sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Quando os fins justificam os meios (II)

Adicionalmente, no meu artigo do Público citado atrás e também aqui, relatei a convergência entre a direita (PSD e CDS-PP) e o PS em matéria de produção legislativa, durante a presente legislatura.

Segunda as estatísticas das votações parlamentares durante esta legislatura, coligidas pela jornalista do DN, Susete Francisco, o PSD (em mais de 50% das propostas) e o CDS-PP (em mais de 40%) aprovaram a maioria das propostas de lei do PS (ao contrário do BE e do PCP/CDU).

Interpretei assim esta convergência ideológica:
“Se o PS tem maioria absoluta e não precisa do seu apoio, excepto em leis de 2/3, porque carga de água iriam PSD e CDS apoiar as suas propostas de lei? Muito simplesmente porque, em muitos casos, o PS tem adoptado as políticas que antes defendiam e, por isso ser tão evidente em tantas áreas, tiveram que votar a favor para não se descredibilizarem. E a inflexão centrista é um dos factores que melhor explica o crescimento das forças à esquerda do PS.”

A resposta de RPP foi:

“Em segundo lugar, diz André Freire, o facto de PSD e CDS terem votado favoravelmente vários diplomas do actual Governo indicia uma convergência doutrinária entre estes e o PS. O raciocínio é, no mínimo, um pouco elementar. Por um lado, porque o sentido das votações dos partidos com possibilidade de participação na governação tende a ser diferente do dos partidos que se auto-excluem dessa mesma governação.”

Uma resposta surpreendente, para dizer o mínimo. Ou seja, para RPP não existem efectivamente diferenças relevantes entre esquerda e direita, o que conta mesmo é a diferença entre governo e oposição (mais na linha da tradição à Westminster do que na tradição da Revolução Francesa).

Só que, na concepção de RPP (completamente à revelia do modelo de democracia de tipo Westminster ou outro qualquer!), o governo não é apenas o governo do momento: são todos os partidos que estão presentemente ou alguma vez estiveram no governo (PS, PSD, CDS-PP), os quais por sua vez se opõem aos que sempre estiveram na oposição (BE e PCP, etc.). Portanto, para RPP a verdadeira clivagem política não é entre esquerda e direita mas sim entre governo (PS, PSD e CDS-PP, estejam ou não todos no governo em cada momento) e oposição (BE e PCP, etc.). Sem o perceber, só me dá razão: isto é a teoria do bloco central (alargado: com o CDS-PP) na versão mais generosa e alargada que já vi.

1 comentário:

  1. Excelente texto André.
    Deixa pouco por dizer.
    Eu só me pergunto porque não tira o governo dito do PS mais partido de gente que sabe o que é o socialismo como Jorge Sampaio, e que recentemente foi capaz de perceber a crise antes de Soros e do BCE?
    Vale o que vale, mas fica o meu elogio:
    http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/02/jorge-sampaio-e-solidariedade-na-uniao.html

    Um abraço,
    Carlos

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