terça-feira, 21 de abril de 2009

Ler, ler, ler sempre

O que pode fazer com que um muito recomendável ensaio de história da América Latina, escrito em 1970 e tributário da chamada teoria da dependência, ocupe um lugar cimeiro no ranking de vendas da amazon? Uma simpática prenda de Hugo Chávez a Barack Obama em plena cimeira das Américas. Há algum tempo atrás, um livro de Noam Chomsky, brandido por Chávez numa Assembleia-Geral da ONU, tinha tido o mesmo destino. Fica a recomendação para outros presidentes apostados em promover a leitura de bons ensaístas.

Descobri, através de Rui Bebiano, um excelente leitor, que a edição portuguesa de As Veias Abertas da América Latina de Eduardo Galeano, que tinha sido editada entre nós pela Dinossauro em 1998, está disponível na integra aqui. Não percam. De Galeano foi também publicado, pela «defunta» Caminho em 2002, este livro. Como o mundo continua de pernas para o ar, as penetrantes e tragicómicas observações de Galeano continuam actuais.

E já que estou em matéria de leituras, leiam, para abrir o apetite para outros debates, o excerto do novo livro de Rui Bebiano sobre a Revolução de Outubro: «A revolução é agora um processo em curso, aberto, não um meio fundamentalmente orientado para alcançar um fim último». Como o socialismo? Não me parece é que a «anti-política» de John Holloway, expressão da fuga, infelizmente comum em alguns sectores da esquerda dita radical, a todas as questões difíceis sobre os modelos de Estado, os centros de poder político, os seus exercícios e as suas possibilidade e limites, nos ajude nesse processo. Francisco Louçã explora os limites da economia política de Holloway neste ensaio.

Acho que o mesmo já não se pode dizer de quem aprendeu com a «Era dos Extremos» e continua a viver para nos ensinar: Eric Hobsbawm. Talvez um marxista verdadeiramente aberto seja o que se mistura com o liberalismo político, sobretudo na sua versão perfeccionista: Amartya Sen, Martha Nussbaum ou a pluralidade das instituições e das políticas que permitem o florescimento das capacidades para atingirmos funcionamentos genuinamente humanos. Talvez até seja por aqui que passa o futuro da economia. No fundo, esta sempre foi pouco mais, quer os economistas gostem disso ou não, do que um ramo da filosofia política e moral. Trata-se então de substituir o utilitarismo grosseiro, a opção por defeito do senso comum económico, por uma economia essencialmente humana.

3 comentários:

  1. João, parabéns pelo texto. Eu tenho mantido um debate com o Fernando Alexandre da destreza das dúvidas em que me parece que a defesa que ele faz da manutenção do paradigma no ensino da economia resulta da estranheza de leituras de institucionalistas e evolucionistas. E isso mesmo deixo sugerido aqui http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/04/keynes-regulacao-e-etica-o-novo-papel.html a resposta do Fernando hoje, a um texto anterior meu.
    Um abraço,
    Carlos Santos

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  2. Faltou referir o livro de Galeano "Futebol: sol e sombra". É muito mais que um livro sobre a história do futebol.

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  3. Caro João,

    "substituir o utilitarismo grosseiro, a opção por defeito do senso comum económico, por uma economia essencialmente humana" seja ela " ramo da filosofia política e moral" ou não, é o grande desafio das Ciências e dos Cientistas Sociais.

    Desde que o Homem não se transforme numa ferramenta das suas ferramentas!

    O Homem, em toda a sua plenitude Social e o Homem como unidade métrica indivisível dos sistemas que propõem formas de o integrar nos diversos planos Sociais - comunidades em vez de organizações/instituições!

    A Realidade e o Sonho podem conviver sem as entropias/fantasias ambivalentes que pretendem desintegrar a Humanidade e desagregar a Humanidade do Homem.

    "Homem, torna-te no que és" é o desafio !

    Abraço,
    Miguel

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