sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
A leste nada de novo
Pedro Lains recomenda-nos o estudo da profunda crise económica que os países do Leste europeu sofreram nos anos noventa. Eu (vá-se lá saber porquê) prefiro continuar a debruçar-me sobre o presente. No entanto, é interessante perceber o que une a actual crise global, que está a afectar de sobremaneira estes países, com o que aconteceu nos anos noventa. Neste período, estes países seguiram a terapia de choque, de privatização total e imediata das suas economias colectivizadas, recomendada por economistas tão famosos como Jeffrey Sachs ou John Williamson. Sem poupanças internas, estes países foram obrigados a vender os seus activos ao desbarato nos mercados de capitais internacionais. Além das devastadoras consequências que este processo imediatamente implicou (desindustrialização profunda, quebra abrupta do PIB, colapso dos esquemas de apoio social e, mesmo, uma redução significativa da esperança média de vida), este período marcou a configuração das suas economias até hoje.
Uma dessas marcas foi o quase monopólio do sistema financeiro por parte da banca estrangeira. Estes bancos replicaram então o seu comportamento nativo e embarcaram na actividade, altamente lucrativa, de empréstimos imobiliários “subprime” às famílias. Este processo, tal como aconteceu nos EUA, só foi possível graças aos novos instrumentos de titularização das dívidas, que, teoricamente, permitiam a dispersão do risco e à ajuda do braço financeiro do Banco Mundial, o IFC, que disponibilizou mais de 3,1 mil milhões dólares para projectos de empréstimos titularizados às famílias na América Latina e no Leste Europeu. Todavia, estes empréstimos diferiram dos exemplos anglo-saxónicos num ponto muito importante: a moeda em que eram realizados não era a nacional, mas sim a dos países de origem dos bancos. É, pois, normal uma família letã deter empréstimos em euros, francos suíços ou dólares.
O insustentável endividamento externo aliado à explosão da bolha especulativa no mercado imobiliário, insuflado por este processo, colocaram estes países perante os problemas de incumprimento de contratos já conhecidos nos EUA. Contudo, as profundas desvalorizações das moedas dos países de leste tornam os empréstimos e o seu pagamento muito mais caros às famílias que a eles recorreram. Se acrescentarmos a queda das exportações e remessas que a crise global está a provocar, temos a receita para o caos.
Mas se as perspectivas já são negras, mais negras se tornam com a condicionalidade imposta nos empréstimos de urgência do FMI. Ao contrário do recomendado em todos os países desenvolvidos, estes países são vítimas das mesmas obrigações que tão má fama deram ao FMI, como a disciplina fiscal ou a redução das pensões sociais. Bem prega Frei Tomás...
Este post é devedor do trabalho em curso do economista Paulo dos Santos.
Não só subscrevo totalmente o seu post como coloquei há pouco uma tabela elucidativa do que diz em:
ResponderEliminarhttp://ovalordasideias.blogspot.com/2009/02/crise-no-leste-europeu-pais-pais.html
Um abraço,
Carlos Santos