sexta-feira, 13 de março de 2009
A voz do dono
Jean-Claude Trichet reagiu a uma carta de Ribeiro e Castro sobre a mensagem de Natal do nosso primeiro-ministro sobre a descida dos juros, com a seguinte declaração "Posso confirmar-lhe que, em total conformidade com o Tratado, as declarações dos decisores políticos a nível nacional não influenciam as decisões do BCE".
Assunto arrumado. Pode Ribeiro e Castro dormir descansado. Na Europa, líder eleito não racha lenha. Sócrates fala sobre os juros e a distribuição de rendimentos, mas a arquitectura dos poderes europeus (que o PS ajudou a instituir) assegura que serão mais palavras vãs.
O que é de digno de registo já não é a arrogância de Trichet, compreensível em quem não vai a votos. O que merece atenção é a conveniência de tudo isto: José Sócrates faz mensagens de Natal para dizer que só o BCE pode resolver os problemas das famílias em dificuldades. O BCE escuda-se na sua invulnerabilidade.
Este pequeno arranjo torna possível um singular fluxo comercial: a exportação de responsabilidades. E, em tempos de crise e campanha eleitoral, esta arrisca-se a ser a grande vantagem comparativa deste Governo, quanto mais não seja porque se trata de uma exportação para a terra de ninguém.
Este novo fenómeno exige da esquerda duas exigências:
1. O fim da independência do BCE em relação ao Parlamento Europeu;
2. A implementação de medidas concretas e corajosas no plano fiscal, laboral e social para a redistribuição de rendimentos, contra a política da exportação de responsabilidades.
Veremos o que dizem os candidatos à esquerda sobre estes dois assuntos. Eu cá, depois deste Natal, estou em pulgas.
1. O fim da independência do BCE em relação ao Parlamento Europeu;
ResponderEliminar-Havia de ser bonito a instituição mais importante da U.E. na dependência de mais de 700 inutilidades, com a agravante de nem todos os 27 fazerem parte da zona Euro.
Caro António Almeida,
ResponderEliminarEu achonselhava-o a ir um bloguezinho que mantenho onde ando a explicar exactamente as implicações dess independência do BCE. Se nunca leu o Tratado da UE recomendo: nunca houve um BC com o nível de impunidade (perdão independência do BCE). E os resultados, como também ando a escrevinhar estão à vista.
Já agora se deputados eleitos são inutilidades que regime político defender?
Carlos Santos
Uma nota adicional sobre o post principal: pessoalmente achei uma atitude desnecessária do Ribeiro e Castro. Obviamente pode haver quem discorde. Mas o que eu gosto em blogues democráticos como o 31, é que a discordância se traduz
- em insultar o mensageiro (eu)
- em impedir que quem quer que seja comente o post.
Democrático não? Perdão pelo link mas alguém pode não acreditar: http://tinyurl.com/bf8qmx
(para além do episódio de manipulação ocorrido no país do extremo mais ocidental …)
ResponderEliminarUm dos argumentos dos defensores da independência do BCE prende-se com o factor da sua ingovernabilidade perante interesses tão diversos como são aqueles dos países membros. Uma opinião que mostra uma total falta de confiança (quem diria!) no funcionamento da democracia da UE e das suas instituições, CE e PE. Além de mais, é estranho que tal ingovernabilidade nunca tenha sido posta em causa quando toca a fazer cumprir o PEC ou qualquer outra directiva.
Fica a interrogação: afinal, que poderes permanecem por trás do BCE?
zé guilherme..o mesmo trauliteiro que andava pelo ISEG de megafone em punho
ResponderEliminarCaro Carlos Santos
ResponderEliminarOs deputados europeus são inutilidades por serem mais de 700 e não por serem eleitos, obviamente que defendo a democracia, mas não uma eurocracia burocrática.
Caro António de Almeida,
ResponderEliminarAs 700 inutilidades são as únicas que são eleitas pelos europeus. Por outro lado, não se pode dizer que os déspotas andem particularmente esclarecidos.
Caro anónimo,
O seu insulto não-identificado revela muita inteligência e frontalidade. Para quem chama "trauliteiro" aos outros, não está nada mal.