sábado, 15 de novembro de 2008

Um certo paradigma das políticas públicas



Diz ainda Luís Capucha:

«O que está em causa, de facto, não é nem um problema técnico do modelo da avaliação, nem o estilo da governação. O que está em causa é saber se um governo legitimamente eleito pode ou não realizar uma reforma do maior alcance estratégico, sem ceder aos interesses corporativos e/ou políticos de sectores capazes de se mobilizar para paralisar a mudança e manter privilégios ilegítimos.

Errado! Não está em causa a legitimidade política do Governo. O que está em causa, isso sim, é o seu paradigma das políticas públicas. Uma vez mais, recorro a Michel Crozier (p. 19):

"O que significa estratégia? ... Na sua visão organizadora do mundo, o planificador não tem inimigos, sente-se capaz de organizar tudo racionalmente e alcançar plenamente os seus objectivos escolhendo os meios adequados, para não dizer os melhores. Mas os meios, sobretudo quando são humanos, não se adaptam tão facilmente aos objectivos e acabam por bloquear - e ainda bem - a maravilhosa ordem racional. Pelo contrário, o estratega sabe, tem consciência, de que o inimigo pode reagir às suas acções. Por isso, escolhe os seus objectivos em função dos meios, quer dizer, dos recursos de que dispõe e das condicionantes da sua intervenção. Depois, com pragmatismo, procura enfraquecer as condicionantes cooperando da melhor forma com os seus recursos. Dito de outro modo, enquanto o comandante apenas vê o seu plano, o estratega apoia-se na realidade do terreno."

Pois é, no seu "ímpeto reformista", ignorando que os tempos são outros, o Governo comportou-se como um planificador central.

O mais interessante disto tudo é que, paradoxalmente, os críticos deste paradigma de políticas públicas correm o risco de serem catalogados de pró-soviéticos e anti-europeístas.


3 comentários:

  1. Aquele hábito da retórica oficial de fazer equivaler um mandato executivo a uma carta branca governativa...

    É de espantar as dificuldades de diálogo quando a cultura de poder é uma de «quero, posso e mando» por mandato popular?

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  2. Há um ditado popular que diz "Quem sabe, sabe e quem não sabe é chefe", o qual mostra bem a forma como o poder é visto em Portugal.

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