘proteccionismo’: “Esse paradigma alternativo, com a sua ênfase em exigências sociais e ambientais, em regras para as taxas de câmbio, e num desenvolvimento puxado pela procura interna, é agora mais fácil de entender. A política comercial não pode ser conduzida isoladamente como foi no passado. Pelo contrário, deve estar intimamente ligada à legislação sobre o mercado de trabalho, o ambiente, os mercados financeiros, e ao reconhecimento de que o comércio determina a natureza da concorrência, a estrutura socioeconómica e o espaço das políticas.”
Num livro publicado em 1997 (figura), Gérard Lafay apontava as fragilidades de uma Zona Euro sem políticas macroeconómicas, algo que a actual crise colocou bem à vista de todos. Aí o autor era muito claro sobre a política comercial que a UE deve adoptar para conseguir sobreviver: “Ao afirmar com clareza a sua identidade através de uma política comercial ofensiva e de relações privilegiadas com a Euroáfrica [UE mais o conjunto dos países contíguos do Norte de África], a União Europeia seguirá a tendência para a regionalização que é cada vez mais evidente nos vários continentes.”
Dani Rodrik também admite neste artigo que, em vez de uma regulação mundial, a via mais acertada é a do reforço das regulações nacionais apoiado por um mínimo de regras comuns à escala internacional. Neste quadro, antevê que se formem blocos de países financeiramente muito integrados (Zona Euro, Ásia), cada um com o respectivo regulador comum. Mais uma vez a ideia de uma via média: regionalizar a globalização.
À atenção dos cidadãos informados, jornalistas de negócios, docentes universitários e … candidatos ao Parlamento Europeu: há mais mundo para além da dicotomia “livre comércio” versus “proteccionismo”.
Tudo bem
ResponderEliminarmas não digam mal do Obama
porque temos lá um cão