sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Negócio do costume ?

“Não simpatizo com Madoff. Mas o fato é que o seu alegado esquema Ponzi foi apenas ligeiramente mais vergonhoso do que o esquema “legal” que Wall Street conduziu, alimentado pelo crédito barato, parâmetros medíocres e uma enorme ganância. Que nome dar para o fato de se dar a um trabalhador que ganha US$14 mil por ano uma hipoteca sem entrada e sem prestação por dois anos, para comprar uma casa de US$750 mil e depois transformar essa hipoteca em bônus - que a Mooddy’ s ou a Standard & Poors classificam como títulos AAA - vendendo-os depois para bancos e fundos de pensão pelo mundo todo? Era isso o que o nosso sector financeiro estava fazendo. Se não se trata de um esquema de pirâmide, então o que é? Longe de estar fundamentado nas melhores práticas, este esquema Ponzi legal teve por base os corretores hipotecários, pacotes de bônus, as agências de classificação, os vendedores de títulos e os proprietários de imóveis, todos trabalhando segundo o princípio IBG (“I’ll be gone” - já terei partido) quando os pagamentos vencerem ou a hipoteca tiver de ser renegociada.” (Ver o artigo aqui)

Interrogo-me sobre o que irão ensinar no próximo ano lectivo os MBA, Mestrados e Doutoramentos em Finanças. Ter-se-á aprendido alguma coisa com a crise ? Inclino-me para a hipótese "negócio do costume" (nos programas das disciplinas ... e nas propinas).

24 comentários:

  1. A quem possa interessar, transcrevi para o meu caderno de apontamentos

    http://aliastu.blogspot.com

    um artigo publicado no Washington Post, em três partes: THE CRASH: WHAT WENT WRONG.

    Quanto à pergunta final colocada a seguir à parte transcrita, observo que no LdB continuam a pensar que a crise teve a sua origem nas escolas de economia e gestão (a má teoria, segundo OS CINCO)e, portanto, é de lá que tem de partir a correcção do sistema.

    Nada mais errado.

    Do esquema Ponzi já foram experimentadas milhares de variantes; em Portugal, não é preciso ser muito velho saber quem foi a Dona Branca.

    Ora a Dona Branca não tirou MBA, não sei mesmo se tinha feito a quarta classe.É,portanto, errado pensar-se que o ensino justifica o roubo e que alterando-se o ensino se elimina a ladroagem.

    Comentei há dias neste blog neste sentido mas fiquei a falar sozinho.

    Haverá suficiente bondade da vossa parte deste vez para contraditar o meu desacordo?

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  2. Acho que o Sr Rui está errado na sua crítica, não é uma questão de o ensino da economia levar à crise, é uma questão da crise mostrar que o ensino está errado, que se aprendem teorias erradas, e que se devem melhorar e reformular as teorias...

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  3. Tiago Santos,

    Teorias erradas nao sao teorias. Serao, quanto muito, fantasias.

    Os esquemas Ponzi nao sao fantasias.
    Sao roubos e como tal deverao ser tratados.E prevenidos. Sao casos de policia, de tribunais e nao de economia e gestao.

    (desculpem a falta de til. De vez em quando tenho os acentos e as cedilhas esgotados)

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  4. «Era isso o que o nosso sector financeiro estava fazendo«

    Jorge bateira, és Brasileiro?

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  5. Rui Fonseca,

    Então a minha conclusão é que nos cursos de economia e gestão se ensinam muitas fantasias...

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  6. Não, Tiago Santos, o que v. disse é que se ensinam teorias erradas.

    Eu não sei o que é uma teoria errada. É um flop? É um logro?
    Não há verdades absolutas e todas as teorias (se o forem) têm de admitir a comprovação do erro. Mas uma vez detectado o erro, a teoria ou é abandonada ou corrigida. A teoria errada, era.

    O que implica estarem todas as teorias sujeitas à sua comprovação permanente.

    Até que o erro seja detectado e a teoria corrigida,é tida como boa e assim ensinada, a teoria que afinal estava parcialmente, ou totalmente errada (ou imperfeita).

    Não foi o que aconteceu. A montagem dos chamados produtos financeiros tóxicos, que potenciaram a crise, não decorreu da ignorância de que a teoria estava errada mas do aproveitamento das circunstâncias que levaram ao crime generalizado de abuso de confiança.

    Na teoria não foram detectados erros mas actos, pelo menos eticamente condenáveis, que aproveitaram a quem os praticou.

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  7. Corrija, sff, o último período:

    Não foram erros detectados na teoria que justificam os actos, pelo menos eticamente condenáveis, que aproveitaram a quem os praticou.

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  8. Quanto mais leio mais orgulho tenho de ter sido aluno do ISCEF/ISE na década de 70. Se todos tivessem lá estudado...
    Bom 2009.
    Raul Martins

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  9. Caro Rui Fonseca

    Obrigado pelo dossier The Crash, de que tinha perdido a terceira parte.

    Sobre o seu comentário devo dizer-lhe que a minha posta não lhe permite inferir que alguém neste blogue atribui às teorias económicas, e aos modelos de gestão ensinados nas universidades, "a origem" da crise, ou qualquer justificação para o crime económico.
    Para que não diga que o "deixo a falar sozinho" vou tentar explicar o meu ponto de vista (noutra posta) sobre algo que é bastante complexo.

