Entre a pergunta de José Medeiros Ferreira, dirigida a dois blogues com perspectivas distintas sobre a Economia, e a provocação insinuadora de Pedro Lains (PL), dirigida apenas ao Ladrões de Bicicletas, vai a diferença entre um debate plural que não vai certamente parar e uma discussão que, tal como foi colocada, não tem ponta por onde começar.
No entanto, vou fazer de conta que a pergunta de PL - «Devem as universidades e o debate académico servir a luta partidária e pelo poder?» - caiu do céu, sem contexto e sem emissor. Sem um contexto de visível défice de pluralismo na Economia que muitos têm denunciado e que outros pretendem perpetuar (a palavra-chave é mesmo pluralismo). Sem um emissor que, de forma recorrente, tenta desqualificar este blogue e os que nele escrevem através do mais gasto dos truques ideológicos: a ideologia está sempre nos «outros».
A pergunta acima mencionada só tem uma resposta rápida. Uma universidade que serve «a luta partidária e pelo poder» deixa de ser uma universidade. Passa a ser outra coisa qualquer. E os que promovem estes processos deixam de ser universitários e passam a ter outras prioridades: ganhar dinheiro, acumular poder, obter prestígio, etc.
No entanto, é importante identificar o que hoje pode fazer com que a universidade deixe de ser universal e «passe a ser uni-versal: um só verso, um só lado». Ainda Miguel Vale de Almeida: «O conhecimento social e politicamente recompensado e acarinhado passou a ser o conhecimento aplicado e instrumental sobre as empresas; e as faculdades social e politicamente recompensadas e acarinhadas passaram a ser aquelas que mais consigam articular-se com o poder económico e político. As reformas universitária e científica serviram, aliás, para confirmar, consolidar e incentivar esta tendência».
José Maria Castro Caldas identificou, em artigo, algumas das forças que hoje erodem a integridade institucional necessária para a produção e difusão do conhecimento científico: «A ‘modernização’ que se tem em vista passa por forçar a universidade a ir ao ‘mercado’ vender os seus ‘produtos’. O ideal de referência é o de uma universidade ‘mercadorizada’».
Para quem continua a aderir ao liberalismo económico, nada disto tem grande importância. No fim ficam duas perguntas. Deve a universidade servir os poderes económico e político? Onde foi gerado o que o próprio Pedro Lains designou por «Consenso da Almirante Reis», ou seja, a versão portuguesa do neoliberalismo?
Portanto a resposta à pergunta que fiz é não. Estamos por isso de acordo. Quanto ao facto de eu ter detectado o tal "consenso da Almirante Reis", o que é correcto, e depois fazer a pergunta que fiz. É uma contradição? Não. O que se passa é que as pessoas vão tendo opiniões de um lado e de outro. Não somo classificáveis. Não há uma coisa como os "economistas neo-liberais" e os outros economistas. É mais complicado do que isso. O mundo não se divide por classes. Acho eu. Mas não sei se isto ajuda. O que é importante é que estamos de acordo quanto à ideia de que as universidades e debate académico não deverem servir a luta partidária. Pelo menos todos os dias...
ResponderEliminarTalvez seja interessante ler o artigo de Isidoro Moreno, Professor Catedrático da Universidade de Sevilha, que editei em A Nossa Candeia a que podem aceder em: anapaulafitas.blogspot.com
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