Continuo a reproduzir a minha coluna do Público, 19/1/2009, intitulada “O esquerdismo na Europa após a guerra fria”, onde, baseado em Luke March, abordei o perfil das várias correntes “esquerdistas” e as razões do seu sucesso (ou insucesso) relativos.
Com a queda do muro de Berlim e o colapso do socialismo soviético, as correntes esquerdistas europeias têm mudado bastante. Continuam bastante diversas, mas algumas renovaram-se bastante e, no conjunto, apresentam graus de sucesso diferenciados. O estudo aborda vários tópicos que não posso cobrir aqui. Abordarei hoje o perfil das várias correntes e as razões do seu sucesso relativo.
Luke March define os partidos esquerdistas (“far left”) como aqueles que se definem a si mesmos como estando “para a esquerda”, e não apenas “à esquerda”, dos social-democratas, os quais consideram não serem suficientemente de esquerda ou serem sequer de esquerda.
E separa-os em duas grandes categorias. Primeiro, os “partidos da esquerda radical”: defendem mudanças radicais no sistema capitalista. Embora muitas vezes designados por “extremistas” pelos seus opositores, aceitam a democracia, embora combinem tal aceitação com aspirações “muitas vezes vagas” no sentido da democracia participativa. O seu “anti-capitalismo” envolve fundamentalmente uma oposição à globalização neoliberal associada ao “consenso de Washington” (liberalização do comércio, mercadorização da sociedade, privatizações, etc.), mas já não defendem uma economia planificada, antes uma economia mista. A esmagadora maioria inclui-se neste grupo: 18 em 24 partidos da UE, Islândia e Noruega.
Segundo, os “partidos da extrema-esquerda” (6 em 24) são aqueles que têm maior hostilidade à democracia liberal, renunciam usualmente a qualquer compromisso com os “partidos burgueses”, incluindo os social-democratas, enfatizam as lutas extra-parlamentares e o seu “anti-capitalismo” é bastante mais profundo do que o do grupo anterior (as lógicas de mercado são um anátema).
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