    Caro Anónimo,

    O artigo citado é de facto uma tradução brasileira o que, tendo a vantagem de ser acessível a quem não lê inglês, tem os riscos associados à tradução(bond = bônus ?!).
    Aqui fica o original:
    http://www.nytimes.com/2008/12/17/opinion/17friedman.html?_r=1

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  10. Grande cambalhota deu este Friedman... ainda só não li a parte em que ele admite que andou a dizer tretas nos últimos 10 anos. De resto há que admirar quem permite que a realidade lhe mude a opinião. Não faltam por aí os irredutíveis.

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  11. ...entretanto, são esses mesmos especuladores que vão encher a barriga com os fundos públicos, atirados à pressa como quem apaga um incêndio.

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  12. certo Rui Fonseca,

    A grande questão aqui é se a crise é causada pela ganância ou se é um erro sistémico da economia capitalista neo-liberal...porque repito que quanto a mim são ensinadas teorias erradas nas faculdades de economia, as provas desses erros aparecem todos os dias, seja com a crise, seja em qualquer super e hipermercado onde nos abastecemos normalmente...

    O problema é que continua a haver quem queira incutir nos estudantes de economia teorias obsoletas e que já deviam de ter passado à história à bastante tempo atrás...

    Esta é a minha percepção, como actual estudante de economia...

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  13. O que se ensina nos cursos de economia está bem á vista.
    Além dos esquemas ponzi, vejam só o que é que os diversos craneos ....(economistas, claro) têm feito para roubar os cidadãos deste país há cerca de 25/30 anos a esta parte.

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  14. "as provas desses erros aparecem todos os dias, seja com a crise, seja em qualquer super e hipermercado onde nos abastecemos normalmente..."


    Tiago,

    Diga-me sff um "erro sistemico da economia capitalista-liberal" detectavel num hipermercado.

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  15. é fácil...a falta de racionalidade nas escolhas dos consumidores...o facto das escolhas dos consumidores não serem feitas com o objectivo de maximizar o beneficio, mas serem feitas com base no impulso ou em escolhas baseadas na falta de informação.
    Pode-me dizer que a ideia da concorrência pura e perfeita é apenas teorica, e eu digo-lhe que se não tem qualquer aplicação prática, então é falsa...

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  16. "erro sistemico da economia capitalista-liberal" detectavel num hipermercado."

    Tiago Santos disse...
    é fácil...a falta de racionalidade nas escolhas dos consumidores...

    Caro Tiago,

    Então v. acha que essa falta de racionalidade nas escolhas é uma
    consequência da doutrina neo-liberal? Da teoria da concorrência?
    Ou de outra "teoria" qualquer parecida?

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  17. Caro Rui...

    Não disse que era consequencia, é um erro porque a análise parte desse pressuposto de racionalidade, que está errado. Ou seja, é fácil chegar a conclusões muito extraordinárias acerca da eficiência dos mercados quando se parte de hipóteses que não sao simplificadoras, são simplistas, e erradas.
    Temos então mecanismo, que o estado tem de promover, para que as pessoas tenham informação o mais completa possível(rótulos e etc...)mas entretanto percebe-se que as hipóteses dos modelos eram inatingíveis, e que a realidade é diferente dos modelos.

    Invalidando os pressupostos iníciais, os grandes dogmas do mercado ficam também inválidos, e percebemos que nada é tão linear como alguns nos tentam fazer crer...

    Esta é só a minha humilde opinião daquilo que vou observando...

    cumprimentos...

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  18. Os defensores da 'besta' continuam na sua desbragada 'demonstração' c'assim é q é bom e,pra males do neoliberalismo só mais neo-liberalismo.Qdo estes viagaristas encartados forem metidos na pildra e reduzidos à sua real representação (a de bando)talvez isto se endireite mas,não é com os mesmos ,q não passam de 'vendedores de pentes'.
    30 anos à 'frente' deste país de corruptos e,o outcome (ah!tb sou versado em inglês técnico)é :'ao estado a qu'isto chegou'com os competentes de economia do Isec ou do raio que os parta.São uma grande merda e,não valem o dinheiro q vos pagam.Mentirosos,incompetentes

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  19. Façam o favor de ler "Gestores, não MBA's" de Mintzberg...

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  20. "a realidade é diferente dos modelos."


    Tiago,

    A realidade é (e será sempre diferente dos modelos), o que não invalida que os modelos não possam (e podem) ajudar a perceber a realidade.

    Errado será confiar cegamente nos modelos. Mas o mesmo se pode dizer a propósito de tudo, não acha?

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  21. Sim, concordo que o mesmo se pode dizer em relaçao a tudo...mas acho que neste caso os modelos são exageradamente separados da realidade...
    Mas concordo consigo, e acho que é por isso que a economia deve ser ensinada de uma forma plural, onde várias concepções e vários modelos se possam misturar.
    Não sou a favor que se tire dos curriculos tudo o que seja do paradigma neoclássico, só penso que este não explica tudo, e que há alternativas e outras formas de pensar legitimas...

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  22. "só penso que este não explica tudo, e que há alternativas e outras formas de pensar legitimas..."

    Tiago,

    Quem é que o impede?

    Eu sou do tempo da outra senhora, do tempo em que havia PIDE, censura, etc. Mas na Universidade respirava-se. Agora não?

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  23. Nas faculdades de economia respira-se pouco...

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